Três breves apontamentos, três grandes temas. Em todo o caso, apontamentos e temas para um verdadeiro apóstolo da Igreja e de Portugal como aquele que tive a ventura de ouvir.

Tudo isto a propósito, Sr. Presidente, da elevação ao cardinalato de D. José da Costa Nunes. E não é só pelo gosto e pelo proveito de recordar algumas das suas magníficas palavras ditas há tantos anos numa pequena e distante terra açoriana e para um pequeno e ainda mais distante semanário de humilde tiragem.

É para assinalar a honra que o Soberano Pontífice deu a Portugal, escolhendo um dos seus filhos para tão alto cargo.

É para testemunhar aqui, como açoriano, a mais viva satisfação pelo facto de este novo cardeal, português de tão rica e nobilíssima estirpe moral e cultural, ter nascido numa das ilhas do arquipélago.

O Sr. Sá Linhares: - Muito bem, muitíssimo bem!

O Orador: - É para apontar o forte conteúdo do fé católica e de fé portuguesa com que este novo e eminente membro do Sacro Colégio acaba de falar através da Rádio Vaticano, lembrando o serviço que prestámos ao mundo afro-asiático, ao libertá-lo do isolamento a que o votara o Islão; as imensas regiões sepultadas in umhra mortis que evangelizámos e ganhámos para a vida; as missões que fundámos «no golfo Pérsico, na Índia, no Ceilão, no Pegu e Malaca, em Sião e Camboja, na China e no Japão, nas Celebes e Molucas, na Grande e Pequena Sonda»; os vestígios que deixámos «na língua, nos costumes, nas lendas, na religião, na vida social, nas tradições em velhas igrejas, em fortalezas desmanteladas, em monumentos carcomidos do tempo», nas terras onde tremulou a nossa bandeira.

E é, finalmente, para neste momento, em que negar ou desertar é morrer, repetir este pregão de unidade e força da autoria de um homem que durante meio século foi missionário fervoroso da Igreja e de Portugal no Oriente e que não se furta, ao ser elevado à dignidade cardinalícia, a reafirmar publicamente a sua confiança na integridade da Nação conduzida pelos que neste momento lhe defendem a sobrevivência.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Têm um largo e profundo valor de oportunidade estas palavras do novo cardeal D. José da Costa Nunes, um português missionário nascido nos Açores, e não ficaria de bem com a minha consciência se as não reproduzisse e sublinhasse com emoção no seio da Assembleia Nacional.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pacheco Jorge: - V. Ex.ª dá-me licença, Sr. Presidente?

Era apenas para me associar às palavras justas e merecidas pronunciadas pelo Sr. Deputado Armando Cândido pela elevação ao cardinalato de S. E. o Sr. D. José da Costa Nunes.

É que Sua Eminência, sendo açoriano pelo nascimento, é macaense pelo coração. Foi em Macau que se ordenou padre, ali exerceu o magistério secundário com a maior proficiência e foi, finalmente, ali, que tomou conta do Episcopado pela primeira vez e se conservou por largos anos

A figura de Sua Eminência em Macau perdura até à presente data; ele é igualmente admirado e respeitado por portugueses e chineses e a sua extraordinária acção missionária e patriótica na Diocese do Extremo Oriente é ainda evidente.

Por isso, Macau não podia deixar do se associar às palavras de regozijo e exaltação que o Sr. Deputado Armando Cândido acaba de proferir e manifestar também o seu regozijo pela elevação ao cardinalato do seu antigo e querido bispo.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Marques Lobato: - Sr. Presidente: tenho procurado trazer ao conhecimento da Câmara, com todo o meu ideal de homem e de português, alguns aspectos, que julgo essenciais, do pensamento político moçambicano, naquilo em que ele pode ser intensamente relevante e renovador nas constantes do pensamento político português.

Sou dominado pela ideia de que é sempre útil discutirem-se as dificuldades presentes e prevenirem-se as dificuldades futuras.

Sou também dominado pela ideia de que a Nação Portuguesa pode marchar globalmente para novos e melhores destinos, porque lhe foram criadas algumas bases de progresso, e na conjuntura actual o ultramar tem um papel decisivo a desempenhar na nossa vida colectiva, mas, ao mesmo tempo que finalmente se lhe abrem prometedores horizontes de vida, processa-se em África uma revolução de estrutura que ameaça subvertê-lo. Haverá assim que salvá-lo para salvarmos a Nação toda.

A esse respeito tenho dito que também somos em Moçambique uma voz da Nação, com o dever de desempenhar papel activo na vida nacional, e que acerca dos problemas temos opiniões, porque, num plano de superior e perfeita moral política, somos tão responsáveis pela metrópole como ela o é por nós, e somos portanto responsáveis pela Nação inteira, agora e no futuro, porque somos parte do mesmo todo.

Tem o Mundo evoluído vertiginosamente, e a África em especial, tanto que tem dentro dela uma revolução. Por nossa parte temos procurado acompanhar os ritmos, dentro das nossas constantes de nação, que são de uma superioridade ideológica inatacável, mas vamos construindo vagarosamente as estruturas nacionais adequadas às bases de uma permanente e tradicional contra-revolução autênticamente portuguesa, que realize com indiscutibilidade a superioridade do nosso ideal de pátria com um lugar ao sol para cada seu filho.

Que eu saiba ou sinta, é por milagre português que não temos ainda em Moçambique um problema político derivado do desfasamento que já existe entre o ideal e