(...) em 2 de Dezembro de 1927 no Congresso do Partido Comunista, ao aludir à profecia de Lenine sobre a forma de retardar, através das revoluções coloniais, até o ponto culminante, a guerra que supunha inevitável com os países capitalistas ...
E se fosse preciso lembrar mais e reparar em mais ..., chegaríamos talvez a ponto de cairmos fulminados de espanto.
Que tremendo sarcasmo cuspido na face da boa lógica e da recta consciência dos homens.
Que é a O. N. U. ?
Uma sociedade que se constituiu para assegurar o respeito entre as nações e que deixa as mais fortes desconsiderarem e agredirem as mais fracas.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Um organismo que se criou para consolidar a paz e que não evita a guerra e até a desencadeia, conforme as conveniências da ocasião contra as conveniências da justiça.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Que é a O. N. U.?
Uma autoridade sem autoridade, uma força sem moral, uma falência que teima, um escândalo que persiste.
Na assembleia geral, a ditadura do número.
No Conselho de Segurança, a ditadura do veto.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Duas ditaduras, duas vontades totalitárias funcionando sempre num único sentido, com pormenores mais ou menos democráticos à mistura.
A União Indiana fez tudo para ser condenada como agressora. Até não fugiu à prática de todas as circunstâncias agravantes. Nem sequer evitou, durante o desencadear da agressão, a presença e a assistência de um alto marechal da política soviética.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - A União Indiana foi expulsa da O. N. U.?
Houve algum tribunal para julgar estes criminosos de guerra, que sem Carta ou contra a Carta zombam da O. N. U. e continuam indecorosamente no seio dela, tomando parte em discussões e moções?
Não!
Dessa O. N. U., que pede para colocar observadores em Angola e os não coloca do lado onde está para ficar com armas e bagagens; ...
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - ... que não impediu, como deveria ter impedido e era sua indeclinável obrigação, o ataque de que fomos alvo; que não se preocupa com a Letónia, Estónia, Lituânia, Hungria e tantas outras nações ...
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - ... subjugadas ou desfeitas, para se preocupar insistentemente com alguns bandos de terroristas açulados do exterior; que esquece que estes mesmos terroristas são agentes de crimes atrozes para os apresentar como vítimas de uma repressão injustificável; ...
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - ... que só investe com os que não têm força e recua perante os que a têm: dessa O. N. U. incapaz de realizar-se, nada de bom ou de razoável temos a esperar.
Assim e a defrontar neste transe o inimigo, que é tão inimigo de Portugal como do Ocidente, ficamos nós, inequivocamente nós, resolvidos a lutar até o fim, com a amiga Espanha a nosso lado, cavalheiresca, grande, imensa, no solidário abraço de irmã no génio, na razão e na vontade.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Vendo isto, alguns dos nossos, menos dotados de fibra tenaz ou de reservas de consciência, parecem vacilar. Raros são, mas urge segurá-los.
Resistimos no passado a provas bem duras. As tormentas desencadeadas contra a nossa capacidade de povo empreendedor e corajoso não conseguiram torcer ou apagar a linha do nosso destino. Não são agora os ventos artificiais dirigidos contra a plurissecular permanência portuguesa nos vários continentes que hão-de lograr abalar-nos, ou dividir-nos, ou reduzir-nos à faixa da Europa, aliás credora do respeito e da gratíssima admiração universais pelos novos mundos que deu ao Mundo.
Cuidado com a propaganda que nos procura minar e destruir. Ela hoje diz uma enormidade. Quem a ouve reage. Mas amanhã, e depois, e continuadamente, essa enormidade repete-se. Passado tempo, nem todos reagem já com o mesmo vigor, e por fim algumas consciências, à força de terem sido amolecidas, dispõem-se à rendição.
Acentuo: cuidado com a propaganda que nos procura minar e destruir.
Vozes: -Muito bem!
O Orador: - Também não se compreende que qualquer de nós raciocine contra o que é evidente, e o que é evidente, e por isso mesmo indiscutível, é o dever que se nos impõe de fazermos tudo para que as gerações futuras não nos acusem de lhes termos deixado um património diminuído e vilipendiado, além de que não nos é lícito abandonar populações do nosso conjunto humano à ruim sorte de destinos fabricados, à última hora e sob pressões trepidantes e amotinadas.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Neste ponto, quem criticar o Governo critica a vontade nacional.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - Acresce - e quero dar a esta nota um cunho de esperança muito viva- que podemos colocar num dos pratos da balança as forças de que dispomos e as que se nos podem juntar.