mais ainda, muito briosa se mostra do seu poder de transmissão cromossomática. E de tal forma que o Prof. Marnoco e Sousa não esqueceu uma referência a vários autores que chegaram ao delírio de descobrirem no corpo social todos os elementos anatómicos e histológicos que constituem o corpo individual, se não com o brilho descritivo de Testut, sem dúvida com toda a hábil competência de gemais mestres de Direito.

Ao planear-se o sistema destinado a zelar pela saúde de todos os portugueses há que partir - como premissa primária, por ser causa e efeito - desta realidade fundamental que é a coexistência de doentes, ou possíveis doentes, por um lado e de médicos por outro. É em volta deste motivo que se tem de desenvolver toda a partitura, quer se dê uma importância igual ou variável à profilaxia, à cura e à recuperação a que se refere o n.º 2 da base II.

Infelizmente nunca há-de constituir problema a falta de doentes, mas outro tanto não se pode garantir quanto aos médicos.

Nunca se registou no nosso país um fenómeno pletórico entre os médicos, o que não se deve confundir com a luta pela sobrevivência resultante de uma grave insuficiência de meios materiais para o desenvolvimento das carreiras médicas.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Verifica-se, pelo contrário, uma alarmante falta de profissionais - falta que se mostra com nítida tendência para se agravar em virtude de se observar um acentuado acréscimo demográfico e se registar um progressivo e preocupante desinteresse da juventude pela carreira médica.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - Este desinteresse, facilmente confirmado pela leitura das estatísticas relativas à frequência nas três Universidades, não é devido ao menor aparecimento de vocações, mas à evidente e desencorajante dificuldade de se atingir até aquela mínima compensação de um trabalho formativo verdadeiramente exaustivo. Realmente, só nas proximidades dos 30 anos vislumbra na linha nevoeirenta do horizonte os contornos esbatidos da terra dos seus sonhos o moço já encanecido pelo estudo e pelo sacrifício.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não se infira, porém, do exposto que estou com uma visão unilateral, egocentrista por deformação profissional, imprópria desta Assembleia. Cons-

cienciosamente julgo que os verdadeiros usufrutuários daquilo que aqui mostro desejar restabelecer mais do que os médicos são os próprios doentes ...

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: -... para os quais realmente quero orientar a bússola das minhas considerações.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - É urgente e absolutamente indispensável cuidar do ambiente social da medicina portuguesa, também vítima da acção degenerativa dos novos conceitos surgidos no pós-guerra de 1945 e que tanto abalaram o famoso alicerce hipocrático.

E antes de tudo o mais porque a eficiência do novo estatuto se há-de registar na razão directa do mérito dos médicos ao seu serviço.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes:-Muito bem !

O Orador: - Há ainda a considerar uma outra qualidade que se for desprezada algo resultará em prejuízo para os doentes. Essa qualidade não se adquire rio curso geral da Medicina nem no labor para a especialização. É uma virtude particular da vocação que se desenvolve, reduz ou apaga consoante o ambiente em que o clínico promove a sua actividade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador:-A guerra alterou a face do Mundo e veio burocratizar e mecanizar a prestação dos serviços médicos, mas esse imperativo da nossa época tem de se processar sem o desprezo por aquele poder subjectivo, intrínseco, particular de cada médico, nem pela humanidade do doente.

O primeiro grande passo dado em frente para se restaurar a dignidade da medicina portuguesa e, consequentemente, para se dar a melhor eficiência ao serviço da saúde e de assistência verificou-se em Agosto de 1958 com a criação do respectivo Ministério. Muitos e sinceros louvores são devidos à concretização de tão velha ansiedade e só um reparo salta ao meu pensamento nesta altura em que tenho de me imiscuir nos delicados problemas da administração pública. Quero referir-me a desoladora incompatibilidade que