O Sr. Nunes de Oliveira: - Sr. Presidente: poucas vezes tenho falado em assunto que me seja tão grato como aquele que hoje trago à vossa consideração, relacionado com a investigação científica.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Embora tivesse pensado em enquadrá-lo numa intervenção que tenciono fazer nesta Assembleia, decidi dedicar-lhe entretanto algumas palavras perante a exposição há pouco publicada pelo Instituto de Alta Cultura e que traduz a sua actividade durante a última década. Não pude deixar por mais tempo em silêncio a minha voz, para, em singelas mas justas palavras, manifestar à direcção do Instituto de Alta Cultura o meu apreço pela obra meritória e equilibrada que vem a desenvolver há, aproximadamente, 33 anos.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tendo sido o Instituto, criado no ano de 1929, o principal impulsionador da investigação científica, com a orientação seguida no sentido de preparar pessoas que pudessem prestar ao País os mais significativos serviços, ficamos surpreendidos como é possível com tão diminutos recursos como os que correspondem às dotações que lhe são facultadas desenvolver um plano de acção com a eficiência que todos os que vivem estes problemas reconhecem;

Mas não se limitou o Instituto de Alta Cultura apenas a enviar bolseiros aos melhores centros de investigação no estrangeiro. Procurou dar-lhes, em certa medida, condições de trabalho e a possibilidade de criarem e orientarem novos investigadores, para o que foram estabelecidos vários centros de investigação, distribuídos da forma seguinte: 27 em Lisboa, 12 em Coimbra e 10 no Porto, alguns dos quais compreendendo duas ou mais secções. Na sua maioria esses centros foram criados junto das Universidades e a todos foi dada a direcção de um professor universitário.

Como muito bem se diz nessa exposição, a orientação seguida «permite recrutar no último ano das licenciaturas aqueles alunos que parecem melhores e que pretendem vir a ser candidatos a assistentes e, como consequência natural, a professores universitários. Aí têm as maiores possibilidades de se dedicarem ao labor científico e à especialização pretendida, fomentando-se assim o ambiente, propício à investigação».

No período de 1951-1960 o número de bolsas de estudo fora do País foi de 949 e o de bolsas de estudo a investigadores no País de 1903, tendo-se despendido, respectivamente, as importâncias de 19 113 869$30 e 28 625 075$90.

Estas bolsas abrangeram os mais variados sectores, como medicina, engenharia, farmácia, agronomia, medicina veterinária, ciências matemáticas, físico-químicas e naturais, direito, ciências sociais, economia, letras, urbanização, etc.

Mas não ficou por aqui a importante acção do Instituto d e Alta Cultura, visto que proporcionou a estada em Portugal de muitos estudiosos pelo serviço de trocos académicas ou ao abrigo de acordos culturais.

Também é de pôr em evidência o patrocínio dado à vinda de numerosas individualidades estrangeiras que ocupam lugar de relevo nas ciências, nas letras e nas artes para tomarem parte em reuniões e colóquios, realizando conferências, lições ou cursos de curta ou longa duração, etc.

Têm os estudos de energia nuclear merecido a mais vincada atenção e daí a verba despendida pelo Instituto de Alta Cultura no período entre 1952-1960, que foi de 43 267 026$60.

Não vou aqui referir, para não alongar demasiado estas considerações, os trabalhos saídos dos centros de investigação criados pelo Instituto de Alta Cultura, mas posso afirmar que são muito numerosos e alguns de real valia. Suponho não ser ousadia da minha parte afirmar também que o País começou já a colher benefícios dessa profícua actividade do Instituto, contribui ndo, sem dúvida, para o nosso progresso científico e para o nosso prestígio intelectual no estrangeiro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Julgo não poder sofrer desmentido a afirmação de que, salvo alguns louváveis exemplos, se investiga muito pouco em Portugal nas empresas de carácter privado.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: -A tendência, como já tive oportunidade de escrever, para percorrerem o caminho mais cómodo - tantas vezes o mais lucrativo apenas na aparência - impede que os grandes industriais consintam em aplicar parte dos seus lucros ao que amanhã poderia para eles representar a obtenção de lucros maiores, favorecendo, acarinhando, a investigação.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: -Ora, seria do mais alto interesse para o País que em todos despertasse uma real consciência de tão importante problema, e se operasse por parte da indústria uma modificação futura que leve ao integral aproveitamento da capacidade criadora do português, sem subordinações exageradas ao estrangeiro, até porque o nosso potencial humano em nada é inferior ao do que dispõem outros países, e com os consequentes benefícios de ordem económica e moral para a Nação.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Só faço votos para que todos os que estão ligados à indústria e vivem directa e intensamente o progresso da indústria nacional compreendam esta premente necessidade, pois dessa forma prestarão um incomensurável serviço.

Julgo poder continuar a afirmar que no nosso país a maior parte da actividade investigadora se desenvolve com o patrocínio do Estado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - São disso exemplo o número apreciável de centros de investigação que se encontram em funcionamento e a que mais adiante me referirei.

A concessão de bolsas de estudo em diversos países e em centros de investigação da mais elevada categoria tem sido preocupação que já pus em evidência, por ser da maior utilidade esse contacto como preparação pós-escolar, de forma a dispormos de um escol de investigadores que venham a desenvolver uma acção profícua e prestigiante.