O Sr. Presidente: - Não quero pôr na palavra nenhum sentido pejorativo. Parece que etimològicamente delirar significa sair do rego. A mocidade não se adapta nos quadros tradicionais, quero dizer, aos quadros que criou mais de um século de vida burguesa. Neste sentido saiu do rego.
Nem ela nos entende a nós nem nós a entendemos a ela. O que importa saber é se devemos procurar restituí-la ao rego de onde saiu ou se, ao contrário, devemos ajudá-la a abrir o novo rego por onde há-de seguir. Inclino-me a crer que é a segunda solução que deve ser adoptada.
Vozes: -Muito bem, muito bem !
O Sr. Presidente: - Não pensemos seduzi-la com promessas de quietude ou de acomodação; não busquemos atraí-la com tentações de vida tranquila e sem sobressaltos.
Vozes: -Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente: - Isso não lhe diz nada. Agitemos-lhe o peito com o calor dos grandes ideais por que possa, em vida perigosa, bater-se e vencer. Deus e a virtude podem encher a sua vida individual; a Pátria, a família, a justiça e a humanidade podem encher a sua vida de ente social.
Mas qual é o critério da justiça? Onde está o sistema que possa defini-lo?
Não tentemos inculcar-lhe um sistema ecléctico. A mocidade é por natureza radical.
Numa conferência que fiz há muitos anos na Sala dos Capelos procurei demonstrar que o sistema corporativo não era uma mistura de individualismo e socialismo, não era um sistema ecléctico: era um sistema radical.
Falava para a mocidade.
Nele se pode encontrar um critério de justiça. Através dele se procura realizar a justiça social. Porque se não há-de, por intermédio desta realização, tornando-a patente, buscar a conquista da mocidade?
Será preciso libertá-la de muitas interferências, mas é nosso dever fazê-lo, custe-o que custar.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente: - Importa não ter hesitações na realização da nossa verdade.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente: - Outra das ideias-forças que encheram o ambiente desta Assembleia ficou expressa na ânsia de ver mantida e revigorada a unidade nacional nos territórios e populações que formam Portugal.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente: - Podem ter-se esboçado concepções diferentes acerca do modo como deve realizar-se aquela unidade. Não dei conta de que alguém, fosse qual fosse a sua concepção, deixasse de mostrar empenho em afirmar o seu portuguesismo.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente: - Ou o fizessem espontaneamente no movimento normal do discurso, ou em atitude dialéctica, o certo é que todos o afirmaram. E isso é o essencial. A unidade é uma resultante que não exclui a universalidade. Os valores são universais e há muitas formas de os captar e de os realizar. E nós fomos, como nenhum povo, mestres no respeito que sempre, e em toda a parte, tivemos pelas múltiplas formas de expressão ou de realização dos valores: dos valores religiosos e morais e até dos valores estéticos, sociais e políticos. Reconhecemos o homem em todas as raças com quem contactamos. Reconhecemo-lo como homem e como irmão, filho do mesmo Deus.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente:-Nunca procurámos eliminá-lo, mas, com espírito de missão, convertê-lo e dignificá-lo. Sempre procurámos assimilá-lo.
Haverá quem, fechando os olhos à linha geral da nossa conduta, os abra só para os momentos em que explosões provocadas de paixão ocasionam desvios daquela conduta.
E isto terá acontecido mesmo a homens nascidos em Portugal. São homens que não sabem distinguir o acidental do essencial, as reacções da guerra das acções da paz.
E prestam um mau serviço, porque, ao fazer a propaganda dos desvios, multiplicam-nos: ateiam a guerra, em vez de buscar a ordem para os eliminar.
Não se pretende esconder os factos; pretende-se que não sejam assoalhados, enquanto elementos de desordem e de ódio.
Pois, Srs. Deputados, trabalhámos com bom espírito: sem subserviência e sem rebeldias. Todos disseram o que pensavam sem outros limites que não fossem os que a si próprios impuseram.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente: - Tivemos sempre muito cheio o período de antes da ordem do dia; e também muito cheio o período da ordem do dia.
Num e noutro se trataram problemas da maior importância: de interesse geral e de interesse regional e sectorial. Creio que, ao tratar destes últimos, nunca se perdeu a noção da sua subordinação ao interesse geral.
Manteve-se sempre entre todos uma camaradagem saudável. Houve, a propósito de algumas questões, vencidos e vencedores, mas não ficaram vincos irreparáveis.
Por tudo os cumprimento e felicito.
Se alguma vez fui impertinente peço-lhes desculpa; e também lha peço se alguma vez deixei de manter a dignidade da função em que quiseram ter á grande deferência de me investir.
Tenho dito.
Vozes: -Muito bem, muito bem!
O Sr. Presidente: -Está encerrada n sessão. Eram 18 horas e 20 minutos.
O Sr. Presidente foi cumprimentado por todos os Srs. Deputados presentes.