Moçambique, na esperança de que entre na vontade dos que devem andar atentos aos mais ligeiros rumores do perigo, para que a tempo tudo previnam e não tenhamos depois que chorar, amargamente, a nossa imprevidência e credulidade, atabalhoando remédios tardios e quem sabe se inúteis já.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Só assim essa nossa admirável província continuará integralmente portuguesa.

Só assim temos direito a fechar tranquilamente os olhos, certos de que as gerações de filhos que vierem render-nos, através da jornada adusta, séculos fora, hão-de empunhar, orgulhosos de nós, o facho sagrado que depusemos, a arder, nas suas mãos.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Armando Cândido: - Sr. Presidente: no próximo mês de Agosto o Município de Vila Franca do Campo pretende comemorar o 4.º centenário do nascimento de Bento de Gois.

Para despertar em todos os portugueses o mais patriótico interesse nada mais seria preciso do que esta breve notícia.

Bastaria ainda levar a deliberação daquele Município açoriano ao conhecimento do Governo para este lhe dispensar o seu melhor apoio.

Mas parece que tudo quanto Portugal fez no Mundo e para o Mundo, de modo a desafiar a força corrosiva dos anos e a acção demolidora das paixões, deverá agora ser lembrado e relembrado com abundante cópia de pormenores. E como se a verdade maciça e aceite como indiscutível tivesse constantemente de ser dissecada e patenteada, fibra por fibra, ou tivesse, para o efeito, de regressar, sempre que fosse posta em causa, às fases do seu processo, aos mesmos caminhos, lances e provas - a todo o itinerário da sua realização.

Nunca a história autêntica foi posta tanto em dúvida para ser tão diminuída, nem a consciência universal foi posta tanto em crise para ser tão abalada.

Também nunca se viu o interesse egoísta e a sanha ideológica procurarem entregar assim o valor do passado ao total esquecimento ou à total deturpação.

Isto nem é compreensível nem é tolerável e reclama da nossa parte a pronta mobilização de todas as energias.

Há que restaurar nas inteligências a dignidade de pensar, redobrar de esforços no apostolado da razão e do direito, travar intensa batalha pela supremacia do espírito. Puni tanto teremos de levar a cabo, ainda com mais ardor, a campanha de esclarecimento do público internacional em que estamos já tão profunda e convictamente empenhados.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - À roda das nossas ameias não estão só os inimigos naturais. Também alguns que se dizem amigos se juntaram declarada ou disfarçadamente às hostes dispostas ao assalto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ë a triste e espantosa aliança do ódio com a fraqueza ainda há pouco denunciada por Adriano Moreira.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Porque não entendemos, como ele não entende, que possa ser acusado de padecer de imobilismo «um país que sustenta ser necessário que o espírito europeu continue a projectar-se universalmente».

Porque não entendemos, como ele não entende, «que se considere dinâmica a política que reduziu a Europa às fronteiras actualmente mantidas com tanto susto e incerteza».

Porque também não conseguimos compreender o dinamismo da fuga às responsabilidades e à palavra dada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Porque não damos outro nome á demissão suicida que não seja suicídio.

Porque não podemos acreditar em que as nações se livrem de prejuízos atentatórios da sua independência e muito menos se reforcem ou engrandeçam desperdiçando a sua integridade territorial e humana através de cedências e entregas injustificáveis que por vezes envolvem a exposição dos próprios flancos à preponderância ameaçadora do inimigo.

Porque repartimos pelo Mundo o pão da fraterna convivência, em vez do pomo da azeda discórdia.

Porque não desistimos de acreditar nos bens do sangue, na irradiação dos grandes exemplos que dormem iluminadameute no sossego do tempo, nos elos forjados pelas gerações que precederam a nossa e que devemos forjar também com o pleno sentido da fidelidade na continuidade.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - Então, se a maior tarefa que se nos impõe é a de fazer valer a verdade, aproveitemos todos os argumentos, todas as ocasiões, todos os verdades.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Afinal quem é esse homem que nasceu na ilha de S. Miguel, em Vila Franca do Campo, e praticou tão extraordinárias obras que o Município da sua terra não tem dúvidas em festejar e exaltar-lhe a memória com a mais fervorosa vontade e a mais sentida compreensão, através de oportunas comemorações, às quais o País, representado pelo seu Governo, não deixará de associar-se inteira e justamente?

Com as águas do baptismo recebera o nome de Luís, e ninguém poderia suspeitar que a Providência lhe reservara um dos lugares cimeiros entre os mais destacados varões da Pátria.

Também numa terra pequena e distante, mais pequena por causa do terramoto que a destruíra 40 anos atrás e mais distante pela demora que tinham as velas em demandá-la, poucas ou nenhumas deveriam ter sido as oportunidades para Luís Gonçalves revelar o seu génio, capaz de acender estrelas nos armamentos da transcendência humana.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sabe-se que viveu em Vila Franca do Campo, pelo menos até àquele dia de Julho de 1582 em que se finaram no mar, em frente àquela vila, e com a derrota da armada de Strozzi, as esperanças da nossa causa, prolongadas na resistência do prior do Crato - o derradeiro lampejo de batalha, o último reduto em pé de guerra.

Vozes: - Muito bem!