tempo em discussões inúteis, e por isso me- limitei a referir de passagem o caso numa das citadas notas. O certo é que, fossem quais fossem, as limitações circunstanciais das promessas então feitas, a garantia genérica ou, melhor, os compromissos britânicos continuavam a ser sem contestação os dos Tratados de 1661 e de 1899, e por isso a esses nos reportámos quando resolvemos dirigir-nos à Inglaterra.

Vozes: - Muito bem!

A minha repugnância pessoal em solicitar serviços alheios, mesmo contratualmente devidos, tinha de quebrar ante a gravidade da causa. O que o Estado da índia representava -e continua a representar- para a Nação Portuguesa não pode medir-se pela pequenez do território, mas pela grandeza da história a que ficou ligado e pela altura da missão que ali levou os portugueses.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Partindo da nossa interpretação do Tratado de 1899 e não desconhecendo unta reacção, aliás intempestiva e unilateral, do Governo Britânico de 1954, há pouco recordada na Câmara dos Lordes pelo Secretário de Estado, o Governo solicitou em 11 de Dezembro a indicação dos meios com que aquele Governo podia cooperar com as forças portuguesas para fazer frustrar a agressão indiana. O Governo de Sua Majestade respondeu-nos, tem demora e essencialmente, o seguinte: na eventualidade de um ataque a Goa havia inevitáveis limitações quanto à assistência que o Governo Britânico estaria em condições de dar ao Governo Português em luta com outro membro da Comunidade (risos). A referência eufemística ás «inevitáveis limitações» tinha de interpretar-se no caso como significando que o Governo Britânico se eximia ao cumprimento dos Tratados.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Eu sou dos que estão convencidos de que o Governo Britânico fez nesta emergência muito mais esforços e diligências muito mais prementes para impedir a agressão indiana do que os conhecidos através da imprensa ou a nós directamente comunicados. E a razão é simples. Embora Goa nunca pudesse ser para o entendimento britânico destes problemas o que é para nós - um pedaço da Nação Portuguesa -, ê imensamente desagradável para o brio e o prestigio de uma grande potência eximir-se ao cumprimento de obrigações certas que tiveram a devida contrapartida em vantagens concedidas por Portugal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Deve também considerar-se intolerável à educação e à moral individual dos britânicos que a Inglaterra venha a ver-se aumentada no mínimo que seja, através da Comunidade, com pedaços de território roubados ao seu mais antigo aliado.

Vozes - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Mas se as inevitáveis limitações agora invocadas significam a impossibilidade britânica de agir eficazmente no respeitante aos ataques armados dos membros da Comunidade contra territórios portugueses, outro aspecto se deverá encarar. É que, dada a extensão da Comunidade e a agressividade e ambições expansionistas dos seus novos associados, o Governo Português deverá estudar qual o conteúdo positivo que ainda resta da segunda parte da declaração de Windsor de 1899, para, em face das conclusões, determinar a sua atitude futura quanto às obrigações existentes entre os dois países.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Ê admirável o pragmatismo da política britânica: simplesmente, nem sempre pode evitar o aborrecimento de dolorosas contradições.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Nós pedimos também ao Governo Britânico autorização para utilizar alguns aeródromos necessários a ligações com, Goa. Tenho dê lamentar que o Governo Britânico demorasse oito dias a tornar-nos conhecida a impossibilidade de utilização, porque, se não fora essa demora, nós tínhamos de certeza conseguido rotas alternativas e teríamos levado à índia a tempo reforços de material e pessoal que nos pareciam necessários a mais prolongada defesa do território.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Vejamos o que respeita aos Estados Unidos.

Os Estados Unidos foram, pelo efeito de duas grandes guerras vitoriosas, como pelo seu poder económico e financeiro, extensão territorial e população, elevados ao mais alto nível entre as nações e havidos como expressão superior e guia do que consideramos o mundo livre. Que intencionalmente, deliberado/mente, tenham procurado ascender a esta posição ou a ela fossem apenas guindados pelo conjunto de circunstâncias históricas, não importa (risos). O que a todos nos importa é saber se, ocupando o lugar, também estão dispostos a desempenhar a função.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos frenéticos.

Por estes motivos e pelas relações especiais que entre nós se estabeleceram, exactamente para defesa de princípios fundamentais da vida dos povos civilizados, pensou o Governo que seria levado à conta de descabido orgulho não solicitar dos Estados Unidos a sua intervenção. Outra razão havia ainda.

Não posso deixar de revelar que em 7 de Agosto de 1961 os Estados Unidos fizeram saber ao Governo Português o seguinte: «0 apoio dos Estados Unidos ao conceito de autodeterminação de modo nenhum, implica o apoio americano a quaisquer aspirações intervencionistas ou expansionistas ou a ataques depredatórios contra territórios ultramarinos portugueses por parte de outras nações.

Vozes: - Parece impossível!