O Orador: - Quando assistimos, dia a dia, a uma política de retrocesso no primitivismo da barbárie, que nas eras remotas admitia com naturalidade os ataques e massacres de populações livres e indefesa», perpetrados por povos de maiores recursos demográficos e bélicos contra outros menos favorecidos sol» esse aspecto, ainda que por vezes mais civilizados;

Quando a lógica da força, encapotada em afirmações de paradoxal pacifismo, nos patenteia uma situação da natureza da. que se processa contra a nossa integridade em Goa, em cujas fronteiras se movimentam os exércitos de Nova Deli, acobardados perante as forças chinesas que ocupam ostensivamente algumas zonas do seu território...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... mas pletóricos de ridícula arrogância perante aquela nossa pequena parcela de escassos 700 000 habitantes que a União Indiana, ao sabor de caprichos, pretende anexar (anexar, note-se bem, atitude estranha por parte de um membro das Nações Unidas que teoricamente ali propala o direito de autodeterminação dos povos, mesmo daqueles que, como nós, estão autodeterminados ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -... porque, a despeito da supérflua tese geográfica, posta em jogo para se tentar desmembrar a comunidade portuguesa, é incontestável que as diferentes parcelas da Nação dispersas nas cinco partidas do Mundo representam não só constitucional mente, mas humanìsticamente, o que é mais importante, uma unidade real nos espíritos e no íntimo das consciências);

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando mulheres e crianças radicadas naquela nossa parcela se vêem obrigadas a abandonar os seus lares cimentados em séculos de vivência, em lances dramáticos que significam a destruição da família e que chocam a nossa sensibilidade, fugindo à sanha, que se pressente, de hordas invasoras e assassinas que lembram as épocas recuadas do vandalismo;

Quando a Pátria se vê ameaçada na sua estrutura de Nação independente s livre;

Perante este estado de coisas, gravíssimo, que a Nação enfrenta, não podia de forma alguma a Assembleia Nacional, pela voz dos seus Deputados, deixar de definir a sua atitude, o seu pensamento, em relação à conjura internacional que continua a processar-se contra a Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

a Orador: - E, com efeito, os ilustres colegas que me antecederem nesse sentido definiram bem a nossa determinação na defesa intransigente e intemerata do património espiritual e material da grei, afirmando-se ao Mundo que entre os portugueses impera, acima de quezílias, o equacionamento necessário dos problemas internos, cuja discussão não descuraremos, uma perfeita consciência nacional, que nos momentos mais graves da história a todos congrega com a maior solidariedade para enfrentarmos juntos, com a coragem e o heroísmo de sempre, as contingências que nos espreitam.

Não há dúvida de que como aliás afirmei no jornal O Planalto, de Nova Lisboa, em Angola, em artigo que ali publiquei em Novembro, o problema de agitação subversiva não é só nosso, pois que se verifica em toda a parte do Mundo onde os grandes blocos imperialistas, os neocolonialistas. afinal, procuram estender o seu domínio económico por todos os meios, assentando os seus monstruosos interesses sobre a corrupção e o crime que instigam e alimentam da forma mais execrável e sob os mais fantásticos pretextos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... e com a qual tive o prazer de contactar pessoalmente, recolhi esta mensagem significativa- ao povo de Angola, que publiquei no jornal O Comércio de 29 daquele mês.

Dizia-me o Presidente Tchombé, textualmente, no seu fluente francês:

Quereis exemplo mais gritante? Eu cito o nosso próprio Congo, que devido a lutas raciais e tribais, às violências e depredações de toda a ordem, perpetradas na maior parte do território, oferece ao Mundo um triste espectáculo de desolação, miséria e morticínios sem conta.

Eis porque - acrescentou ainda - nós, os katangueses, porfiamos em alicerçar uma sociedade também multirracial, como pudestes observar (e na verdade assim o verifiquei) em todos os sectores da actividade onde homens das mais diversas raças, hoje sem distinções, trabalham lado a lado para um futuro melhor, pois a Katanga, como qualquer agregado, precisa de técnicos e de homens de valor, não importando a sua cor.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!