aumento foi concedido durante a guerra às farmácias para ocorrer às despesas de transporte, armazenamento, etc. Todavia, logo após a guerra os laboratórios nacionais e muitos estrangeiros passaram a tomar à sua conta, inteiramente, essas despesas de transporte, de armazenamento, de despachos, etc., fornecendo às respectivas farmácias o produto pelo mesmo preço do continente. Todavia, persistiu a taxa, e persiste ainda, embora baixada de 10 por cento para 5 por cento. É contra essa persistência que desejava juntar o meu protesto ao de V. Ex.ª

O Orador: - Eu gostaria que fossem eliminados os 10 por cento. Os laboratórios centrais deviam suportar o acréscimo que o transporte acarreta.

O Sr. Gamboa de Vasconcelos: - Mas são precisamente os laboratórios centrais que as suportam, e, todavia, os 10 por cento ou os 5 por cento beneficiam o farmacêutico, e não os laboratórios.

O Orador: - Nem todos, mas apenas alguns. Penso, todavia, que seria de justiça eliminar os 10 por cento.

O Sr. Gamboa de Vasconcelos: - Ainda posso acrescentar que os 10 por cento têm servido até agora mais para jogo de interesses desleais, atritos à concorrência, isto é, para permitir a certas farmácias descontos que atraem maior número de clientes do que à necessidade real de qualquer compensação. A Misericórdia de que faço parte há muito que na sua farmácia aboliu os 10 por cento, como obra de moralização e de benefício social.

O Orador: - Na Madeira esse problema não existe.

O Sr. Gamboa de Vasconcelos: - Fosso afirmar a V. Ex.ª que é assim pelo menos em S. Miguel.

O Orador: - Esta disposição, que vem tornar menos caro o custo de produtos indispensáveis à saúde e à vida, obriga-me a pôr em relevo o espírito compreensivo de colaboração, prontidão e competência com que a Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos, e em especial o seu presidente, estudou e tomou decisões sobre este problema logo (pie lhe foi directamente posto.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pinto Carneiro: - Sr. Presidente: pedi a palavra para submeter à esclarecida reflexão da Câmara e do Governo um momentoso assunto que, interessando particularmente à Universidade de Coimbra, se reveste da mais alta importância na formação do pensamento português.

Reporto-me à premente necessidade de restaurar a Faculdade de Teologia na velha e gloriosa Universidade de Coimbra, alma mater da cultura nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É patente aos olhos de qualquer observador a crise espiritual da nossa juventude nestes dias lastimosos, em que falsas ideologias a embalam num cântico de sedução e de desgraça.

Nestes caminhos tórridos que a humanidade vai trilhando, a perda do sentido ontológico da vida já constitui para muitos um drama intelectual, uma perspectiva indefinida, uma noite sem estrelas. Nesta encruzilhada da história, em que tantos espíritos imploram uma gota de água viva, os estudos teológicos demarcam à cultura o rumo das límpidas alturas, das luminosidades transcendentes e das realidades eternas.

A Faculdade de Teologia, pela sapiência dos seus mestres, pela excelência da sua produção bibliográfica, pela sua cintilante e eficiente irradiação, agigantou-se com especial relevo entre as que mais concorreram para o prestígio que a Universidade de Coimbra conquistou aquém e além-fronteiras.

O Sr. Virgílio Cruz: - Muito bem!

O Orador: - Embora no seu alvorecer a Universidade de Coimbra não incluísse nos seus quadros a Teologia, ao tempo centro de atracção e nimbo de desvanecimento e ufania na Universidade de Paris, e se desconheça ainda a data precisa em que foi incorporada nos Estudos Gerais, certo é que um documento com data de 25 de Outubro de 1400 já menciona no corpo doutoral o lente de Teologia. E quando, em 1431, o infante D. Henrique, esse genial e apaixonado visionário dos longínquos horizontes das coisas e do espírito, governador e protector da Universidade de Coimbra, ao tempo deslocada em Lisboa, a contemplou na magnitude da sua liberalidade, concedendo-lhe uma valiosa dotação, logo ordenou que nela se lesse a «Santa Teologia».

Ouvindo a voz autorizada de mestres preclaros como Francisco Suarez, Afonso Prado e Martinho Ledesma, a Faculdade de Teologia cobriu-se de esplendor, ocupando, segundo informam os documentos, o primeiro lugar «nas precedências e estimação das disciplinas.

Os estudos de Teologia foram, no Portugal de outras eras, instrumentos magnificentes de investigação científica e construção doutrinária.

Foi Coimbra, a acrópole das Ciências e das Letras, a sua grande propulsora, e logo se enquadrou na esteira de tão deslumbrante tradição a Universidade de Évora, que, instituída em 1553 pelo cardeal D. Henrique e confirmada em 1558 por bula do Papa Paulo IV, também conheceu, pelo seu mérito, as complacências da fama, com teólogos eminentes como Luís de Molina.

Mas a Universidade de Évora não resistiu ao estrabismo ontológico do marquês de Pombal, e a Faculdade de Teologia de Coimbra, alvo de funestas incompreensões, de críticas demolidoras e de insidioso desamparo, desfaleceu perante as aleivosas investidas de uma política malsã e laicizante, abrindo, no seu crepúsculo, uma lacuna na cultura portuguesa, que urge a todo o custo colmatar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quem se debruça sobre as coisas da cultura nacional sente fundado espanto pelo facto de no transcurso de meio século que se seguiu a 1910 tal problema ainda não ter sido resolvido.

A Universidade de Coimbra, cônscia das suas altas responsabilidades perante o País e perante o mundo contemporâneo, não esconde a mais profunda mágoa de não ver, alvejantes nos seus cadeirais, os capelos bran-