independentes, mas como um todo, no seu aspecto somático, nas suas realidades psíquicas, nas suas relações com a família, com a profissão e com a sociedade; ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... do médico que não há-de limitar-se a sua função curativa, mas que há-de preparar-se para novas autuações da medicina social.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Esta reforma corrigiu os defeitos da de 1948 e rasgou novas perspectivas à acção das Faculdades na preparação do médico. São do próprio decreto-lei as seguintes passagens:

Pela primeira vez se inclui no elenco do curso médico a disciplina de Psicologia. Esta medida, a transformação da cadeira de Higiene e Epidemiologia em Higiene e Medicina Social e a autonomia e índole atribuídas à Deontologia (questões morais e sociais ou medicina) denunciam a tendência para imprimir à formação do médico, com o espírito científico, o sentido social e preventivo que por toda a parte vai ganhando, ao mesmo tempo que reafirmam o sentido espiritual da profissão: o médico tem de tratar doentes que podem não o ser apenas de corpo e tem de considerar, para lá do caso clínico, o homem na plenitude e na dignidade de seu composto.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E uma reforma que honra a medicina portuguesa e que honra o ilustre Ministro que a subscreveu.

Efectivamente, a tendência moderna marcada por esta reforma do ensino representa um admirável avanço na preparação do futuro médico.

Quais são os resultados palpáveis deste novo rumo?

Ainda não há dois anos, mais de três anos após a publicação da reforma, afirmava o então director da Faculdade de Medicina de Lisboa e actual bastonário, em lição proferida perante S. Exa. o Ministro da Saúde e Assistência:

Quando o estudante português passa do sector médico da Universidade para a profissão, da aprendizagem para o exercício efectivo, entra num mundo que lhe é completa mente estranho. Os conhecimentos científicos que possui são, no plano teórico, não raramente importantes, mas a sua prática é forçosamente exígua. Se procura aperfeiçoar-se, numa palavra, continuar a aprender, os meios que lhe são facultados são anacrónico.

Os estudos feitos antes da graduação nos sectores da medicina preventiva e social não lhe dão uma consciência perfeita da importância destas matérias por ausência absoluta da vivência dos respectivos problemas.

E disse ainda:

Neste campo (o da medicina preventiva) o jovem médico português depara com problemas bem mais graves do que noutro qualquer país civilizado, mas a escola não o ensinou e agora, fora dela, também não pode aprender, mas sabe porque lhe dizem, porque lê, que estamos na época da medicina preventiva.

E esta uma das fortes razões por que se encontra desajustado no seu novo mundo.

Meus senhores: palavras graves e duras são estas, proferidas por quem tem responsabilidades na condução do ensino médico e perante quem é responsável pela administração da saúde pública, e sobre as quais não podemos passar indiferentes.

O decreto da reforma do ensino médico, publicado pelo Prof. Leite Pinto, marcou um novo rumo, um sentido moderno à preparação do médico; decretos complementares alargaram os quadros das Facilidades de Medicina e amplificaram os meios para permitir a execução plena da reforma.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os professores hão-de tirar dela todo o valor potencial que contém e os Ministérios da Saúde e das Corporações hão-de criar o ambiente propício à acção dos jovens médicos para que não possa voltar a dizer-se o que, infelizmente, com tanta justiça, afirmou em 1959 o então director da Faculdade de Medicina de Lisboa.

O Sr. Jorge Correia: - Mas é preciso que não se protelem por mais anos esses diplomas, que sejam discutidos quanto antes.

O Orador: - Este novo decreto respeitante à Faculdade de Medicina de Coimbra, como os dos outras duas Faculdades, permitirá aos alunos e estagiários do fim do curso um melhor aproveitamento dos laboratórios e institutos, uma maior fragmentação dos turmas, um mais íntimo contacto com os doentes, um outro sistema de aprendizagem.

Custa-nos ouvir dizer que é quase totalmente perdido o ano destinado exclusivamente a estágio final do curso por falta de direcção eficaz e de assistência capaz ao estagiário.

Não sei se este aumento substancial do número de assistentes possa vir a resolver este problema de tão grande importância prática, uma vez que me consta que a fragmentação das turmas, tão necessárias para o rendimento do ensino prático, só será possível se o assistente tiver mais de doze horas semanais de serviço docente. Ora, como só é coutado como tal o tempo de aulas, e não o da sua preparação, sucede que em bastantes cadeiras os assistentes não excedem esse número de horas, e por isso é possível que cada um tenha à sua volta um número de alunos que, por excessivo, torna absolutamente ineficaz o ensino prático.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se assim é, o caso tem de ser revisto, tendo como base o número de alunos que possa permitir um ensino eficiente, e não sob a influência de outros conceitos administrativos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pelo que respeita à Faculdade de Medicina de Coimbra, não posso abordar este assunto sem lamentar que a Faculdade não disponha ainda de um hospital capaz para que o ensino dos alunos se possa fazer nas condições desejadas.

Vozes: - Muito bem!