nhos de ferro, constitui uma necessidade urgente e até com prioridade sobre outras aplicações dos investimentos disponíveis.

Sr. Presidente: voltando a insistir no mesmo tema - a necessidade de os portugueses deixarem de emigrar para o estrangeiro e de durem preferência às terras do ultramar - penso que é chegado o momento de se lançar na metrópole uma gigantesca campanha de propaganda das nossas províncias ultramarinas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Propaganda pela palavra falada, pela palavra escrita, pela imagem, pela rádio, pela televisão. Conferências, palestras, colóquios. Artigos nos jornais e distribuição- de prospectos em todas as localidades onde não haja publicações periódicas. Exposições fotográficas itinerantes por todas as terras da província e passagens frequentes de filmes em todos os cinemas.

Mas acabemos com o cinema e as fotografias dos motivos exóticos. Acabemos com as cenas de leões na selva, correndo na perseguição de pobres e inocentes antílopes ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... dos crocodilos deitados ao sol nas margens dos rios, com enormes bocarras abertas e ameaçadoras, de nativos quase nus, com penas na cabeça, nas suas danças guerreiras.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mostremos, sim, o que são as belas cidades que o esforço português construiu, à semelhança da Europa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É Lourenço Marques, com as anus largas avenidas ladeadas de acácias vermelhas e jacarandás; com os seus pequenos arranha-céus a olharem para o alto numa Ânsia de crescimento; com as suas confortáveis residências rodeadas de jardins cheios de flores e de relvados; com os seus hotéis cosmopolitas; as suas praias; os seus museus; os seus cinemas e os seus estabelecimentos comerciais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É a dinâmica cidade da Beira, crescendo num ritmo de confiança no futuro, com os seus belos edifícios de arquitectura moderna, com o seu hinterland rico de possibilidades agrícolas, silvícolas, pecuárias e mineiras. É Nampala, a cidade nova do interior, no coração do Niassa, surgida em pouco mais do vinte anos. São as fábricas, com os seus milhares de operários; as plantações de cana sacarina e de sisal, com extensões de quilómetros; os trabalhos agrícolas nos campos, nos verdes campos de milho, arroz, trigo, algodão e tabaco; os pomares de citrinas; os palmares da Zambézia; as plantações de chá do Gurué e de Milange; as criações de gado bovino, as grandes manadas de milhares de cabeças, gado melhorado no cruzamento com outras raças, com o Friesland, produtor de leite, e com o Afrihander e o Hereford, produtores de boa carne.

São os portos de Lourenço Marques e da Beira, dos maiores e melhores portos do continente africano, com o seu movimento dantesco e acelerado na carga e descarga de milhões de toneladas de mercadorias; o cais de Lourenço Marques, com, 2100 m de comprimento e onde acostam anualmente mais de 1500 navios; o porto da Beira, visitado todos os anos por mais de 1100 navios de muitas nacionalidades.

As boas relações existentes entre os diversos grupos étnicos que constituem n população. As escolas técnicas e comerciais, os liceus e os institutos médios, em cujas carteiras brancos e pretos se sentam, lado a lado, na mais fraterna comunhão multirracial.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Enfim, todas as expressões de vida material criada pela civilização, mas também todas as expressões de arte e de cultura, a obra dos nossos poetas, dos nossos escritores de ficção, dos nossos pintores.

Esta é a propaganda, construtiva e patriótica, que é preciso fazer na metrópole, para que se viva intensamente a vida do ultramar, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -... para que se crie uma verdadeira mentalidade ultramarina, para que se desperte na sua população o desejo de se fixar nas províncias, portuguesas do continente africano.

Tenho dito.

Vozes:.- Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Jacinto Medina: - Sr. Presidente: ainda que não fosse da tradição desta Câmara a saudação ao Presidente pelos Deputados que pela primeira vez usam da palavra em cada legislatura, não poderia deixar de o fazer, por imperativo de consciência, ocupando V. Ex.ª essa elevada posição.

Se a alta dignidade da função requer e exige o nosso respeito e as nossas homenagens, não podemos negar que nos é muito mais grato prestadas quando nela se encontra investido, por caloroso e unânime consenso da Assembleia, uma figura insigne como a de V. Ex.ª, que com extraordinário fulgor vem brilhando no firmamento da nossa vida política e intelectual.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mestre incontestado na ciência do direito, político de larga visão, carácter impoluto, firme, personalidade marcada e vigorosa em que não é traço menos saliente a generosidade e a magnanimidade dos grandes, é v. Ex.ª um dos valores em que a Pátria confia nesta hora atribulada de inquietações e de luta.

É na inteligência, na vasta capacidade e profunda experiência das elites, de que V. Ex.ª é um dos expoentes mais representativos, que havemos de ir buscar a orientação superior e as grandes linhas de acção nesta batalha em que se jogam os destinos da Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E dentro deste pensamento que trabalharei nesta Assembleia, sob a alta e esclarecida direcção de V. Ex.ª