O Orador: - E não é só para o Governo que alarmadamente apelo: apelo também de igual modo para a nossa hierarquia católica, na certeza de que só da mais estreita conjugação de esforços entre o Estado e a Igreja poderá sair alguma coisa de útil que faça, sem demora, frente à demolidora obra dos sequazes de Moscovo, que parece pensarem estar já em terreno conquistado. E pelo menos, aparentemente, não lhes podemos negar razão.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: quando na última sexta-feira me dirigia de comboio à minha querida Braga encontrei, e comigo alguns colegas desta Câmara e outros amigos, um punhado de jovens de ambos os sexos, que iam de visita à velha cidade de Coimbra, denunciando uma mentalidade tão estranha e insólita que, quando cheguei a casa, logo tomei à mão os apontamentos que sobre o assunto havia recolhido para assim poder prontamente pedir a V. Exa. me concedesse a palavra. É que, na verdade, há que encarar de frente o problema.

Que se está de verdade passando com a juventude portuguesa?

Há incontestavelmente alguns aspectos positivos; a alguns deles podemos mesmo chamar virtudes novas, qualidades próprias da geração que agora desponta para a vida. Os rapasses e raparigas de hoje são talvez mais sinceros e simples, procuram ir ao âmago das coisas, gostam de pensar por si, sem preconceitos e disfarces - com certa irreverência, por vezes, e têm com frequência, e ainda, bem, a paixão do social. Querem um Mundo melhor.

O Sr. Rocha Cardoso: - Bem observado!

O Orador: - Há bastante gente nova a quem entusiasma o desejo de viver uma vida autêntica, verdadeira. Não se contentam com a mediocridade, proclamam-se insatisfeitos e decididos a corrigir as actuais deficiências. Ainda bem, volto a repetir.

Os pais e mães de família conscientes, e com eles todos nós, sabem, no entanto, que há neste quadro sombras e sombras assustadoramente negras. Por isso, todos vivemos ansiosos e em sobressalto pelo futuro dos nossos.

Restringindo-se à juventude escolar que frequenta o ensino secundário, todos perguntam: os nossos rapasses e raparigas sairão dos cursos secundários com preparação capaz e suficiente para a vida? E os que continuam os estudos estarão aptos a resistir ao embate das influências perniciosas e da desorientação que reina nos meios universitários?

Infelizmente, a resposta está dada pelo panorama que se nos oferece.

Não falemos já da ânsia da gente nova em se guiar apenas pela própria cabeça e não dar contas a ninguém e da lamentável indiferença que tantos mostram pela vida em família. Mais graves, muito mais graves, são os casos de desagregação espiritual que se estende a um sector enorme da nossa juventude - e o pior não é ser enorme, é ser cada vez maior. Estou a pensar no sucesso dos teddy-boys, nos chamados "convívios", e "encontros", para onde iam os meus pobres companheiros de viagem da última semana, no tristíssimo e infelizmente já célebre cortejo académico que ensombrou o prestígio da velha Universidade, cujas glórias, seja qual for a sua linhagem, se confundem com as mais lídimas glórias da Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em resumo: se na verdade a árvore se conhece pelos frutos, há, sem dúvida, vícios profundos na educação da gente nova que é preciso remediar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As inteligências tomam-se emocionais, perdem a solidez, o poder de raciocínio, e, sobretudo, perdem o critério da verdade e da mentira, tornando-se assim presas fáceis do marxismo e das ideias mais demolidoras. Com que tristeza vi no grupo a que me refiro acima um moço que ainda há pouco conheci senhor de puros e bons ideais?! As consciências e as vontades de grande número de jovens do nosso tempo estão a tornar-se vazias de sentido, já pouco ou nada lhes dizendo palavras sagradas como as do bem e da justiça, do amor, da família, dos próprios nomes de Deus e da Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: trata-se, como acima digo, de um problema de vida ou de morte para esta Nação.

Só pergunto: que futuro terão os nossos conceitos e as nossas instituições? Que será das nossas queridas províncias ultramarinas? Que será feito de Portugal cristão se não procurarmos estudar a sério as causas do mal e não pusermos mãos à obra para as remover e remediar?

O Sr. Pinheiro da Silva: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Quero dizer que tenho acompanhado com o máximo respeito e a máxima atenção as palavras que o Sr. Deputado Santos da Cunha vem proferindo. Como professor liceal que sou, tenho obrigação de conhecer alguns aspectos por S. Exa. apontados, quando não todos. E posso afirmar que, actualmente, nos liceus se nota uma falta terrível de professores moral, profissional e, sobretudo, politicamente bem formados.

Vozes: - Muito bem!