Parecer da comissão encarregada de apreciar as contas públicas
(Artigo 91.º da Constituição)
Nenhum outro documento nos pode dar mais amplamente os motivos da solidez e das fraquezas do País como a Conta Geral do Estado. No emaranhado de milhares de cifras que se aplicam aos mais variados assuntos estão intrínsecas as características da vida nacional, nos aspectos relacionados com a governação pública e nos reflexos nas actividades privadas.
Todos os anos os pareceres têm procurado isolar as cifras, dos seus profundos e por vezes confusos significados orçamentais, de modo a pôr de pé, em contornos vivos e reais, aquilo que aparenta ser apenas uma coisa inerte, morta, um grupo de algarismos a formar uma verba ou uma dotação - uma receita ou uma despesa. Por detrás de cada verba, a receber ou a pagar, está um
acontecimento, um serviço, uma obrigação, um dever e, muitas vezes, um anseio ou uma aspiração. Está no fundo a engrenagem burocrática ou a razão da existência de um melhoramento - da estrada, da fonte, da obra hidroagrícola, da estreiteza do ensino de qualquer grau, da ineficiência de um regime hospitalar, de mil pormenores simples e complicados, grandes e pequenos, que constituem a actuação e o movimento do Estado moderno.
O bom emprego da dotação e da verba, quer se trate de pagamentos de pessoal, quer do financiamento de obras públicas ou privadas, quer ainda da execução de serviços de utilidade colectiva, é apanágio dos países bem administrados e progressivos. O bom emprego da dotação significa bom rendimento - no pessoal considerado isoladamente e do seu labor no conjunto da engrenagem burocrática.
Necessidade de coordenação