vossa lembrança, a vossa presença tão querida no meu coração que, acompanhando-me sempre, me insuflará a força suficiente para morrer no campo da honra, com honra e pelas honrosas tradições de uma Pátria muito querida - o nosso Portugal. Não somos os primeiros a fazê-lo. Outros seguirão o nosso exemplo, e assim Portugal será eterno.

Espero confessar-me. Se o não fizer, pedi a Deus para que não me desampare e que a este desejo dê todo o valor.

Termino, feliz e confiante, expressando a certeza de que «se da lei da morte não me libertar» no pensamento da Pátria, que defenderei até ao último suspiro, ter-me-ei libertado dessa lei no pensamento e no coração de todos vós.

De ti, muito querido e inesquecível padre Zé, despeço-me com um muito afectuoso e extremoso abraço e o desejo de que não me esqueças nas tuas orações. Com o amor de irmão e a humildade de cristão, peço a tua bênção. - Alberto. - Damão, 12 de Dezembro de 1962.

Liberto da mediania em que nos movimentamos, esquecido de si próprio, para cuidar exclusivamente dos elevados valores morais s espirituais a que integralmente se votara, a sua figura começava já a elevar-se para as alturas onde necessariamente temos de situá-lo.

E não nos mentia!

Mas o perfil do herói só fica completo se se acrescentar, como nós sabemos hoje, por testemunho indesmentível, que o tenente Alberto Santiago de Carvalho, tendo podido evitá-lo, quis morrer e morreu, lutando valentemente, heroicamente «até ao último cartucho, até ao último suspiro»!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É nos momentos cruciais da vida que as almas grandes se mostram na plenitude do seu valor e se colocam indiscutivelmente acima da nossa vulgaridade.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - É este bem o caso do tenente Alberto Santiago de Carvalho!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E para além da morte pode ainda continuar a servir a sua Pátria.

Basta para tanto que façamos desta e de outras cartas um ideário e o difundamos largamente pela mocidade.

Vozes - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Conhecendo a sua vida, a alma da juventude há-de galvanizar-se com o seu exemplo. A juventude é sedenta de grandes ideais. E o tenente Alberto Santiago de Carvalho viveu, lutou e caiu consciente e determinadamente por um puro e nobre ideal!

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Vítor Barros: - Sr. Presidente: sou, por temperamento e por necessidade, simples e objectivo. Perdoará assim V. Exa. que, não obstante me associar de alma e coração às justas e elogiosas referências aqui feitas pelos meus ilustres colegas, me limite a apresentar a V. Exa. os meus mais respeitosos cumprimentos e o testemunho da minha mais elevada consideração.

Sr. Presidente: lembro-me de que V. Exa. ao presidir pela primeira vez a esta Assembleia, referindo-se à disciplina que deveria orientar aqui a actividade de cada um de nós, expressamente afirmou que «outra não existia que a nossa própria concepção do interesse nacional».

Será, pois, porque entendo ser do interesse da Nação abrir-se nesta Câmara debate sobre a nossa futura política ultramarina que ouso levantar aqui a minha voz.

Com efeito, perante o agravamento constante dos acontecimentos que estão afectando a nossa soberania em terras de além-mar, pareceu-se que não constituía acto de lealdade para com a Pátria furtar-me, por comodidade ou medo, a alertar a Nação contra uma política que reputo errada e que se me afigura não compensar sequer o tremendo esforço que se está a despender na defesa do sagrado território nacional.

E entendo-a errada na medida em que, desatenta, por longo tempo, à formidável aceleração dos fenómenos históricos processados em África, pretende considerar resolvido o problema da sua adaptação aos novos condicionalismos aí criados mediante o apego a sofismas constitucionais, mesmo depois que alguns dos que tínhamos por aliados já abertamente confessaram que não há remendo que possa disfarçar as divergências existentes sobre a atitude a tomar-se perante os problemas coloniais, pelo que assim, e quanto à África, necessário se tornava encarar a hipótese do risco de um outro choque de opiniões, arrastando consigo a mesma desilusão que o caso de Goa.

Está errada na medida em que, negando-se a discutir sequer os graves problemas que constituem a causa da agitação social reinante no ultramar, não só não serve o interesse nacional como também o do mundo ocidental.

Vozes: -Não apoiado!

O Sr. Joaquim de Jesus Santos: - V. Exa. dá-me licença ?

O Orador: -Tenha a bondade.

O Sr. Joaquim de Jesus Santos: - É apenas para um esclarecimento.

V. Exa. disse, salvo erro, que a política ultramarina portuguesa estava errada por se apegar a um sofisma constitucional.

Desejaria que V. Exa. me esclarecesse, e possivelmente aos outros Srs. Deputados, o que entende por sofisma constitucional.

Vozes:- Muito bem, muito bem!