Rega e povoamento Segundo resultados já apurados, existem «vastos áreas aptas para a agricultura em sequeiro e regadio, com possibilidades de culturas industrializáveis, de milhares de hectares, nas zonas planálticas com condições ecológicas que permitem o povoamento com essências exóticas produtoras de madeiras e boas pastas para a fabricação de papel.»

Para delimitar estas áreas foi feito já o reconhecimento aéreo à escala de 1/50 000 e seleccionaram-se zonas para reconhecimento pormenorizado à escala de 1/20 000.

Grande parte das zonas com possibilidades agrícolas possui condições climáticas que permitem a fixação de agricultores e trabalhadores metropolitanos.

A produção agrícola de culturas industrializáveis pode ser consideràvelmente melhorada pela rega. Com efeito, a existência de um vasto armazenamento de água na zona alta do rio em território nacional e o seu módulo, da ordem dos 2500 m2 por segundo, permitem não só rega por gravidade em certas áreas, como a elevação de grandes quantidades de água onde for necessário, dado o baixo custo da energia.

Descreveram-se no parecer de 1955 os terrenos aluvionares, derivados do carreamento de terras das cabeceiras do rio e de seus afluentes para as zonas baixas durante milénios.

As zonas de Fingoé, Vasco da Gama e, de um modo geral, a Angónia são já conhecidas pelo seu clima benigno. Poderão constituir apoio climatérico à zona industrial, que certamente se desenvolverá nas proximidades, em níveis mais baixos.

Os reconhecimentos efectuados até agora parece permitirem o aproveitamento imediato de 30 000 ha de sequeiro, de 90 000 ha de regadio, além do enriquecimento de uma dezena de milhares de hectares de essências indígenas, e a plantação de alguns milhares de hectares de essências exóticas, com boas condições de exploração. As populações brancas e indígenas, evoluídas e não evoluídas, que podem beneficiar de um começo de exploração elevam-se a 70 000 habitantes.

A existência dos núcleos de gado bovino, que atinge cerca de 100 000 cabeças em Tete e Angónia, pode ser consideràvelmente melhorada.

Possibilidades mineiras

5. O parecer das Contas abria deste modo o capítulo dedicado às possibilidades mineiras na bacia do Zambeze: «A região de Tete é conhecida há longos anos como susceptível de conter minérios em condições de exploração económica»1.

E informava que existiam «reservas importantes de ferro titanífero, cobre e urânio».

No caso do ferro titanífero os reconhecimentos feitos até então permitiam concluir que as reservas não seriam inferiores a l 000 000 000 t em boas condições de exploração.

Acrescentava-se também naquele documento que «a existência de energia eléctrica perto, no Zambeze, a baixos preços, em quantidades que ultrapassam todas as expectativas, poderá servir de base a uma indústria mineira, e talvez siderúrgica, que ... a existência de carvão em Moatize permitirá porventura que seja uma rea lidade amanhã»1.

Considerando as possibilidades mineiras de outros metais, o parecer de 1955 aludia ao prolongamento dos jazigos de cobre da Rodésia para Moçambique, à existência de possibilidade de alumínio (bauxites). Neste último caso seria possível uma grande indústria, dadas as quantidades de energia eléctrica a preços de custo excepcionais.

Nesta matéria os reconhecimentos já efectuados confirmaram e até ultrapassaram as expectativas enunciadas no documento apresentado à Assembleia Nacional.

Um dos inconvenientes dos jazigos carboníferos conhecidos era a sua qualidade. A indústria siderúrgica requer coque.

Estudos e trabalhos posteriores à publicação do parecer de 1955 vieram dar novos alentos, neste aspecto, às expectativas nele expressas.

Com efeito, foram descobertos vastos afloramentos de jazigos carboníferos a montante e não longe do local onde está projectada a barragem de Cahora Bassa. E de tal importância parecem ser as reservas de carvão, com boas condições físicas, susceptíveis de serem transformadas em coque de fundição, que se encara já a possibilidade de produzir l 300 000 t de coque e de, pelo menos, 2 000 000 t de gusa.

Estas perspectivas parecem ser modestas em relação aos volumes dos depósitos de ferro e carvão já reconhecidos.

Na verdade, encaram-se por agora as possibilidades de exploração anual das seguintes quantidades:

Ferro (Messeca) ........... 500 000

Carvão (Vúsi-Mucanha-Bahozi) ... 2 000 000

Ferro (Muendi) ........... 500 000

Magnetites titaníferas (Machédua) . . 4 000 000

Cobre (Massamba-Chidué) ....... -

Fluorites (Macosa) .......... -

Outros minérios estão a ser prospectados, e entre eles, com probabilidades de êxito industrial, a grafite, o níquel, o crómio é os asbestos. Na verdade, alguns dos espécimes colhidos e trabalhos realizados permitem boas esperanças.

6. Todo o plano delineado para aproveitamento das possibilidades que acabam de ser sucintamente enunciadas depende dos transportes.

O Alto Zambeze, na zona de Tete e Cahora Bassa, assim como os planaltos de Angónia, ficam situados a grande distância do litoral.

Existe hoje o caminho de ferro de Tete, que pode drenar mercadorias através do porto da Beira.

Mas este caminho de ferro não é de per si suficiente e não está em condições de servir o desenvolvimento agrícolo-industrial, na escala precisa em custo e capacidade, da zona do Alto Zambeze. ora, «o problema da navegação do Zambeze nalguns dos seus troços interessou vivamente no passado e já foi alvo de estudos de diversa natureza, Mas as suas cheias, os assoreamentos provocados periódicamente pela enorme quantidade de detritos arrastados pela cor-

1 Parecer sobre as Contas Gerais do Ultramar de 1955, p. 424. 1 Parecer sobre as Contas Gerais do Ultramar de 1955,p.425.