Comércio externo A balança do comércio da província de Angola, normalmente positiva durante muitos anos, tornou-se negativa a partir de 1957. Os deficits não são grandes, em comparação com o da metrópole ou até como de algumas províncias ultramarinas, como Moçambique. Mas a delicadeza do desequilíbrio em Angola é maior do que em qualquer desses territórios porque os recursos invisíveis da província são muito menores.

As causas do reaparecimento de deficits na balança do comércio de Angola são de natureza diversa.

Por um lado, há a considerar o desenvolvimento de consumos internos, tanto de bens de consumo, como duráveis. A província neste aspecto progrediu consideravelmente no período do pós-guerra, arrastando a um aumento de importações que se reflectiu no equilíbrio de trocas. Em parte este progresso nos consumos induziu à intensificação da produção interna. De facto o panorama industrial da província na actualidade modificou-se sensivelmente num curto espaço de tempo e as inic iativas em curso e em projecto prometem efeitos que influirão muito na economia provincial.

Assim, os consumos internos, em aumento, foram supridos parcialmente pela produção interna e não se pode negar sem injustiça o esforço continuamente feito ao sentido de ainda alargar a esfera de acção da iniciativa privada.

Mas não foram apenas os consumos internos que influenciaram a balança do comércio, até quando se incluíam neles as importações volumosas, nalguns anos, de equipamentos destinados ao fomento económico, a infra-estruturas essenciais à produção de energia, transportes terrestres, marítimos e aéreos e a unidades industriais em pleno desenvolvimento.

O nível dos preços de géneros tropicais, que constituem a base da exportação dos países africanos a sul do Sara, tem sofrido nos últimos anos abalos consideráveis, provenientes, em parte, de concorrências de outros continentes, como no caso do café e do peixe, ou da anarquia resultante de falta de entendimento dos produtores e dos governos, como no cacau e nas oleaginosas.

Deste modo, as dificuldades da exportação, por insuficiência de cotações ou outros motivos, também influíram no déficit do comércio externo.

Na actividade económica regista-se a influência de meia dúzia de produtos de exportação, com mais de 100 000 contos.. Mas a incerteza nas cotações e nas condições climáticas ocasiona crises periódicas, que criam dificuldades. O surto industrial que começa a tomar incremento e a diversificação de culturas que é possível em relativamente larga escala, dada a variedade de climas, poderá permitir nivelamento mais apropriado da balança de comércio.

Angola deve preparar-se para enfrentar concorrências, às vezes desleais, nos mercados externos. A efervescência em África e a desordem económica que tende a implantar-se nalgumas regiões, por um lado, e, por outro lado, a concessão generosa de subsídios por parto de países do Ocidente, com o ilusório objectivo de mante r zonas de influência política, influirão no livre jogo da procura e da oferta. A vida não será fácil neste aspecto, mas a experiência ensina que situações criadas por artifícios desfazem-se como bolas de sabão. O ponto é resistir e procurar fortalecer ordenadamente a economia interna.

Balança do comércio Em 1960 o déficit da balança do comércio reduziu-se para 104 548 contos, menos 75 898 contos do que em 1959. Este resultado, que não é satisfatório, apesar da melhoria, proveio de redução apreciável nas importações, porque as exportações se mantiveram no nível das do ano anterior, visto terem acusado ligeiro decréscimo, de apenas 21 926 contos.

Não é só o déficit de 104 548 contos que perturba a vida económica de Angola. A redução de importações poderá influenciar o apetrechamento da província, que é a base do seu progresso no futuro.

Enunciar-se-ão adiante as causas do decréscimo das importações, para então analisar o seu conteúdo s possível influência no fomento económico.

Quanta às exportações, a gradual quebra de algumas cotações vai exercendo a sua influência no valor. O caso mais saliento é o do café. mas o do peixe e seus derivados arruina lentamente uma indústria de tão prometedores auspícios na economia angolana.

3. A balança comerci al em 1960 traduz-se nos números que seguem:

As cifras dos dois últimos anos, comparadas, revelam, melhoria para 1960 da ordem dos 75 898 contos, obtida por menores importações (cerca de 97 824 contos) e exportações que, embora também menores, o são por cifra muito inferior à quebra no valor das mercadorias importadas, ou menos 21 926 contos.