As últimas reformas governativas, de há um ano para cá, falam bem alto, neste sentido, o caminho direito da verdade integral que todos unicamente buscamos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Temos pressa de chegar. Mas isso não impede que a marcha tenha de ser pensada, até para que a nossa imprevidência ou precipitação não vá servir de armadilha por que o inimigo astuto nos possa colher.

Vozes: - Muito bem1

O Orador: - Partimos da tábua comum da Constituição. Alegra-me verificar a absoluta concordância de todos nós dentro deste ponto intangível. Quaisquer reclamações devem vir enquadradas na perspectiva constitucional da Nação unitária.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E assim que todas os nossas palavras dentro desta Casa, diga-as um Deputado do continente, das ilhas ou do ultramar, ampliam sempre um eco da Constituição ou visam atingir desvios que dela se fizeram.

A precisão de certos conceitos pode parecer que nos distancia, porque o desencontro dos termos que pretendem vestir as ideias nem sempre alinha pelo formalismo dos nossos próprios quadros mentais; mas a alma profunda dos factos é, felizmente, igual para todos nós.

Espero que as intervenções dos Deputados por Moçambique tenham tido para esta Camará a maior utilidade, tanto pelo ardente patriotismo que as ditou como pela objectividade que sempre as caracterizou.

Não nos foi possível, em tão breve espaço de tempo, desfibrar miúdamente cada um dos problemas. Algumas das linhas essenciais ficaram, porém, traçadas. Sinceramente acredito que esta Assembleia venha a consagrar ao nosso ultramar um amplo debate, em que os seus problemas vitais, depois de devidamente estudados e estruturados por especialistas de escol, seriamente se vejam, discutidos e prontamente solucionados.

Nunca pretendi insinuar que a prudência que nessa caminhada nos deve guiar haja- de excluir a prontidão nas medidas a adoptar, pois, numa altura em que precisamos de percorrer em semanas o que antes poderíamos levar anos a cobrir, um atraso, mesmo ligeiro, representaria, porventura, a perda irreparável. Não há muito que Salazar o afirmou desassombradamente. Rondam-nos ameaças apocalípticas de dentro e de fora. O nosso excesso de confiança é certamente uma delas. Bem se viu em Angola.

Na própria madrugada da sanguinolenta chacina de há um ano, apesar de há cerca de uma década alguns dos mais solertes conhecedores do fenómeno africano virem chamando a atenção das autoridades para a tempestade que se acastelava no horizonte e não obstante os avisos de serviçais fiéis de cor, feitos apenas a alguns dias do início da pavorosa sangueira, ainda havia quem não acreditasse, quem tudo considerasse criação de fantasias exaltadas. Lealmente me pergunto se em Moçambique não andaremos um pouco adormentados.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Atidos ao verniz exterior das aparências, nem sempre atentámos como devíamos a possíveis epicentros de futuros abalos, de que a lava subterrânea pode irromper, de uma hora para a outra, a tentar subverter a obra grandiosa de séculos.

Temos necessidade de inadiáveis reformas económicas, sociais e culturais, como os meus ilustres colegas o eu próprio já mais de uma vez sublinhámos à Cumaru. Mas, por veloz e eficazmente que venham, sairão todas, frustradas se previamente se não criar o ambiente de inteira segurança, capaz de prontamente eliminar os potenciais agitadores que se acoitam na sombra, à espera da hora marcada para tombarem como abutres sobre nós.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quero ser mais claro do que nunca, Srs. Deputados.

A minha educação política, a posição inequívoca que, pela graça do Deus, sempre mantive desde os bancos escolares até hoje e um pouco as afirmações que tenho feito nesta Câmara não permitem que às minhas palavras de hoje possa atribuir-se outra intenção além da que liquidamente delas decorre.

Todos sabemos, Srs. Deputados, que a Rússia tem os olhos postos sobre o continente africano. O leitor português não precisa já de recorrer a obras estrangeiras paru ter à mão as provas irrefutáveis do longo processo histórico deste progressivo interesse do comunismo internacional pelo continente negro.

O documentado estudo de Alejandro Botzáris África e o Comunismo, juntamente com a obra Portugal na África Contemporânea, de Richard Pattee, bastam para para nos darem as peças fundamentais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Há, porém, um pormenor para que ouso chamar a atenção de VV. Exas., Srs. Deputados. Se o bloco afro-asiático se empenhou, encarniçadamente, por que o ano de 1961 exterminasse em África toda a presença europeia foi porque, antecipadamente, Kruschtchev, o mais sanguinário déspota da história, proclamara que esse uno seria o da extinção de todos os colonialismos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Todos, entenda-se, com excepção do pior, do mais tirânico - o russo-, que implacàvelmente se exerce sobre milhões de homens livres, detentores de civilizações bem superiores à da própria Rússia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Lenine prescrevera, já em 1920, no Esboço Preliminar das Teses sobre Problemas Nacionais e Coloniais:

Em primeiro lugar (...) todos os partidos comunistas devem ajudar o movimento de libertação burgueso-democrática nesses mesmos países, e (...) o dever primordial de prestar ajuda mais activa ao dito movimento corresponde aos trabalhadores das nações das quais depende o país atrasado, como colónia ou como país economicamente dependente.