ias não tem, de modo algum, o monopólio do conformismo; há também um conformismo das esquerdas».

Verdadeiros génios incompreendidos trazem na algibeira um estranho receituário capaz de sanar de vez todas as enfermidades da vida pública portuguesa.

Por isso julgam que receberam na fronte ousada o ósculo fecundante da portentosa Minerva. Sancho Pança, meus senhores, também alguma vez se convenceu de que era um verdadeiro rei de carne e osso. E os que tanto falam dos ventos da história já alguma vez teriam dobrado todo o seu espírito no esforço de analisar se estamos diante de mais um mito, dos muitos em que a nossa época se tem mostrado extremamente fértil, ou de uma constante irreversível?

Custa sempre tanto pensar, sobretudo a contrapelo das vagas de loucura que varrem o Mundo! A história é, com certeza, uma altíssima ciência. Precisamente em seu nome me insurjo contra cegos fatalismos que não cabem numa visão providencialista, que tem de ser a nossa.

Quem diria que um pequeno povo, dos menos populosos da Europa, contra a má vontade das repúblicas italianas, largamente dominadoras dos mares, iria deslocar o eixo da civilização ocidental para o Atlântico?

Acreditariam os tristes profetas do «portugalório» que um punhado de bravos levasse de vencida a rebeldia das massas nativas em África e triunfasse da cabala urdida contra nós por grandes potências estranhas?

Mais perto ainda, durante a última guerra, não vimos a Secretaria de Estado americana aconselhar à Espanha que se voltasse para a Rússia, se pretendia salvar-se ?

E a valente nação fez de cara ao perigo, apesar de todos os Estados membros da divertida O. N. U. terem cortado relações diplomáticas com ela, sob pressão soviética. Até que, afinal, o Ocidente acabou por reconhecer o tremendo logro em que tombara; e, enquanto a desconfiança para com a Rússia cresceu, a convicção de que a Espanha constitui uma pedra indispensável na defesa do mundo livre estrutura-se aos olhos de todos, de dia para dia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sempre que vestimos figurinos políticos estranhos, raramente não serviram só para a nossa ruína.

Até em relação ao nosso ultramar. Se a nossa política de integração se tem revelado mais humana, compreensiva e cristã do que todas as fórmulas de fora, para que havemos de copiar servilmente modelos alheios que se têm revelado de uma incapacidade e covardia a toda a prova? Moçambique é portuguesa até à seiva das raízes.

O esforço secular que a moldou foi sempre lusíada, chegasse ele directamente de Lisboa ou de outros quadrantes do nosso vasto mundo.

Apesar das diversidades acidentais do meio, do clima e da maravilhosa policromia do seu inconfundível perfil étnico, a gente de lá ama entranhadamente a Pátria com paixão igual à da metrópole.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por isso, nunca toleraria qualquer veleidade separatista ou de radical autonomia. Quer, apenas, que a compreendam nas suas legítimas aspirações. Mas não dramatizemos em excesso.

Ao salientarmos o que precisa de urgente e inadiável remédio não vamos ser também gravemente injustos com a casa-mãe, imaginando que o seu coração sensível não pulsa ao ritmo do nosso ou que vive de costas viradas para a nossa vida.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quando implacáveis inimigos do exterior torcem os factos mais direitos para nos denegrir, ao vermos como certas comissões da O. N. U. encontram dentro das nossas próprias muralhas traidores apátridas que as informam até de simples manifestos de propaganda política interna, para deles tirarem ilações caluniosas que amesquinham o brio de um povo inteiro e constituem um atropelo criminoso à verdade histórica, pergunto, Srs. Deputados, se não será sabedoria esperar que se evitem alardes ruidosos de linguagem, que, longe de situar os problemas numa atmosfera de serenidade e de verdade propícia à reflexão que eles reclamam, venham criar, apenas, discussões de Bizâncio, que nos levem o melhor do nosso tempo, deixando no ar, saturado de miasmas, tudo o que, afinal, só nos devia interessar.

Respondam os homens de senso que sabem colocar o bem comum acima dos ídolos da praça pública ou da opinião do grupo que porventura os aplauda.

Não serei eu quem negue erros graves que se têm cometido impunemente na nossa política ultramarina.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sei de cor muitos desmandos que atrás de si deixaram tantos «inspectores do cacimbo».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Pinheiro da Silva: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Com todo o prazer.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Foi justamente no sentido que V. Exa. acaba de expor que me referi em sessão anterior à necessidade que há de certas questões serem resolvidas em família.

Naturalmente que não se trata da família constituída por pai, mãe, filhos, etc., nem mesmo de um grupo de amigos conversando num café ...

Nós temos um Governo e os nossos Ministros ouvem o que achamos curial expor-lhes e procuram resolver tudo na medida do possível. Ora, falar com SS. Exas. é que é falar em família ...

Não me parece que o momento actual seja o mais indicado para seguir outra via, e tanto assim é que já chegaram até nós informes sobre a exploração que se está a fazer acerca do que em sessão anterior foi afirmado por um Deputado ...

O Orador: - Agradeço imenso a V. Exa.

O Sr. António Santos da Cunha: - Também não estou inteiramente de acordo com o Sr. Deputado Pinheiro da Silva, porque pode dar a impressão de que a Câmara se deve limitar nas críticas aos maus actos da Administração com o que se passa nas sessões.

Uma coisa é amar a Pátria e outra coisa é denegrir o que lá se passa e, portanto, a Pátria.