Entretanto nunca é demasiado acentuar que a formação científica do futuro investigador, a criação da mentalidade de investigador, é missão que compete à Universidade. Dada a complexidade do problema, deixarei para melhor oportunidade o seu estudo atento e profundo, já que terá de envolver o ensino universitário nos seus múltiplos aspectos. Não fujo, porém, a registar desde já umas opiniões que corroboram plenamente o meu pensamento.

Numa intervenção nesta Assembleia, no ano de 1955, disse o Prof. Mendes Correia:

... fraco é o nível de um ensino universitário e de uma cultura que não se alimentam e estimulam com um intenso labor simultâneo de investigação científica.

E o Prof. Amândio Tavares, autor do relatório que despertou estas ligeiras considerações, ilustre catedrático e ex-reitor da Universidade do Porto, em judiciosas considerações, afirmou:

Não me parece que seja útil a separação das duas funções - ensino e investigação -, e, como exemplo, vemos na maioria das nações professores universitários desempenharem ao mesmo tempo, com o ensino, a missão de investigação, sem que deixem de ser bons professores e bons investigadores, se a um e outra se dedicarem exclusivamente. Demais, é principalmente nas Universidades que hoje se constróem, em cada país, as estruturas básicas do fomento económico e da própria defesa, nacional, sendo crescente a preocupação pela formação de homens de ciência, de bons técnicos, especializados nos vários sectores, e esta grande tarefa só a escola a pode realizar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não podendo a investigação bem orientada e fundamentada prescindir da Universidade, existe um problema sério de que me ocuparei no momento próprio e que respeita aos salários exíguos que aí se auferem quando comparados com os dos cientistas de igual categoria nos vários organismos oficiais e nos laboratórios da indústria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Dos organismos de investigação que há pouco referi e que se encontram a funcionar com o patrocínio do Estado, mas independentes do Instituto de Alta Cultura, contam-se o Instituto Nacional de Investigação Industrial, o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, o Laboratório de Física e Engenharia Nucleares, a Estação Agronómica Nacional, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, a Junta de Investigações do Ultramar, os Institutos de Investigação Científica de Angola e Moçambique e o Serviço do Fomento Mineiro.

Louváveis todas estas actividades, e se nestes últimos anos a prestimosa Fundação Gulbenkian tem generosamente concedido bolsas de estudo e impulsionado extraordinariamente a investigação, pelo que todos os portugueses têm bem gravado no coração o nome de Calouste Gulbenkian e não podem deixar de significar, sempre que se lhes oferece uma oportunidade, a sua mais alta admiração e reconhecimento, não esqueçamos, por um elementar dever de justiça, que ao Instituto de Alta Cultura, apesar dos limitados meios materiais postos à sua disposição, devem quase todos esses organismos certa facilidade no recrutamento de pessoal à altura das circunstâncias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Em sentido idêntico se pronunciou o ex-Ministro da Educação Nacional Prof. Leite Pinto, ao ser investido no cargo de presidente da Junta de Energia Nuclear, quando disse:

Os países de fracos recursos devem, se não planejar a investigação, estabelecer acordo entre os vários serviços de pesquisas - os do Estado e os particulares -, por forma a aproveitar o pessoal, o material e as infra-estruturas.

Em face de um problema de tal magnitude, em que os triunfos tão claros da ciência nas suas aplicações práticas afectam mais ou menos as vidas das nações modernas, tem de se exigir uma acção impulsionadora e coordenadora da investigação em Portugal, com o apoio e colaboração das Universidades. Para tal nada mais seria necessário do que reorganizar o Instituto de Alta Cultura em ordem às exigências actuais de molde a poder desempenhar essa elevada missão.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A par doa louvores que ao Governo suo merecidos pelo muito que se tem feito, impõe-se que os problemas e as deficiências sejam apontados de forma a contribuirmos para que tudo se vá estruturando com maior segurança, porque queremos mais e melhor, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... que toda a devoção e toda a inspiração vá «revelando cada vez maior número de segredos da natureza e elevando assim o nível de vida de toda a humanidade».

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Sr. Presidente: pedi a palavra para mandar para a Mesa o seguinte

Requerimento

«Na sessão de 5 de Janeiro último requeri que, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, me fossem fornecidos urgentemente determinados elementos esclarecedores não só da atitude da Inglaterra para com Portugal perante os acontecimentos de Goa, mas também das aturadas diligências do nosso Governo no sentido de obrigar o Governo de Sua Majestade Britânica a respeitar e cumprir os tratados da nossa velha aliança tal como neles se contém e impõe.