No entanto, a despeito de todas estas palpitantes realidades, a actividade agrária continua a sofrer os mais duros reveses da natureza, a suportar as mais desconcertantes oscilações dos mercados e a reclamar ingloriamente um mais justo enquadramento de preços entre a exploração, a produção e o consumo.

Não se podem negar ao Governo diligências e providências de muito mérito no sentido de melhorar as condições de vida da agricultura.

Entre as medidas governativas adoptadas é de toda a justiça realçar a criação da Junta de Colonização Interna, que, ao serviço do fomento agro-pecuário, tem desenvolvido uma acção meritória e digna do maior registo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-A inteligência, ponderação e perfeito sentido das realidades do seu distinto presidente, Sr. Eng.º Agrónomo Vasco Leónidas, e aos seus competentes e dinâmicos colaboradores quero aqui deixar as minhas justas homenagens.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Cube também uma palavra de muito louvor ao ilustre delegado da Junta em Castelo Branco, Sr. Eng.º Agrónomo João José Ferreira Forte, cuja simpatia, modéstia, muito saber e invulgares qualidades de trabalho conquistaram a consideração e a estima da lavoura regional.

Todavia, o caminho a percorrer e os auxílios reclamados nos aspectos financeiro, de assistência técnica e da justa cotação dos produtos agrícolas - com vista à elevação da capacidade financeira do lavrador e à humanização do trabalho rural -, não oferecem ainda condições de seguro optimismo para aqueles que a paixão da terra consome e tortura a vida, numa luta titânica de esperanças, que um simples raio de sol ou uma inesperada bátega de chuva tudo pode fazer perder.

É preciso dar-se à lavoura maior garantia na produção, maior certeza e mais justa compensação na colocação dos produtos, maior confiança nos métodos adoptados e mais íntima colaboração e amparo por parte dos organismos encarr egados de ordenarem as suas directrizes e de enfrentarem os seus problemas básicos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Por outro lado impõe-se o necessário reajustamento dos sistemas estruturais e culturais, com vista à organização de cooperativas ou outras associações, que incutam aos lavradores um saudável espírito associativo e de classe.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Só assim será possível a adopção de medidas e iniciativas que o agricultor isolado não pode tomar, por inércia ou falta de capital, e a instituição de sistemas que o libertem da nefasta fauna de intermediários, que, na ânsia desmedida de lucros, prejudica o produtor e torna difícil a vida do consumidor.

O cooperativismo será, sem dúvida, o melhor processo de a lavoura poder enfrentar os problemas da produção e comercialização dos produtos agrícolas.

Por outro lado, a orgânica cooperativa tem o mérito de criar e fortalecer no espírito dos lavradores válidos sentimentos de cooperação e de solidariedade, absolutamente indispensáveis à melhoria do rendimento do trabalho, da exploração rural e dos capitais investidos.

«As cooperativas fomentam o espírito associativo», como tão criteriosa e oportunamente afirmou o abalizado jornal O Século, sempre solícito em versar com a maior isenção os problemas respeitantes aos mais variados sectores da vida nacional .

Só por intermédio das cooperativas os produtores agrícolas podem ver valorizados os seus produtos, não só pela colocação directa nos mercados, mas ainda pelo estímulo que podem provocar na melhoria de qualidade, calibragem e apresentação dos produtos extraídos da terra.

As cooperativas não são contra o comércio, pelo contrário, estimulam a actividade dos comerciantes e possibilitam-lhes melhores margens de lucro, oferecendo-lhes directamente os produtos dos seus associados.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Até há cooperativas comerciais ...

O Orador: - Exactamente; são de variadíssimas espécies e encarnadas em várias espécies de produções e actividades.

O cooperativismo mostra-se apenas inimigo da rede interminável do intermediários, cuja resistência procura vencer, no interesse do produtor e em defesa do consumidor.

Isto porque os produtos .agrícolas saem da casa do produtor em muitos casos 30 ou 40 vezes mais baratos do que são vendidos ao público, o qual, desconhecendo os preços de origem, se revolta injustamente contra a lavoura, esquecendo-se ou ignorando que é o intermediário que lhe torna a vida negra.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Já nesta mesma tribuna fiz um dia a afirmação de que os intermediários, à custa do proprietário desprevenido ou alquebrado no aspecto financeiro, se servem de todos os expedientes para darem largas aos seus desejos de ganância, com fins de pura especulação e de exploração do próximo.

O Sr. Pinto de Mesquita: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Já numa intervenção há dias feita dessa tribuna tive ocasião de dizer que algo contribuíra para isso, infelizmente, o ter-se começado pela organização corporativa gremial do comércio antes de se fazer a da lavoura.

O Orador: - Agradeço as palavras de V. Exa., que registo com o maior prazer, porque elas vêm corroborar os pontos de vista que defendo.

As cooperativas de lavradores anulam, ou, pelo menos, limitam, as manobras do intermediário, pois tornam possível a intervenção directa da produção nos mercados internos e internacionais, com notáveis benefícios não apenas para o produtor, mas igualmente para o consumidor.

Há já longa data que no nosso país se luta pela expansão do cooperativismo, embora sem grande êxito, por virtude do excessivo individualismo daqueles que têm a sua actividade ligada à agricultura.