des da grande massa populacional que está por educar. E que terá de se erguer um plano muito mais vasto, gigante mesmo, que abranja a quantidade enorme de Habitantes analfabetos e desconhecedores da nossa língua que se estendem por toda a província, desde as cidades modernas e exuberantes fie vida, até às recônditas vilas e aldeias, aos lugares mais afastados e isolados desse mato imenso.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - E uma tarefa ingente e dispendiosíssima, sem dúvida, mas que não pode ser adiada, se quisermos garantir e consolidar a nossa missão cristã e civilizadora em África.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - O ensino é, na verdade, não só um instrumento da coesão que aproxima os homens de diferentes raças, mas também o instrumento básico e indispensável para o bem-estar e progresso das comunidades. Não se fale em reformas, sejam elas de que natureza forem, sem se falar no mesmo tempo de educação das mossas populacionais. Aquelas, por mais amplas e benéficas, não surtirão efeito se não forem acompanhadas pela educação das populações incultas.

Por isso mesmo, o ensino adquire um papel primordial no desenvolvimento e progresso dos massas populacionais do ultramar. Não serão de mais quantas escolas se criem através da extensa província de Moçambique com o fim de levar às populações de variadas etnias que aí habitam o conhecimento da língua nacional, não só veículo indispensável pura a aquisição e transmissão de conhecimentos, mas também meio útil para que os diferentes grupos se entendam entre si e melhor se compreendam.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - O ensino será, sobretudo, a base era que há-de assentar todo o plano de desenvolvimento económico-social da população da província. Na verdade, o desenvolvimento económico nas regiões rurais, pela introdução de novas técnicas, a educação sanitária e a aquisição de hábitos de civilização pelas populações menos evoluídas far-se-ão com dificuldade e muito lentamente se não lhes dermos os conhecimentos elementares através da língua pátria, quer falada, quer escrita.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Este será o recurso pelo qual essas populações se hão-de valorizar, adquirindo os conhecimentos universais e espirituais que dignificam o homem.

Parece-me, por isso, que se deve pensar seriamente no problema da educação das massas populacionais de Moçambique, mima larga campanha de difusão da língua portuguesa, de alfabetização das massas populares, sejam elas crianças ou adultos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - E uma campanha vasta e complexa, sem dúvida, e que carece de um estudo aturado e profundo; mas complexa e difícil foi também a da educação de adultos na metrópole e ela realizou-se, graças a espíritos empreendedores de eminentes estadistas, de entre os quais me permito salientar o ilustre Deputado Sr. Dr. Veiga de Macedo, então Subsecretário de Estado da Educação Nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - É evidente que a campanha de educação popular de Moçambique não poderá, por condicionalismos ambientais, revestir-se do mesmo carácter da realizada na metrópole; o que ela não deixará, porém, é de enformar do mesmo espírito de justiça social.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - E ainda reportando-me à campanha da metrópole que tomo a liberdade de nesta Câmara recordar palavras do Sr. Dr. Veiga de Macedo.

Que me perdoe S. Exa.

Diz o Sr. Dr. Veiga de Macedo num discurso proferido em 1955 no Funchal: «Se é grave atentado contra a liberdade colocar o Estado acima do direito e crime contra a consciência desligar a política da ética, se é violência contra a personalidade sacrificar o homem à economia, quer estar seja do Estado ou das concentrações plutocráticas, não menos perigoso é a definição e execução de um programa político sem se atentar na alta e essencial importância da instrução e da educação».

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - «Um dos males mais generalizados dos nossos dias é o de se querer fomentar o progresso económico esquecendo-se estas duas verdades elementares:

1.º Não é possível a prosperidade geral sem a instrução generalizada aos diversos agrupamentos sociais e sem a conveniente especialização para todos os que a mereçam pelas qualidades de inteligência e de trabalho, quaisquer que sejam os suas possibilidades materiais e a sua classe».

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - «2.ª Não é política esclarecida a que não coloque no vértice das suas preocupações mais instantes os problemas da educação». E acrescenta: «Estas verdades são tanto mais validas quanto menores forem os recursos dos países. São os povos mais pobres, precisamente para poderem vir a ser menos pobres, que necessitam de olhar com maior largueza e energia os problemas da cultura».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Grandes e profundos ensinamentos se poderão colher da leitura da vastíssima obra dedicada ao plano de educação popular da metrópole e que muito poderão auxiliar uma campanha congénere no ultramar.

Sr. Presidente: desejo nesta minha intervenção chamar a atenção do Governo para a necessidade de se alargar e intensificar o ensino de modo que o maior número possível de habitantes da vasta província de Moçambique entenda, fale e escreva o português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Para tão audacioso plano de ensino, além de muitos mais edifícios escolares, carecemos de dois elementos imprescindíveis: o professor e o livro.