O Orador: - Deixemos isso ao cuidado da comissão que um dia virá a ser nomeada e da- qual faço votos para que V. Exa. venha a fazer parte.

O segundo ponto, para o qual desejo chamar a atenção do Governo, é a criação rio instituto de ciências pedagógicas, cuja necessidade foi oficialmente reconhecida pelo Estatuto do Ensino Liceal, em vigor desde 1947. Sei que à sua criação se opõe o eterno obstáculo da carência do pessoal, docente em número e qualidade suficientes para que possa funcionar com dignidade comparável à das outras escolas superiores.

O instituto teria sobre as Faculdades de Letras o efeito imediato de afastar delas as centenas de alunos que frequentam as cadeiras de Ciências Pedagógicas, indispensáveis para a admissão ao estágio. Mais importante, porém, seria o facto de ele vir preencher uma lacuna pouco edificante no nosso sistema educativo.

Pode afirmar-se sem exagero que em Portugal, à parte louváveis e efémeras tentativas individuais, quase não existe investigação pedagógica. No entanto, a verdade é que a estatística escolar se encontra ainda em fase rudimentar, brilham pela ausência os inquéritos sistemáticos que permitam avaliar convenientemente os efeitos da pressão do Estado sobre a sociedade no campo da educação, desconhecemos a estrutura social do estudante universitário, pouco fazemos quanto á orientação vocacional, não existe um quadro de orientadores morais, fechamos tantas vezes os olhos aos numerosos perigos que do todos os lados ameaçam as novas gerações. Só um décimo cios alunos das Facilidades conclui o curso, mas ninguém ainda procurou averiguar as razões do insucesso a fim de diminuir os desastrosos efeitos que desse facto derivam.

Mil e um problemas desta natureza poderiam constituir campo de investigação dos professores e alunos do instituto, cujos trabalhos viriam esclarecer o próprio Ministério sobre o sentido em que mais conviria orientar a sua acção.

Por outro lado, a sociedade portuguesa está passando por transformações que são o benéfico resultado da continuidade de uma política nacional superiormente definida, e conduzida. A nossa visão dos problemas apura-se a cada passo dado, a cada obstáculo vencido. Temos o direito e o dever de ser ambiciosos, menos para nós do que para os nossos filhos. E não podemos aparecer na Europa, quanto mais no Mundo, com a cara envergonhada de quem veio u cidade no campo da educação.

Vozes: - Muito bem!

anterior.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esquecemo-nos facilmente de que a criação da riqueza tem a mais estreita relação com o nível do sistema educativo e que este género de investimento é o de mais garantida improdutividade para a Nação.

Vozes: -Muito bem!

consegue-se mais do que com gastos inconsiderados e sem objectivos claramente definidos.

Eliminar das Faculdades de Letras grande parte das centenas de alunos, e sobretudo alunas, que mais não procuram senão um diploma de habilitação que lhes permita encontrar lugar digno na escala social, seria uma autêntica libertação moral e material para eles. Seria para o País um sábio aproveitamento de energias e capacidades que apesar da sua modéstia têm uma tarefa a desempenhar na vida nacional.

Foi por confiar plenamente na capacidade de realização dos ilustres Ministro e Subsecretário de Estado da Educação Nacional que procurei dar este modesto contributo para a resolução de um dos muitos e graves problemas que afectam este importantíssimo sector da vida pública, que o não é só da educação, mas da economia e da própria defesa nacional.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Ubach Chaves:-Sr. Presidente: devo a um velho amigo o ter lido, há dias, uma obra com o título sugestivo Confissões dos Ministros de Portugal (1832 a 1871), de Ferreira Lobo.

Deu-se o autor ao trabalho de arquivar o nome e as declarações de todos os Ministros que durante o período referido foram ao Poder e se pronunciaram sobre economias, déficit, impostos, empréstimos, empregados públicos, contabilidade pública, orçamentos e contas públicas. Sem intuitos políticos, o esclarecido autor faz no início de cada capítulo breves comentários, e no segundo diz: «O déficit, que está para extinguir-se desde 1833, ostenta-se cada vez mais nutrido e anafado!» Além de outros quadros, vem o do «deficit manifestado