responsáveis dos destinos do Ocidente cederam aos ventos da história e ao sopro dos interesses materiais e nós vamos ficando sozinhos, sós com a nossa razão, sós e firmes na segurança do nosso direito, mas naturalmente esclarecidos quanto à força das nossas forças, se houvermos de compará-las com aquelas que se desencadeiam contra nós ou se as avaliarmos no ingentíssimo esforço que há-de exigir-se-lhes no decurso destes tempos mais próximos. Nem os homens, nem as armas, nem a disciplina dos conjuntos poderiam bastar a qualquer exército se o todo não estivesse impregnado de um sagrado fogo de alma que tivesse tanto desprezo pela cobardia como pelo impossível e tão alto o sentido da acção como consciência da missão a cumprir.

É este facho de heroísmo e de combatividade, este sentido de presença e de actuação, este inculcar de unidade e de firmeza que o Sr. Ministro do Exército tem ido reactivar junto de todos quantos se não conformaram em 1926 com a derrocada da Pátria e se não conformara hoje com as traições que do exterior nos vêm e para as quais nem todos os ouvidos têm sido moucos no plano da nossa vida interna.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Bem haja, Sr. Ministro do Exército, quando vai acicatar a autoridade e a responsabilidade dos seus homens de armas lembrando-lhes que o nosso império espiritual tanto levava a cruz nas velas dos navios como nas mãos dos sacerdotes, como a levava ainda nos copos das espadas dos alferes e dos almirantes, pois que em tudo isso se amassou e se cimentou a Pátria Portuguesa!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Bem haja até, Sr. Ministro do Exército, pelo extraordinário exemplo que está dando, exemplo de convivência castrense - que é hoje sinónimo de atitude anticastrista -, lição de encontro de energias e de resolutas decisões, atitude de confiança e de determinação, presença de homem de guerra junto dos seus camaradas, pois em guerra estamos, e os arraiais amolecem na ausência dos chefes e esvaem-se na penumbra dos gabinetes das congeminações.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - As espadas fizeram-se para brilhar ao sol dos perigos e das esperanças, e o Exército é sempre símbolo de vida e de acção heróica e educativa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Perdoe-se-me o atrevimento de ir um pouco mais longe. A nossa vida colectiva parece andar sofrendo de uma grande paralisia na acção, em contraste com a intensidade das emoções por que justamente está passando a nossa vida comunitária. É certo que não podemos andar aos gritos pelas ruas nem a simular heroísmos de pouca dura e fraco alcance, mas o espírito de aburguesamento, a atitude paisana nos rudes dias de hoje, não se coadunam com as exigências desta hora definitiva que a Nação Portuguesa está vivendo.

O Orador: - O Sr. Ministro do Exército quer que o Exército esteja de pé, activo e presente e em vigília de armas, e esse é o preito da mais alta homenagem que pode prestar-lhe, esse é o melhor louvor que lhe pode levar com a sua presença e com a sua palavra. Presente ele está em cada dia nos quartéis e nas unidades, como presentes estarão aí a lembrança e a memória do seu camarada de trabalho tenente-coronel Jaime da Fonseca, que morreu exactamente por querer estar presente onde entendeu que o seu dever o chamava.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: sinto esta Câmara viva, apaixonada e decidida a levar a bom termo uma missão que evidentemente se enquadra no plano das grandes, indispensáveis e inadiáveis tarefas do nosso tempo. Penso que como eu os senhores Deputados, tão ansiosos de novos feitos e de mais altos cometimentos, hão-de considerar justo um voto de saudação e de encorajamento ao Ministro descontraído e simples, mas activo e vigilante, que ajuda a forjar as armas e a temperar as almas com que hão-de bater-se por Portugal os soldados do exército português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Só desejaríamos que o exemplo do general Mário Silva, que é também o exemplo de um professor Adriano Moreira ou de um engenheiro Arantes e Oliveira, só desejaríamos, digo, que esses exemplos fossem comunicativos, tornando-se o Poder menos burocrático, menos distantes os governantes, menos burguesa a Revolução e menos paisano o estado de espírito de cada um de nós.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Lição desse activismo no-la dão os inimigos e adversários; eles, sim, sabem estar presentes nas oficinas, nas escolas, na rua e até nos quartéis, pois o que se passou em Beja, pese a quem pese, não teria sido possível se o derrotismo de uns tantos e a ingenuidade de outros quantos não tivessem criado os climas propícios à traição e à mudança e ao desvairado declive das instituições e da própria defesa nacional de aquém e de além-mar. Parece que vamos tendo pejo de dizer que fizemos uma Revolução Nacional e que continuamos a ser revolucionários dessa Revolução, hoje mais do que nunca imperiosa e definitiva para os destinos da Pátria. O Sr. Ministro do Exército reacende o fogo dessa Revolução no próprio lar onde ela nasceu: no grémio do Exército, que é sempre, em toda a circunstância, o guardião da honra e das liberdades dos povos independentes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Bem haja o Sr. Ministro do Exército e praza a Deus que estejam a seu lado todos os melhores, e, se alguns o não estão, que a seu lado sejam eles colocados sem tardança, pois não é tempo de obscurecer o brilho de estrelas cheias de fulgor nem de deixar embainhadas espadas ansiosas de se lançarem na defesa e na glória dos grandes momentos da vida nacional.

Vozes: - Muito bem!