Para se estabelecer uma grande corrente migratória, para que todos aqueles que desejem deslocar-se para o ultramar o possam fazer, é necessário, em primeiro lugar, que existam transportes em quantidade suficiente para dar satisfação a esses desejos. Ora é isso precisamente o que não acontece.

Presentemente, quem pretenda seguir para Moçambique por via marítima, em 3.ª classe, só conseguirá uma passagem no mês de Julho próximo, isto é, apenas daqui a cinco meses! É um longo período de espera, que não pode, de maneira alguma, contribuir eficazmente a favor de uma boa política de povoamento do nosso ultramar, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... sobretudo num momento como este, em que o Governo acaba de criar as Juntas Provinciais de Povoamento de Angola e Moçambique e em que todos nos esforçamos no sentido de criar um processo eficiente de canalizar para as nossas províncias africanas os saldos fisiológicos da metrópole.

Sr. Presidente: encaminhar para Moçambique grandes correntes migratórias, como venho defendendo nesta intervenção, implica, por outro lado, a criação de campo de trabalho onde essas novas populações possam exercer proveitosamente u sua actividade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É por isso que desejo referir-me hoje também ao importante problema das estradas de Moçambique.

Falar de progresso económico, falar no desenvolvimento da agricultura e da pecuária, falar no estabelecimento de indústrias, falar de explorações mineiras, e não falar de vias de comunicação, seria falta imperdoável, pois sem esses atributos não pode haver qualquer espécie de progresso.

A rede de caminhos de ferro de Moçambique, com mais de 3000 km de comprimento e constituída, na sua quase totalidade, por grandes linhas de penetração, uma das quais terminará nas margens do lago Niassa, representa já um valor extraordinário na estrutura económica da província. Porém, para que esses caminhos de ferro possam desempenhar inteiramente a missão que lhes compete, torna-se necessário que para eles se faça convergir uma larga rede de estradas afluentes. Deste modo, seria possível fomentar extensas e valiosas zonas do interior, visto poder assim assegurar-se a transporte da sua produção para os portos de embarque do litoral.

Este é um dos grandes problemas de Moçambique. Quase se torna inútil, para quem conheça a província, encarecer o alto valor de que ele se reveste. Um território enorme como é o daquela província ultramarina só pode desenvolver-se desde que possua as visa de comunicação necessárias para o escoamento dos seus produtos e para tudo o que se relacione com o progresso das suas actividades. Então será possível instalar e desenvolver, nas zonas de influência abrangidas por essas longas vias de comunicação, inúmeras e valiosas explorações agrícolas, silvícolas, pastoris, mineiras, industriais e comerciais. Formar-se-iam povoações, aldeias, vilas e depois cidades. Surgiria uma nova vida a dar alento ao progresso da província e a sua verdadeira ocupação económica e demográfica.

É certo que, nestes últimos anos, realizações importantes foram efectuadas em Moçambique no capítulo das estradas. Seria injusto ocultar o que n este campo se fez. Em cinco anos, de 1956 a 1960, gastaram-se na província mais de 600 000 coutos na construção de novas estradas e pontes. Mas não chega. É preciso muito mais. É preciso ampliar e acelerar a execução do plano rodoviário. E necessária aquela rede de estradas que o desenvolvimento da província, que não pode sofrer mais delongas, reclama como uma necessidade impreterível. Esta é a verdade.

Quem a não quiser aceitar, quem a não quiser ver, apenas estará a atraiçoar toda a obra até agora realizada à custa de incalculáveis esforços.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Usemos, acima de tudo, de franqueza, de uma verdade sã e construtiva na apreciação dos nossos problemas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não importa saber agora se se praticaram erros, se houve descuidos e esquecimentos. O que importa agora é construir, é trabalhar afanosamente, corajosamente, ganhar o tempo perdido, com os olhos postou numa meta que represente a solução dos nossos problemas.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Moçambique precisa de todas estradas, de todas as estradas que o seu desenvolvimento económico não pode dispensar; boas estradas, como grandes artérias cheias de um novo sangue de esperança, serpenteando por vales, escalando as encostas das montanhas, permitindo o acesso e o desenvolvimento de magníficas regiões onde milhares de famílias possam instalar-se, viver felizes, produzir para a valorização e riqueza da província.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Para complemento e reforço das minhas afirmações, não posso furtar-me à tentação de transcrever aqui as judiciosas e oportunas palavras do nosso ilustre colega nesta Câmara. Sr. Eng.º Araújo Correia ao relatar o parecer sobro as Contas Gerais do Estado de 1956, no capítulo respeitante a Moçambique:

Uma rede de estradas convenientemente orientada, incluindo transversais e afluentes nos cami-