(...) espalhados pelo Mundo. Não pode deixar de sacudir-se o letargismo em que caiu a burocracia de certos serviços, nem de conter-se o zelo intempestivo de outros que se apressaram a reconhecer a conquista para produzir efeitos no seu pequeno mundo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não pode faltar nas instituições sociais o espírito português: não há-de rasgar-se a vetusta bandeira da Misericórdia de Goa, antes há que multiplicar a prática da caridade no seio de todas as comunidades goesas, na perfeita continuidade da obra de redenção dos cativos que está nas raízes das nossas Misericórdias. Não podem perder-se as tradições familiares e aldeãs da gente portuguesa da índia.

Não pode nunca faltar, no interesse omnímodo e permanente da nossa preocupação sentida e da nossa acção eficaz, a presença viva de Portugal.

Muito bem, muito bem!

O Orador: - A proposta de lei que discutimos é um grito de alma de um povo que quer manter, perante a agressão do inimigo exterior, a unidade e a integridade da Pátria. E neste espírito que, emocionadamente, dou à proposta de lei em discussão, segundo o texto sugerido pela Câmara Corporativa e também adoptado pela nossa Comissão de Legislação e Redacção, o meu voto na generalidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas a própria defesa da integridade da Pátria não estará segura se não cuidarmos, como se impõe, da coesão e da firmeza da frente interna.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nós queixamo-nos do escândalo do Ocidente, que não quer ver o assalto comunista a processar-se, no plano internacional, à sombra da bandeira do anticolonialismo e do neutralismo. Queixamo-nos, e temos razão.

Mas paradoxalmente não vemos, ao menos não vemos com a clareza bastante, o mesmo inimigo, no plano interno, quando ele assalta no mar os nossos navios, quando assalta nas escolas o rumo da juventude, quando assalta em certas páginas literárias a consciência do povo, quando assalta os nossos soldados nos quartéis.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador:- Não vemos o inimigo na camuflagem do boato, na ilegítima invocação de nobres foros académicos, na sacrílega confusão de certo progressismo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: :- Não vemos o inimigo quando interpomos a barreira de um sentimentalismo suicida entre o crime e a punição.

O comunismo conduz hoje contra Portugal uma guerra revolucionária que se integra, sempre, na planificação marxista da revolução universal: quer se processe na verborreia idiota da O. N. U., quer no genocídio trágico de Angola, quer na rapina que se abate sobre Goa, quer nas mil tentativas de ordem interna, desde a pacífica conquista dos postos de influência às tácticas dos períodos eleitorais, às arruaças e aos surtos revolucionários.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A mobilização dos portugueses, para a legítima defesa nesta guerra, tem de fazer-se com a mesma coragem e o mesmo querer que nunca nos abandonaram nas grandes horas da história.

Nem nos faltam a gigantesca grandeza moral de um Chefe nem as virtudes da grei, patentes no sangue fresco de tanta juventude que tem sabido bater-se e morrer no seu posto a servir Portugal.

Vozes: - Muito bem!

Pois a aprovação desta lei, na Assembleia Nacional, significa que sobre o silêncio de uma conquista se inicia, já, a alvorada de uma libertação.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Sobre nós; depois de nós, sobre cada geração de portugueses até que se cumpra, impende, desde agora, este mandato: libertar Goa! Demorará dias? Demorará séculos? Será o tempo que for.

Já na perspectiva da história ninguém poderá dizer que, plantando nas areias de Leiria o pinhal das naus, não foi também el-rei D. Dinis à descoberta da Índia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Vaz Nanes: - Sr. Presidente: saúdo V. Exa. e faço votos para que obtenha os maiores êxitos na elevada e importante função que exerce nesta Assembleia.

A sua eleição, Sr. Presidente, consagrou o invulgar merecimento de V. Exa. como professor e político, merecimento já tão brilhantemente proclamado pelos Srs. Deputados que me têm antecedido no uso da palavra. E porque não reconheço em mim especial valia que me garanta dar relevo à personalidade de V. Exa. de forma mais singular ou luzida, limito-me a qualificar de justíssimas os referências em realce da pessoa de V. Exa. que se têm feito ouvir nesta sala.