Estamos já longe de 1928, dos primeiros entusiasmos, do início da obra, das primeiras sementeiras, mas rectifique-se ou corrija-se o que for preciso.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Teles Grilo: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: desde que aceitei o honroso encargo de representar nesta alta Câmara os interesses do distrito de Vila Real e assumi deste modo a obrigação moral de estar atento aos problemas, e correlativas soluções, que a esse distrito especialmente respeitam, não podia ignorar, e muito menos deixar de acentuar, a extrema importância que para as gentes transmontanas do Noroeste da província teve, e tem, a boa nova da instalação no Norte do País de uma unidade industrial para desidratação de vegetais e outros produtos alimentares.

O facto reveste-se, efectivamente, do mais alto interesse económico e social para a região em que essa unidade industrial venha a constituir-se, bastando referir, a tal respeito, que ela deverá ter a capacidade para produzir de 6000t a 12 000t de desidratados por ano, conforme a sociedade interessada (a Sper - Sociedade de Intercâmbio Comercial e Industrial, Lda.) indica no requerimento que dirigiu a S. Ex.ª o Ministro da Economia a solicitar licença para a aludida instalação.

Além de que não é de menor importância saber-se que o empreendimento terá «de recorrer aos serviços de, pelo menos, vinte engenheiros agrónomos e regentes agrícolas que possam dar assistência técnica indispensável à lavoura local», como se escreve no memorial que acompanhou o requerimento atrás mencionado.

Desse memorial há que destacar, aliás, determinadas afirmações que bem demonstram a seriedade e a viabilidade económico-financeira de tal empreendimento e que são de molde a justificar esse alvoroçar de esperanças que irrompeu e agora acalenta o peito dos sacrificados rurais do Norte.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Por exemplo, diz-se aí que «Portugal é um país com grandes possibilidades de desenvolvimento da exploração de produtos hortícolas, especialmente no Norte, em regiões onde a água é mais abundante», e que «dadas as condições actuais do trabalho em Portugal, designadamente o nível dos salários, as condições gerais da economia e do fisco», podemos seriamente encarar a possibilidade de exportar os nossos produtos hortícolas e outros de natureza agrícola e pecuária, depois de desidratados, em óptimas condições.

Deste modo, uma indústria de desidratados montada em Portugal não só será fonte de divisas, tão necessárias à Nação, como satisfará uma necessidade fundamental interna, tornando-nos independentes do estrangeiro relativamente a um produto-base que é hoje de capital interesse nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Rocha Cardoso: - E valorizar as barragens.

O Orador: - «Deste modo, o projecto em estudo assegurará o desenvolvimento da economia rural portuguesa, pois grande número de produtores na região em que o empreendimento se estabelecer poderão obter melhores preços pelos seus produtos e, consequentemente, assegurar aos trabalhadores melhores condições de remuneração».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estas as perspectivas que a própria sociedade interessada nos descreve.

Excelentes, sem dúvida, são, por isso mesmo, susceptíveis de desencadear um largo movimento de influências junto das esferas competentes, em ordem a possibilitar que o benefício anunciado venha a ser concedido a determinada região, em detrimento de outra, com melhores direitos.

Ora é precisamente sobre este ponto que vou deter a minha atenção, pois me parece que o problema da escolha do local para a instalação da indústria de desidratados em referência deve merecer solução altamente conscienciosa, isenta, imparcial, só dependente da consideração de verdadeiro interesse nacional, neste caso aquilatado através do verdadeiro interesse da região que vier a ser escolhida.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Pretende-se uma solução justa que tome na devida conta todas as circunstâncias, todos os factores, todos os aspectos.

Há ainda que não perder de vista certas vantagens e especiais conveniências de ordem política, já que empreendimentos de tal envergadura, por não serem vulgares, e dadas as suas profundas e fecundas repercussões de carácter económico e social, fautorizam sempre um clima naturalmente propício à receptividade e expansão do ideário político do Estado Novo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A referida unidade será instalada no Norte do País, competindo aos serviços competentes do Ministério da Economia indicar o local que julgarem mais conveniente para essa instalação.

É, pois, o Governo que decidirá nesse aspecto.

E essa decisão envolverá um juízo de preferência sobre determinada zona, o qual só virá a ser formulado indubitàvelmente depois de muito estudo e de muita ponderação, já que o Governo tem de estar sempre postado naquele alto plano onde afloram, libertas de todo o condicionalismo, as eminências do interesse nacional, de que ele é, orgulhosa e permanentemente, submisso escravo!

O Sr. Rocha Cardoso: - E deve sê-lo sempre.

O Orador: - E tem-no sido.

Nesta ordem de ideias, e apenas no intuito de cumprir, aliás gratamente, com um dever de consciência imposto pelo honroso mandato que aqui me foi confiado, ouso chamar a atenção do Ministério da Eco-