É o caso da evolução, já marcada, da produção de carne em França, orientando a produção forraginosa no sentido do predomínio dos prados temporários devidamente cultivados.

Quanto à Europa Mediterrânica, porém, a situação agrária apresenta-se bem diferente. Se exceptuarmos os montados de sobro, uma fruticultura, embora já largamente concorrida pela dos países novos, uma viticultura, mas tão-sòmente a produtora de vinhos de melhor qualidade, uma olivicultura para satisfazer gostos tradicionais de populações latinas e latino-americanas e uma pecuária transumante, pouco mais o solo delgado e por vezes asperamente montanhoso da orla mediterrânea e o clima semiárido que impera permitem, realizar, para satisfazer, em condições económicas, as necessidades alimentares e de agasalho dos povos europeus e extra-europeus.

Desprovida de fontes de energia valiosas, de matérias-primas industriais de valor significante e de minérios ricos, a Europa do Sul não poderá, assim, na realidade, acompanhar, sem profundas convulsões, o movimento de integração europeia. Mas, por outro lado, se o não fizer, acentuar-se-á mais o atraso em relação aos países industriais da Europa.

Como única excepção, a do caso italiano, onde a zona nortenha é de feição dominantemente industrial.

Todo o resto do agrário do Sul e do Sudeste europeus sofre das condições ecológicas acima mencionadas, e por isso o movimento de integração económica terá aqui de obedecer a um condicionalismo muito mais apertado.

For razões embora diferentes, a comunidade britânica terá também dificuldades imensas a vencer para idêntica integração, circunstancias estas que não se coadunam decerto com a urgência que há em estabelecer uma unidade europeia, quanto à sua economia e vida social, como mais importante defesa perante as duas grandes forças que pretendem partilhar o Mundo contemporâneo - os blocos russo- - chinês e o americano do Norte.

E não serão também decerto reestrut urações agrárias nos países dominantemente agrários que resolverão, só por si, tão difícil situação. Fazê-lo isoladamente de outras medidas fomentadoras do progresso agrícola será pura geometria, e não saudável economia social.

Apenas uma mais fácil circulação da mão-de-obra agrícola, superabundante no Sul, permitirá facultar acréscimo de produtividade do trabalho, e assim condições de existência mais fácil desses milhões de eslavos e latinos que povoam as margens do Mediterrâneo.

A sua manutenção no sector agrícola tem sido até hoje, de facto, a principal causa do mal que aflige os povos mediterrâneos.

Vejamos agora, após esta rápida digressão pelo território europeu do Norte e do Sul, mais de perto, o caso português, procurando na análise da sua evolução notar algo, se existir, que o diferencie do agrário mediterrâneo em que está incluso. Assim melhor se poderá, na realidade, fazer o ponto nesta complexa análise da economia agrária do território português.

Dizia, em lição pronunciada perante alunos do nosso ultramar e referindo-me à epopeia do agrário português, o que se segue, que nos elucida, por forma que julgo clara, sobre as reais possibilidades que se podem antever para o desenvolvimento da economia nacional, baseada numa indústria agrícola altamente diversificada no conjunto do território:

Em época que não é fácil precisar - dizia então -, mas já teriam passado, decerto, mais de dez centos de anos, este promontório do velho Mundo era um encantador paraíso terrestre. Apenas se notavam então tonalidades um tanto diferentes do verde da manta que o recobria, espesso agasalho intercalado entre o azul do céu e do mar e o branco das neves que escondiam as cristas mais altas do Norte e do Nascente.

Para as bandas setentrionais, porém, o viço era muito maior. Ali as águas, em contínuo folguedo, saltitavam entre fragas, criando um ambiente de frescura que convidava a Natureza a desdobrar-se em prodígios de fecundidade. Era ali que se situava um fértil viveiro que foi admirável seminário responsável pelo difundir de divina paisagem por toda a terra emersa.

Nas paragens meridionais, pelo contrário, o manto era de tom acinzentado, dando a sensação de melhor suportar as cálidas aragens sopradas dos lados do sul e do nascente. E teriam sido esses ventos que, após ainda algo não tinha referido - a presença de personagem de assinalada fama e que foi o responsável pelo desabrochar da fé e da virtude ancestrais, caldeadas durante longo período de recolhimento. Era essa destacada personagem o valoroso pinheiro das Landes, que, em rasgos de ousadia, ofereceu os seus vigorosos fustes para traçar as rotas dos árduos caminhos da missão.

Ocupando lugar da primeira linha nesta maravilhosa aventura, criara o pinheiro do mar, de novo, a paisagem da harmonia, dominando, em heróicos rasgos, as várias arremetidas do joio infiel e as tentações doentias dos que o prendiam egoìstamente às terras do velho Mundo. E tão fértil foi esta sementeira que, não respeitando latitudes nem longitudes, só o ilimitado a limitou.

Fórum assim dominados empórios imensos de riquezas que tinham sido, porém, fontes de muita injustiça, embora espelhos enganadores de brilhantes e de magníficas miragens.

Espécies fundamentais à vida de toda a criação foram, a partir desse momento, dispersadas pelo Mundo. Como primeiro rumo, o das pérolas insulares, que ficavam mais perto e onde se criaram os primeiros e férteis alfobres. Depois, em viagem mais longa, até às terras de Santa Cruz, donde