testemunha. Nestas condições, e informada a Assembleia sobre a declaração do Sr. Deputado Martins da Cruz, vou consultá-la sobre a referida autorização.

Consultada a Câmara, foi negada a autorização.

O Sr. Presidente:- Tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Correia.

O Sr. Jorge Correia: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: o meu trabalho de hoje destina-se a trazer a esta Câmara modesta achega sobre o problema dos jovens e as razões do seu desinteresse político, no desejo sincero de de alguma maneira contribuir para aquilo que todos queremos - a continuação da Revolução Nacional!

Nenhuma revolução, por mais alevantados que sejam os seus fins, por mais nobres que sejam as suas doutrinas, se consegue manter, di-lo a história, sem movimento, isto é, sem evolução, sem que se realizem os seus mais significativos propósitos e sem que se mantenha bem viva a sua mística.

Tenho ouvido nesta Assembleia brilhantes teses sobre o que deveria ser a vida dos nossos rapazes, dessa seiva fácil de moldar, aberta aos grandes ideais, e que por isso mesmo necessita de condutores à altura da sua pureza, para que se não transforme em acrimónia o que naturalmente é propenso à generosidade!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sinto-me nesta altura da vida tentado a explicar alguns fenómenos apontados como estigmas do nosso tempo e da nossa juventude.

Não podendo, é certo, enquadrar-me na mocidade de boje, estou ainda relativamente próximo da minha para poder estabelecer o confronto entre o que sentíamos então e o que sentem os rapazes de hoje.

Tenho reflectido bastante sobre o futuro das novas gerações, procurando ouvi-las sem quaisquer limitações, e daí o ter podido estabelecer paralelos e tirar algumas conclusões.

Em 1933, os rapazes do meu tempo, à volta dos 15 anos, já se preocupavam com a política e passo a citar um facto bem elucidativo. Na Praça do Giraklo, em Évora, não havia então como hoje telefonias em todos os lares, lá estávamos a ouvir os discursos de propaganda para a primeira legislatura da Assembleia Nacional a despeito do frio que, naquela época do ano e de noite, ali se fazia sentir. Lá estava quase toda a academia a ouvir os oradores que então falavam uma linguagem messiânica a toda a gente e nós, os rapazes, em especial, sentíamos que algo de novo se estava a estruturar em Portugal para a redenção material e espiritual do nosso povo. Todos sentíamos com o coração a trasbordar de amor, a que uma ou outra lágrima furtiva punha uma nota de viva emoção, que a hora era nossa e que o Chefe quando falava o fazia para os novos, filhos dilectos da Nação!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Havia acima da explanação dos conceitos e teses, constituindo a alma e a essência da Revolução, algo de espiritual e sublime nos seus discursos que nós sentíamos ser o elo que a todos unia e dinamizava!

Era a época heróica da Revolução em que tudo se fazia à base do sentimento e da fé, da virtude e da vontade de construir um Portugal digno e próspero.

E nesta euforia de desbravamento e de paz, de trabalho e tranquilidade se lançaram os grandes alicerces do Estado Novo.

Razões de aplauso e de inteira adesão?

A própria paz, nos lares, nas ruas e no trabalho!

A azáfama da arrumação de uma casa até então desavinda!

O aparecimento de uma doutrina e de uma ética novas!

A salvação nacional pelos próprios meios da Nação e através de sacrifícios que então foi preciso exigir!

O sentido oportuno das grandes campanhas e forma por que se faziam!

Lembro-me da campanha do trigo e dela, embora hoje se façam críticas aceradas, guardo o sentido patriótico que a aureolava!

Lembro-me ainda do júbilo por todos sentido quando ao Tejo chegou o contratorpedeiro Dão, que marcava simbòlicamente o ressurgimento da nossa Armada!

Compare-se o que sentimos ontem com tão pouco e o que sentem os rapazes de hoje com tanto, relativamente!

O que sentimos ontem com o Dão e o que sentem hoje com o Pátria, o Império, o Índia, o Vera Cruz, etc.!

Persuadi-me, e ainda hoje tenho a certeza, de que Salazar naquela altura podia ter pedido tudo à juventude que esta segui-lo-ia!

Tudo se fez, porque tudo havia que fazer!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, Sr. Presidente e Srs. Deputados, havemos de convir que uma situação política que tudo fez, que tem renovado o País e o tem guindado ao progresso, e que, consequentemente, teria direito aos mais rendidos aplausos da juventude, não desfruta hoje, não digo ela simpatia, mas do mesmo incondicional e generoso interesse da juventude de então!

E porquê?

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Será que Deus, Pátria e Família não são hoje já luzeiros suficientemente esplendorosos a guiá-los?!

Será que outras solicitações absorvem completamente a sua sensibilidade?!

Não!

O que lhes falta é o sentido heróico da vida, tão particularmente querido dos novos!

Podemos dar-lhes tudo, podemos realizar, no campo material das ciências e das artes, todos os seus anseios e nunca os teremos inteiramente nossos se os não interessarmos directamente na conquista desses mesmos anseios e na vida da Nação!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Depois da última grande guerra apareceram novos vectores no campo material e filosófico, que vieram alterar mais ou menos profundamente conceitos económicos, sociais e políticos tidos até aí quase como imutáveis. É dentro do novo condicionalismo, a que não podemos alhear-nos, que temos de estruturar a nossa vida e estamos a tentar fazê-lo, mas afigura-se-me urgente chamar desde já os novos e interessá-los na marcha da coisa pública.

Vozes: - Muito bem!