rente e depositados na zona baixa e outras circunstâncias têm-no dificultado»1.

As perspectivas agora, são, porém, diferentes, e as conclusões de 1955 justificam-se inteiramente.

Com efeito, escrevia-se nessa altura:

A formação do lago de Kariba, com uma área da ordem dos 4000 ha e capacidade que ultrapassa os 120 000 000 000 m3 de água, e as probabilidades, ou antes, já hoje certezas, da viabilidade económica da construção de uma central em Cahora Bassa, com a correspondente formação de um vasto reservatório de capacidade idêntica à de Kariba, asseguram ao rio duas condições fundamentais para a navegação: a primeira reside num caudal mínimo, constante e contínuo, até na época da estiagem, superior a 2000 m3 por segundo, sem contar com os escoamentos do troço a jusante de Tete, e a segunda, não menos importante, é a da retenção do material carreado nas albufeiras de Kariba e provàvelmente na que será construída no futuro no seu afluente Kafué, na albufeira de C ahora Bassa e nas que talvez venham a ser formadas a jusante, para aproveitamento dos desníveis compreendidos entre Tete e a ponte de Maturara3.

Assim, o problema da navegação assume outros aspectos.

Encara-se a possibilidade de assegurar fundos em toda à sua extensão para calados de 2,5 m o que não parece ser nem difícil nem muito dispendioso, e a construção de um porto na foz do Cuama, para calados de 12 m.

Os trabalhos de reconhecimento prosseguem com este objectivo e parece não estarem longe de mostrar a possibilidade desta via navegável, que asseguraria o transporte por via fluvial de 2000x10 º t x km por ano, o que é considerável.

7. Julgou-se de interesse fornecer estes elementos à atenção da Câmara, como corolário dos já oferecidos no parecer de 1955.

Eles vêm demonstrar possibilidades industriais e agrícolas com grandes reflexos na zona do escudo e nas condições económicas de Moçambique. Esta província, como se referiu já por diversas vezes, sofre déficit comercial volumoso e ùltimamente de desequilíbrio da balança de pagamentos.

As receitas dos caminhos de ferro e portos, com sua alta percentagem de cambiais, auxiliam poderosamente a província. Mas torna-se necessário aumentar a produção interna para consumo e exportação.

O auxílio do Zambeze vem na altura própria.

Neste aspecto, a ideia de considerar o seu planeamento integral, como um todo, merece louvores.

Idêntico princípio deveria ter sido aplicado a outros esquemas, na metrópole e no ultramar, e entre eles o do Cuanza, como repetidas vezes estes pareceres recomendaram.

O planeamento integral da bacia hidrográfica do Zambeze traz benefícios de vária ordem, como as possibilidades de produção de maiores e menos dispendiosas quantidades de energia, do domínio de cheias, da navegação e do reconhecimento de perspectivas de natureza industrial, agrícola, pecuária e silvícola, com directos reflexos na economia regional, provincial e nacional. Da produção energética e mineira deram-se cifras , que se podem tomar como possibilidades imediatas. Não é fácil traduzir em números as produções de outras actividades e assim determinar a sua influência no conjunto do esquema.

Mas não é exagero dizer que a bacia hidrográfica do Zambeze tem condições industriais que asseguram a produção de coque e gusa, além do estabelecimento de indústrias baseadas no carvão e em outros produtos, do subsolo, e das açucareiras, de algodão, sacaria, madeiras para caixotaria e outras, citrinos, celulose e papel, lacticínios e salsicharia, cimentos, cerâmica, e mais.

A gama de possibilidades é larga. Núcleos industriais baseados em indústrias pesadas e extractivas produzem actividades que reagem vivamente sobre outras.

Energia muito barata, carvão em grandes quantidades; ferro e outros metais já conhecidos, um rio de navegabilidade possível, um clima planáltico susceptível de fixação de raça branca (Angonia), muito perto da região produtora, são elementos fundamentais na transformação da vasta bacia do Zambeze em território português, e em especial na zona de Canora Bassa.

Em contrário do dito gentílico «acabou o trabalho», parece ser possível afirmar que Cahora Bassa significará no futuro «começou o trabalho».

1 Parecer dai Contas gerais do Ultramar de 1955, p. 428.

1 Idem, Idem.