Por sua vez a Academia de Música de Espinho inaugurou as suas actividades docentes em Outubro de 1961, com a frequência de 95 alunos, um corpo docente constituído por 8 professores e tendo em funcionamento as seguintes classes: Iniciação Musical, Solfejo, Piano, Violino, Violoncelo, Instrumentos de Sopro, Canto Coral e Ballet.

Trata-se, como se vê, de instituições de propósitos sérios o de orientação segura e, algumas delas, como também se mostra, com exuberantes provas já dadas do seu labor, da sua proficuidade e da eficiência da sua acção.

Vozes: - Muito bem!

o desenvolvimento de uma obra grandemente meritória, as escolas de música que vêm sendo fundadas pelo País além e cuja vida não seria possível sem tais substanciosos auxílios, e bem assim os das juntas distritais e os das câmaras municipais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O milagre da sobrevivência desses institutos assenta, pois, essencialmente nas subvenções e nos auxílios prestados por essas instituições - a Fundação Gulbenkian, as juntas distritais e câmaras municipais -, já que é assaz modesto o contributo das associações que têm a seu cargo a manutenção dessas instituições e constituem a sua base jurídica.

Raramente o Estado subsidia tais instituições; e se subsidia é um tanto a título precário e sem a continuidade necessária, a tornar, se não desafogada, ao menos não tanto penosa a vida destas instituições.

Assim é que, e a título de exemplo, um subsídio de 50 000$ concedido à Academia de Vila da Feira por intermédio do Ministério da Educação Nacional nos anos lectivos de 1959-1960 e ]960-1961 foi-lhe retirado ou não lhe foi atribuído (o que o mesmo é) no ano lectivo corrente.

Como é facilmente compreensível, o corte deste subsídio tornou muito difícil a vida administrativa da Academia; e seria mesmo f atal para a sua sobrevivência se não fosse o espírito de abnegação da sua ilustre directora e dos seus professores, que levam o seu sacrifício ao ponto de, por vezes, renunciar aos seus honorários para que a escola sobreviva.

Mas não se pode, Sr. Presidente, sobretudo não se deve, deixar que estas instituições tenham uma vida administrativa tão difícil e tão penosa por vezes e que o Estado permaneça insensível a essas dificuldades e guardando ciosamente os seus dinheiros se retraia de subsidiar tais iniciativas e de lhes valer com os seus auxílios monetários.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não está isto certo - até porque o que se pede ao Estado é bem pouco: a atribuição a cada escola de umas pequenas dezenas de contos. Já isso seria o bastante para tornar mais desafogada a vida de cada uma.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: o nosso primeiro teatro dá anualmente ao Estado um déficit de cerca de 5000 contos. E uma grande parte desse dinheiro vai para o estrangeiro.

Ora bastava que aí, por exemplo, se fizesse a parca economia de uns pequenos centos de contos por ano e depois os distribuíssemos pelas escolas de música do País para se melhorar largamente as condições da vida administrativa destas escolas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: todos nós estamos seriamente empenhados na educação e formação da juventude. É um tema, este, que tem merecido nesta Assembleia a atenção de muitos Srs. Deputados e à volta do qual se têm bordado as mais judiciosas e oportunas considerações.

E de facto nada mais imperioso, nada mais urgente, do que preparar convenientemente a mocidade de hoje para continuar o Portugal de amanhã.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ora essa preparação para ser capaz há-de ser feita no culto dos altos valores do espírito, ou seja à base de uma cultura, completa, de uma cultura integral, e esta só o pode ser quando compreender e abarcar o culto das belas-artes e, pois, da boa música.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: vou terminar. Levantei por um momento os olhos da terra e volvi-os para as estrelas.

Pode ser que volte um dia a contemplá-las de novo. Nem só de pão vive o homem ...

Por hoje, o que quis foi, além de agradecer ao Governo a prova de alto apreço com que distinguiu a Academia de Música da Feira, chamar a atenção desta Assembleia e do País e essencialmente do Governo para este movimento cheio de interesse, de difusão e divulgação do ensino da música, e solicitar que o Governo vá sem demora ao encontro deste mesmo movimento com os auxílios materiais necessários e com as reformas que seguramente se impõem.

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.