cujos contactos nem sempre têm sido proveitosos. Pois entendo que deve a Mocidade Portuguesa estudar a criação de campos de trabalho no ultramar, onde a nossa juventude metropolitana possa realizar um intercâmbio mais intenso com a juventude local e tomar contacto com as realidades daqueles territórios e formar assim uma verdadeira consciência da unidade nacional; organizar mesmo um corpo juvenil de voluntários que possa no ultramar, durante os meses de férias, colaborar com o exército português na valiosa campanha psicossocial que este está desenvolvendo, e que, estou certo, muito contribuiria para a valorização daqueles territórios e para a formação da nossa juventude.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Sales Loureiro: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Sales Loureiro: - Embora comungando no optimismo de V. Exa. quanto às virtudes inatas da nossa juventude, permita-me que lhe faça apenas a seguinte pergunta: entende V. Exa. que no estado actual da Organização Mocidade Portuguesa ela se encontra apetrechada a realizar a reforma de mentalidade que V. Exa. propõe no seu brilhante discurso?

Parece-me que, apoiada ela numa voluntariedade a partir do 1.º ciclo, fica uma grande zona escolar sem a sua acção tutelar, o mesmo acontecendo com esse sector, demasiado grande para ser abrangido por uma organização que fora admiravelmente ao encontro dos anseios juvenis em 1936, 1939 e 1940, mas não sei se agora corresponderá aos anseios dessa mesma juventude, sobre os quais há uma plataforma comum - o entusiasmo de V. Exa., a que congraço o meu próprio entusiasmo.

O Orador: - Agradeço muito a sua intervenção, e à frente v. Exa. verá que respondo de certo modo à sua pergunta.

À Mocidade Portuguesa caberá assim, neste momento, captar a juventude em todos os escalões e sectores de actividade, conduzi-la pelos caminhos do bem, da honra do heroísmo e da verdade ao altar da Pátria.

Mas, Sr. Presidente, se à Mocidade Portuguesa cabe desempenhar tão grande tarefa, se tem que estender a sua acção a todos os sectores da actividade da juventude, nos campos, na cidade, no ensino primário, secundário e superior, e mais ainda e especialmente se deve dar cumprimento ao imperativo de Salazar: «Mais e melhor até serem todos e serem um por Portugal», uma coisa parece desde já impor-se - a adaptação da Organização aos novos condicionalismos, dotando-a com os meios que lhe dêem possibilidade de realizar a sua missão, nas condicionantes que são absolutamente distintas das de 1936.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Reis Faria: - Devo dizer a V. Exa. que conheço um caso passado com um aluno da Faculdade de Direito que quis entrar para o convívio e não lho foi permitido porque era membro da Mocidade Portuguesa.

O Orador: - Isso só vem confirmar as minhas palavras. A obra a realizar é grandiosa e difícil, pois que, na realidade, se trata da reconquista de quase toda a juventude, e penso que tal só se conseguirá por uma sistematização de novos programas de acção, que atendam aos interesses biopsicológicos da juventude, que satisfaçam os seus ideais e que conduzam a uma educação eminentemente nacional, única, verdadeiramente útil, como muito bem o indicou Almeida Garret.

E se o problema é um problema de educação, creio, sem menosprezo do trabalho de quantos, embora não professores, militam nesta Organização, que ninguém melhor do que esses professores poderá resolvê-lo.

Impõe-se para isso, portanto, que a Organização utilize todos os professores, de todos os grátis de ensino, e que todo o serviço por eles prestado nas actividades da Mocidade Portuguesa seja considerado equivalente a serviço docente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - À luz dos novos meios e dos novos programas, efectue-se uma planificação de todos os meios humanou e materiais, ao nível nacional, com vista ao seu aproveitamento integral, e promovam-se as alterações de estrutura que as realidades impuserem, sem pensar em nada que não seja a educação da juventude e a sua preparação para defender a herança que lhe entregaremos.

E que não se olhe a dispêndios financeiros, pois que a educação da juventude, a maior riqueza de qualquer nação, é um investimento que, embora a longo prazo, é de rendimento certo e compensador.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tudo o que há a fazer, e muito é, não poderá ser obra de um ou de poucos; S. Exa. o Ministro a Educação Nacional e S. Exa. o Subsecretário de Estado, com todo o seu saber e a sua inteligência, deram já provas de que se debruçam corajosamente sobre o problema, mas carecem da ajuda de todos nós.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Tudo tem que ser feito por todos, em luta permanente com o ambiente, e contra o qual temos de lutar com todos os meios ao nosso alcance, na campo da educação cívica e política, doutrinando, esclarecendo, buscando a verdade, a nossa verdade.

O Sr. Armando Sampaio: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faz o obséquio.