pôr as coisas nos seus devidos lugares, muitos resmungam, quando não conspiram!

A Nação, porém, mais de uma vez tem demonstrado a sua inabalável fé e confiança no sistema português, desejando apenas o seu aperfeiçoamento, e que se vá concretizando cada vez mais o seu papel de justo medianeiro entre o capital e o trabalho, controlando e retribuindo justamente o- primeiro e dignificando sobremaneira o segundo, banindo a usura da nossa sociedade e elevando o nível de vida fie todos os portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pouco dado a fáceis lisonjas, não seria justo, sem desdouro para quantos se têm esforçado e continuam terçando por este desiderato, não deixar aqui uma palavra de merecida homenagem ao Deputado Sr. Dr. Veiga de Macedo, a quem os portugueses têm de agradecer o mérito de lutador incansável pela prossecução do corporativismo e das suas reais vantagens.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ao lermos os relatórios das gerências das várias companhias produtoras e transportadoras de electricidade em 1960 e meditando no significado dos seus notáveis lucros, notáveis até pela previsão de êxitos económicos perenes, não pudemos furtar-nos ao confronto de tão evidentes sucessos com o custo da energia no Algarve.

Não vale a pena falar em números, o Governo conhece-os bem e a Assembleia pode inteirar-se facilmente compulsando o Diário do Governo, 3.º série, de 10 e 17 de Abril, 3, 9, 17 e 33 de Maio, 26 de Junho de 1961, etc.

Bem sabemos que para o Algarve, como para outras regiões afastadas das fontes eléctricas, haverá que contar com as perdas em linha e com o encarecimento do próprio transporte de energia. Pensamos, porém, e não cremos que sejamos os- únicos, que tudo isto deveria constituir um peso que todos deveríamos suportar, e não só nós, algarvios, e aqueles!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Em boa justiça apenas deveríamos pagar a utilização, pois que o transporte deveria constituir encargo geral através das companhias distribuidoras e no qual as companhias produtoras deveriam também ter larga. contribuição, que poderia ser, por exemplo, uma percentagem sobre os lucros, a qual reverteria puro um fundo de compensação.

O Sr. Martins da Cruz: - Muito bem!

O Orador: - Pois não é verdade que se não houvesse consumidores também não precisávamos de energia e, consequentemente, dos seus produtores?

Assim é que se me afigura justo, e, além disso, constituiria uma das muitas formas de obter mais justiça social e melhor distribuição de riqueza!

Não têm o pão, a gasolina, o gasóleo e os adubos, por exemplo, o mesmo preço em todo o País?

A energia eléctrica, pelo seu alto e ímpar valor no desenvolvimento dos povos, tem necessariamente de subordinar-se ao interesse geral e da mesma fornia servir minhotos, alente j anos ou algarvios!

Creio que estamos cheios de razão, e como tal não temos dúvidas na breve resolução do problema pelo Governo, e, em especial, daqui apelamos para o alto critério, espírito compreensivo e inteligente, de S. Exa. o Ministro da Economia.

Aventamos, porém, e para já, a ideia de um «seminário de boa vontade» das companhias fornecedoras e transportadoras, no qual, para facilitar, viessem a abdicar de um pouco em benefício de todos!

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se a

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei sobre o arrendamento da propriedade rústica.

Tem a palavra o Sr. Deputado Homem Ferreira.

O Sr. Homem Ferreira: - Sr. Presidente: sem grande depressão moral, mas com algum incómodo, cheguei já, à conclusão de que estou nesta Assembleia por um triplo engano: por engano de quem me incluiu na lista das candidaturas, por engano dos eleitores e, sobretudo, por engano meu.

Sem prejuízo desta ideia, que cada vez mais escava e perturba o meu espírito, não quero deixar de sublinhar o profundo respeito que me merecem a inteligência e o carácter de Y. Ex.ª, Sr. Presidente, e de reafirmar-lhe que pelo meu lado permanecem bem vivos os laços de estima que sempre unem o professor e o estudante de Coimbra e cuja solidez o tempo não desgasta, porque foram criados à sombra da grande árvore da Universidade.

De Coimbra me ficou, Sr. Presidente, aquela disponibilidade de animo que me dá a humildade suficiente para aprender com tudo e todos e o orgulho bastante para não aceitar lições de ninguém. De Coimbra trouxe principalmente algumas regras em torno das quais se construiu a minha vida e o meu carácter e que procuro nunca esquecer: um horror instintivo pela deslealdade, pela intriga, pelo processo oblíquo, e um desprezo implacável por todas as ingratidões, seja qual for o nível em que se situem.