O Orador: - 2) Embora o Brasil constitua o principal destino da emigração portuguesa, o certo é que muitos milhares de emigrantes se têm dirigido para outros países. Ora esta dispersão significa alto prejuízo para a Mãe-Pátria, na medida em que anula a possibilidade de permanência nas ligações à terra de origem.

O Sr. Augusto Simões: - V. Ex.ª dá-me licença:

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Augusto Simões: - V. Ex.ª sabe que talvez mais impressionante do que a emigração para o Brasil é precisamente a emigração para a França, pois é para lá que vão os melhores valores e os melhores braços portugueses, com verdadeiro prejuízo para nós, que os perdemos.

O Sr. Herculano de Carvalho: - E também para o ultramar.

O Sr. Augusto Simões: - Quando digo «nós», quero dizer também «ultramar», pois considero na expressão todo Portugal, de que não distingo parcelas.

O Orador: - Muito obrigado a V. Ex.ª, Sr. Deputado Augusto Simões, pela achega que me deu.

O Sr. António Santos da Cunha: - V. Ex.ª não diz nesses, números, ou pelo menos eu não ouvi, o que se passa com a emigração clandestina, que deve pesar imenso no aspecto social e económico, com consequências funestas, como já aqui foi apontado.

A emigração clandestina, tem um efeito enorme no Norte.

O Sr. Quirino Mealha: - E no Algarve também.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Vasques Tenreiro: - V. Ex.ª sabe perfeitamente que eu sou defensor do encaminhar de portugueses para o ultramar, uma vez que os portugueses da metrópole são muito necessários ao ultramar ...

Mas pergunto: porque é que de há muito tempo essa rota se faz para o Brasil, Argentina, Venezuela, etc., em lugar de ser para as nossas províncias ultramarinas?

É porque, certamente, os portugueses não encontram lá as necessárias condições de atracção.

É este o problema.

Outro problema é o seguinte: antes mesmo de pensarmos que as nossas populações devem ir para o ultramar, é preciso considerar que há muitos locais na metrópole onde se podem colocar os excessos de população existente.

Enquanto não for dada uma resposta a isto, não podemos condenar as populações portuguesas por irem para os países a que há pouco me referi.

O Orador: - Começo por responder à última parte das considerações de V. Ex.ª, porque vejo que V. Ex.ª não esteve com atenção ao que eu disse atrás.

Eu disse que pensava que a reorganização agrária, a industrialização, o reajustamento dos sectores terciários, etc., permitiriam a absorção de. populações, mas que estava convencido de que, não obstante este equilíbrio, ainda tínhamos excedentes demográficos.

Quanto à primeira questão, se V. Ex.ª fizer o favor de estar com atenção ao que vou dizer, encontrará talvez resposta às considerações de V. Ex.ª

O quadro que a seguir se arquiva, relativamente aos principais países de destino da emigração portuguesa na última década, é elucidativo:

Países de destino

(a) A emigração para Canadá anterior a 1956 encontra-se englobada em «Outros países».

Fonte: Belelim das juntas de migração 1960. A emigração familiar tem hoje certo peso no volume da nossa emigração.

Assim, nos emigrantes de 1960, 16 080 saíram isolados e 16 238 em família. Dos isolados, 5339 eram do sexo feminino. Por outro lado, o número de emigrantes pertencentes, nos grupos profissionais, ao sector das «ocupações domésticas», tem sido notavelmente elevado nos últimos anos. Trata-se, em boa parte, de mulheres que se vão juntar aos chefes de família, já emigrados.

Esta emigração familiar representa uma perca para Portugal, dado que os deslocados se irão fixar decisivamente nos países de imigração. Daqui uma diminuição nas remessas dos emigrantes. Ora estes invisíveis constituem, pelo menos em determinados períodos, a

principal justificação económica da emigração portuguesa.

O que, tudo visto, Sr. Presidente, ainda aqui nos permite concluir que, se é inevitável a deslocação de populações para fora da metrópole, estas devem ser dirigidas para os territórios portugueses do ultramar.

Sr. Presidente: ouve-se, por vezes, o seguinte raciocínio:

Os portugueses chegaram a Angola em 1484 e a Moçambique em 1498;

Volvidos mais de quatro séculos e meio, é relativamente modesta a presença branca nos nossos territórios ultramarinos e incipiente a perspectiva de uma grande sociedade multirracial evoluída;

Logo, o secular esforço português não tem sido dos mais notáveis.