mente erguida, mas a que faltava um verdadeiro e autêntico princípio informador.

O cardeal Gouveia soube realizar-se em valor nos múltiplos aspectos da sua vida apostólica, porque nele havia, a par de uma inteligência culta, uma vontade forte e sempre ordenada para o ideal supremo a que totalmente sê consagrara.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Na Diocese do Funchal, exercendo o magistério no Seminário e na assistência espiritual a várias organizações católicas, em Roma, como reitor do Colégio Português, imprimiu sempre o selo da sua personalidade sem deixar de ser o amigo afável e caridoso para todos quantos dele se aproximavam.

Nele sempre existiu o sentido ecuménico da nossa portugalidade.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - O sen maior desejo era ter no seu colégio alunos de todas as parcelas dó território nacional, do Minho a Timor, para que na capital da cristandade representassem a unidade da Pátria na multiplicidade das raças que a constituem.

Foi, porém, em Lourenço Marques que a projecção da sua vida mais se estendeu e firmou ao serviço de Deus e da Pátria.

Ao aceitar a nomeação para prelado de Moçambique, reconheceu que encetava o caminho doloroso do seu martírio. Assim o afirmou quando nos disse a nós, seus discípulos, que em sonhos se vira a subir um calvário, carregando aos ombros pesada cruz. Nem por isso esmoreceu; antes se abraçou com ela, oferecendo generosamente a sua vida por Deus e por Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Dilatar a Fé foi sempre para os bons portugueses o mesmo que consolidar o império; e por isso o arcebispo de Lourenço Marques se esforçou por levar para Moçambique o maior número possível de missionários, sacerdotes e religiosos, para que o Evangelho autêntico pudesse ser pregado aos filhos daquela vasta província. Sempre que Sua Eminência vinha à metrópole, percorria em peregrinação apostólica as dioceses, pedindo amorosamente lhe fossem cedidos operários para a vinha que o Senhor lhe confiara. E são muitos os que lá se encontram a trabalhar, levados pela caridade do bispo para com o seu rebanho. Mas quantos, quantos mais ainda, são precisos para plena realização da obra de evangelização que Deus nos confiou?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Foi notável e valiosa a sua acção na efectivação do acordo missionário de que surgiu o estabelecimento da hierarquia eclesiástica nas nossas províncias em África.

Grande foi também a obra que realizou em prol da educação da juventude moçambicana, abrindo escolas, seminários e colégios para pretos e brancos.

Vozes: - Muito bem!

Ò Orador: - A coroar toda a sua acção de verdadeiro bispo missionário, Pio XII, em consistório secreto de 18 de Novembro de 1946, eleva a cardeal presbítero o Sr. D. Teodósio de Gouveia.

Se as suas altas qualidades lhe mereceram essa grande honra, com ela vinha também, e sobretudo, a consagração solene da Igreja do espírito missionário de Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A púrpura que caía dos ombros do nosso cardeal Gouveia fora tecida pelas mãos em sangue dos nossos missionários, que, em martírio por terras longínquas e inóspitas, souberam criar novas cristandades, amalgamando-as suavemente sob a bandeira sagrada das quinas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A onda assustadora que ameaça soçobrar o Mundo numa nova barbárie querem alguns chamar-lhe ventos, da história. Creio, porém, seja antes verdadeiro furacão desencadeado pela insânia e maldade dos homens, ofuscados na inteligência para não aceitarem a verdade e a justiça, pervertidos na vontade para repudiarem o bem e o amor.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se é certo o aforismo natura non facit saltus, também a história nos ensina que os seus ventos, para serem benéficos à humanidade, têm de soprar adentro' de uma casualidade lógica dos factos, e nunca em desintegração total de princípios sempre válidos no tempo e no espaço.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O vendaval deixará, sem dúvida, atrás de si cinzas e ruínas, nos corpos e nas almas, mas depois seguir-se-á a bonança, porque acima de tudo e para além de tudo triunfará a verdade.

O cardeal Gouveia foi lutador acérrimo contra todas as ideias que tentassem negar ou subverter os direitos de Deus e da Pátria e jamais no seu espírito ou na sua acção, os atraiçoou.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Encarnou em toda- a sua vida, por onde quer que a Providência o tivesse levado, a alma de Portugal, sempre igual a si mesma, tanto nas horas altas de glória como nos dias tristes do sofrimento e amargura.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Trazia sempre consigo uma mensagem de lusitanidade que transmitia às gentes que o viam e escutavam. Não uma lusitanidade falsa em que o egoísmo domina em desfavor dos interesses da grei; talvez por esse motivo nem sempre foram compreendidas algumas das suas atitudes e palavras. Palpitava-lhe o coração por um Portugal maior e engrandecido.

Deu-se todo à Igreja e à Pátria, sacrificando a uma e outra a sua própria vida.

Como é belo e comovedor o testamento que faz à sua diocese de si mesmo!

Foi por ocasião do seu jubileu episcopal.

O governador-geral da província, almirante Sarmento Rodrigues, dirigiu-lhe uma saudação, afirmando que «na sua longa e operosa vida de missionário ao