Não tive o privilégio de ser aluno de V. Ex.ª quando fiz os meus estudos universitários, mas de bom grado serei discípulo de V. Ex.ª na ciência e na arte de ser português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Srs. Deputados: a VV. Ex. as quero manifestar a minha satisfação por me ser dada a honra de trabalhar ao lado de tantas figuras marcantes dos diversos sectores da vida nacional. Pêlos meus poucos méritos, será certamente modesta, apagada a minha colaboração, mas, sejam quais forem as circunstâncias, ela será sempre norteada e terá sempre como objectivo o bem comum.

Sr. Presidente: a resposta da Nação e do Governo ao ataque deliberado e impiedoso das forças que visam a subversão da ordem, da nossa coesão e a mutilação do território nacional tem a marca inequívoca da decisão firme, da visão larga e do dinamismo necessário para enfrentar eficazmente a ofensiva que contra nós foi lanhada.

A ninguém é lícito alimentar quaisquer dúvidas quanto à intransigência com que se defenderão os valores, que são da essência da nossa concepção cristã e espiritualista da vida, e as instituições que corporizam um sistema que no consenso geral, tão bem sintetizado pelo Mi nistro das Corporações e Previdência Social no relatório que precedeu a proposta de que derivou a Lei n.º 2080, de 17 de Agosto de 1956, continuamos a considerar como o único capaz de dar resposta às inquietações e às dúvidas dos tempos modernos e de assegurar a continuidade do ressurgimento da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não se trata de uma acção isolada que pudesse ser interpretada como consequência directa e irremediável de um regime político inadequado, de subdesenvolvimento económico, de injustiças sociais e desmandos da Administração ou de um colonialismo impiedoso, visando apenas a exploração material dos territórios coloniais pelos grandes magnates do capitalismo, como se propala e de que se pretende convencer a opinião pública mundial.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O pleito em que estamos empenhados, está cabalmente demonstrado, tem de se situar no quadro muito mais amplo da luta entre o Leste e o Oeste; ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... entre concepções puramente materialistas da vida e as que se recusam, a deixar reduzir os indivíduos a meras unidades despersonalizadas de um colectivismo amorfo; entre um imperialismo e um neocolonialismo em plena expansão, agressivo, coeso e irredutível e uma democracia desarticulada, hesitante, idealista e inquieta e, portanto, intrinsecamente enfraquecida, que debalde procura encontrar fórmulas que a detenham na senda da derrota irremediável.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O ataque principal desenvolve-se agora, de acordo com os objectivos de Lá muito fixados por Lenine e adoptados pelo comunismo internacional, sob o tema do «anticolonialismo» ou fase de descolonização, habilmente revestido da impressionante roupagem dos «ventos da história». Arvorando-se em defensora e porta-voz dos povos falaciosamente tidos por oprimidos pelo capitalismo ocidental, ignorando deliberadamente toda a vasta obra civilizadora e de valorização humana de que é credor o Ocidente, e sem a qual a África ainda hoje mal teria saído da barbárie, para apontar apenas os seus aspectos negativos ou eventuais desvios e sem em troca nada dar de positivo, a Rússia, aproveitando habilmente, e segundo técnica perfeitamente concebida, certos factores sociológicos favoráveis, lançou-se deliberadamente na batalha de desagregação, das posições ultramarinas das potências ocidentais. Autêntico envolvimento pelo flanco africano, visa o corte das suas fontes de abastecimento em matérias-primas e dos mercados necessários ao seu desenvolvimento económico. Batidas na Ásia, precipitada a sua retirada depois da conferência de Bandung, a África era logicamente o objectivo seguinte.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sem outros interesses para além das suas posições económicas, com um pragmatismo que nenhuns princípios ou tradições entravam, sem apego a uma obra essencialmente materialista, desde o início orientada no sentido do transitório, sem calor humano a temperar o etnocentrismo irredutível, e sobretudo divididas ou enfraquecidas por concepções políticas de essência democrática, às quais falta por natureza a autoridade necessária, a unidade de pensamento e a capacidade de decisão indispensáveis, as grandes potências ocidentais foram ou estão a ser, sem dificuldade, varridas do continente africano.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como disse Salazar em 1957, com a sua proverbial clarividência, «um poder em via de expansão não se limita a si próprio, é só limitado pelo jogo de forças exteriores que se lhe oponham». O Ocidente não parece tê-lo compreendido.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - Pelo contrário, a expansão de Portugal no Mundo nunca teve objectivos essencialmente económicos, nunca foi impulsionada pelos frios interesses materiais que levaram à expansão tipicamente colonial as potências industriais do século XIX. Fruto de tendências naturais de uma sociedade quase do início mul-