e de tratar e manter em vigilância os que têm alta do sanatório; temos de garantir a mesma vigilância com dispensário móvel àqueles concelhos e zonas que não dispõem de dispensário ou de consultas-dispensário, e temos de instalar devidamente o que respeita à reeducação e readaptarão do tuberculoso curado.

O Sr. Melo Adrião: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. Melo Adrião: - Queria acentuar um aspecto enganador da tuberculose. Estamos a entrar numa fase tal, em face dos meios médicos existentes, que amanhã poderemos encontrar tuberculosos resistentes a esses tratamentos médicos ou apresentarem localizações mais graves. Parece-me neste momento oportuno acentuar que nessa luta antituberculosa, em vez de se encarar só o problema terapêutico, deve verificar-se se o doente não se torna um instrumento de contágio activo. Para o aspecto que a tuberculose apresenta, encara-se hoje o problema mais no sentido de evitar o contágio do que propriamente no sentido imediato de pretender uma cura que pode ser enganadora na apreciação dos efeitos dessa mesma luta.

É o que, creio bem, se está a passar um pouco entre nós e noutros países onde grassa a doença.

O Orador: - Estamos inteiramente de acordo, tanto mais que o nosso trabalho no Instituto do Assistência Nacional aos Tuberculosos tem sido conduzido no sentido da descoberta precoce de casos de tuberculose, por meio de radiorrastreio e consultas nos dispensários, para podermos fazer tratamento precoce.

Presentemente intensificou-se a vacinação do maior número possível de crianças para as colocar ao abrigo do contágio. Estamos convencidos de que grande parte dos casos de resistência que aparecem são fruto de um insuficiente tratamento médico. Por vezes, crê-se que, um doente está curado por má interpretação da sintomatologia clínica que desapareceu ou por um «branqueamento» das imagens radiológicas. Querem-se resultados com dois ou três meses de tratamento. O inquérito que está em curso, actualmente, em França, e que só iniciou em 1952, e cujos resultados foram publicados ainda há poucos meses, vem confirmar a necessidade do tratamento durante um ano, principalmente para os casos de primo-infecção.

É no sentido de um diagnóstico precoce e de um tratamento precocemente iniciado e mantido durante largo tempo que estamos a orientar a nossa luta e é exactamente por isso que faço estas considerações, para que se não tenha a noção falsa de que a baixa da mortalidade por esta doença nos dá o direito de dormir sobre os resultados conseguidos.

Se não mantivermos com energia essa luta em que estamos empenhados desde 1050...

O Sr. Agostinho Cardoso: - Há, uma percentagem grande de casos que se verifica por ignorância por parte dos doentes, por falta de cuidado dos doentes contagiosos, que, não tendo qualquer situação económica que o imponha, saem do sanatório. Por isso fazem perigar os seus familiares.

V. Ex.ª, que é um distinto tisiologista, sabe isto muito bem.

O Orador: - Não sou tisiologista.

O Sr. Agostinho Cardoso: - Saem dos sanatórios não porque tenham dificuldades de ordem económica ou familiar, mas porque lhes apetece. Saem e são elementos contagiosos.

Parece que é um momento em que diminui a bicha para a entrada nos sanatórios e há regiões, como a minha, em que os sanatórios podem assegurar a entrada de qualquer doente.

Porque se não faz uma lei, que o Estado tem o direito de fazer, impedindo essas altas e protegendo as famílias dessa gente que quer ir para casa quando lhe apetece?

O Orador: - Antes dessa lei precisava ser publicada outra de protecção económica do agregado familiar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sem isso não se pode garantir o internamento. V. Ex.ª sabe muito bem que a maior parte das altas são dadas a pedido dos doentes, que têm conhecimento de que as famílias não têm dinheiro e estão com fome e então o tuberculoso prefere sair e ir trabalhar para sustentar os seus do que continuar no sanatório.

O Sr. Agostinho Cardoso: - Isso é na verdade uma percentagem muito importante.

O Sr. Soares da Fonseca: - Isso não é para ser tratado na Lei de Meios.

O Orador: - A política da saúde tem que continuar a dar prioridade à luta contra a tuberculose e as dotações devem mesmo ser reforçadas se não queremos ver camas vagas por impossibilidade material de aí mantermos doentes, ver reaparecer a bicha de doentes a aguardar sanatorização e ver perdido tudo o que temos conseguido neste campo.

Os dispensários precisam de melhorar o seu trabalho e só o podem fazer com mais horas de serviço e com mais pessoal e isso não se consegue senão com melhoria de vencimentos e com reforço de verbas.

Não conseguimos comprar senão um dispensário móvel, que faz serviço em todos os concelhos que estão desprovidos de acção dispensarial, e a experiência mostra que carecemos de adquirir mais dois - um para cada zona.

Os aparelhos de radiofoto das unidades de radiorrastreio estão gastos e os carros que os transportam, bem como os que servem as brigadas móveis, estão em tal estado que carecem de reparações frequentes, comprometendo assim o rendimento do trabalho de umas e do outras. Temos necessidade de os substituir. Os nossos serviços de electromedicina são insuficientes para garantir uma reparação urgente e as reparações são tão frequentes que julgo ser antieconómico mantê-los ao serviço daqui a pouco tempo.

Não sei como há-de conseguir-se isso. Mas tenho pensado muita vez naquilo que tenho visto e naquilo que tenho ouvido acerca dos automóveis do Estado, e sobretudo da organização corporativa, e julgo que se arranjaria facilmente o dinheiro suficiente para substituir os nossos aparelhos estafados e os nossos carros