tório da Organização Internacional do Trabalho deu a Portugal na inquirição a que ela procedeu no ultramar.

O Sr. Brilhante de Paiva: -Muito bem!

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Burity da Silva: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: um ano decorreu após os acontecimentos que ensanguentaram a nossa província de Angola.

Não valerá a pena aqui reeditar as causas próximas e remotas que deram origem àqueles acontecimentos. Elas são sobejamente conhecidas e bem sabemos a finalidade que as determinou

Servir os objectivos neocolonialistas que há muito se processam por parte da alta plutocracia em conjunção paradoxal com a política de penetração determinada pela Rússia na sua diabólica finalidade de assentar suas bases operacionais no continente africano.

Bem sabemos não serem os interesses dos africanos que preocupam os autores dessa acção que se desenvolve em África sob o rótulo de promoção das gentes daquele continente aos benefícios do progresso e da civilização.

Há muito e desde sempre ficou demonstrado que o problema da comunidade portuguesa disseminada pelos cinco continentes, formando uma sociedade multirracial de padrão único no Mundo, de forma alguma se pode enquadrar nos aspectos que aparentemente determinaram os neonacionalismos africanos.

Na África Portuguesa não estão apenas em causa direitos históricos, que os altos interesses económicos das grandes nações fomentadoras do estado de guerra naquele continente procuram hoje destruir como se fosse possível sobrepor intrinsecamente aos valores humanos concepções artificiais de cobiça e de ganância que plutocratas e comunistas desencadearam encapotadamente sobre a nossa terra, arrastando para tão nefasta aventura turbas inconscientes à mistura com criminosos oportunistas que chefiam os bundos de terroristas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ali estão também os imperativos da nossa sobrevivência, cujo futuro temos de encarar à margem das solicitações que dão pelo aliciante rótulo dos chamados ventos históricos.

Sem deixarmos de debruçar-nos sobre o nosso tempo, não será difícil verificarmos a alternativa que nos oferecem os acontecimentos em que fomos envolvidos:

Ou uma fictícia independência, face à qual, e perante os múltiplos aspectos que caracterizam os neonacionalismos africanos, teríamos fatalmente o choque das

populações locais na sua diversidade étnica, cultural e social a digladiarem-se pela supremacia do poder;

Ou, admitindo ilogicamente a predominância apenas dos autóctones na condução dos novos rumos para que pretendem encaminhar a nossa África, relegando-se para planos secundários todo o resto das populações que ali vivem; que ali nasceram e os que ali se fixaram há séculos, o que seria absurdo, e então surgiriam naturalmente as rivalidades tribais, como a experiência dolorosamente já evidenciou em outros territórios de África.

Outra coisa não desejam os mentores de tais reacções, dado que a sua finalidade é justamente dividir para reinar. E quanto maior for o caos, a desordem e o desentendimento, melhor são servidos os seus inconfessáveis fins.

Seria o pretexto para a O. N. U. intervir com os seus sequazes, constituídos por indianos, tal como se passa nus nossas vizinhanças, e toda a heterogénea amálgama de aventureiros e criminosos, de famintos e carniceiros que os países comparsas dessa ridícula farsa, em que os principais actores, muito mal disfarçados, são os grandes blocos que a sustentam com os necessários meios e os restantes são as marionettes, os testas-de-ferro, aproveitariam exportar para as nossas terras.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ë esta a antevisão implícita do resultado das manobras que se tecem sobre o nosso ultramar e começaram por essa nossa heróica Angola.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: a eloquência dos factos em si mesmos traduz melhor os fenómenos do que as conjecturas que se possam fazer acerca destes ou até os conclusões lógicas, evidentes, a que o raciocínio esclarecido conduz.

Fiz atrás a dedução, em face de tantos exemplos que em nosso redor decorrem, do panorama a que conduziria a subversão que as manobras plutocráticas e da terceira força internacional, o comunismo, tentam implantar no ultramar português.

O importante diário parisiense L'Aurore em artigo de fundo publicado ontem na capital francesa, intitulado «As chacinas de Angola», pergunta, em face dos factos apontados naquele editorial, e eu faço a mesma pergunta:

Que dirão agora os pontífices do Manhattan à luta de terroristas que se matam uns aos outros?

Publicado, embora, hoje na imprensa portuguesa, não deixa de ser oportuna, aditando as minhas conclusões anteriores, a reprodução, que nem carece de comentários - sim, é caso para dizer: sem comentários!-, do extracto daquele editorial.

Recorda Henri Benazet que há um ano principiaram as actividades terroristas no Norte de Angola e prossegue: «A luta sangrenta opõe cada vez menos- os rebeldes aos portugueses. Actualmente, são os terroristas que se assassinam, com frenesi, uns aos outros».

Escreve o articulista que «a guerra está aberta entre dois partidos rebeldes» e refere-se ao comunicado distribuído em Léopoldville por Marcos Cassanga acusando o chefe da U. P. A., Holden Roberto, da chacina de 8000 angolanos.

Benazet pergunta quais são os motivos profundos da rotura entre o M. P. L. A. e a U. P. A. e responde: «Antes de mais, trata-se de um conflito pessoal entre os dois chefes, Mário de Andrade, presidente do M. P. L. A., amigo de Sekou Touré,