Pelo contrário, os Estados Unidos sem dúvida se oporiam, nos planos políticos, diplomático e nas Nações Unidas, a quaisquer tentativas de Estados vizinhos de anexarem territórios ultramarinos portugueses. Embora em 9 de Dezembro tenha sido comunicada ao Governo Português uma explicação daquela primeira atitude que não se sabe ainda bem até que ponto a invalida, adiámos muito grave para as relações e convenções existentes entre os dois Estados que a primeira declaração não fosse a tradução de uma política assente e incondicionada, aliás resultante da adesão comum. a um estado de direito a cada momento se opondo às violências da força na vida internacional. E assim nos dirigimos ao Governo Norte - Americano.

Este fez de facto as mais reiteradas diligências em Washington e em Nova Deli no sentido de dissuadir a União Indiana de atacar Goa. O Presidente Kennedy terá mesmo escrito ao Primeiro-Ministro da União Indiana e o último apelo dissuasivo do embaixador dos Estados Unidos em Nova Deli precedeu de apenas duas horas a ordem de atacar.

Não podemos pôr em dúvida a forca destas diligências e das da Inglaterra, nem o interesse político e ideológico das duas nações em que o Estado Português da índia não fosse invadido para ser anexado à União Indiana por acto de guerra. Não só ambas temiam acabasse de desvanecer-se por completo a lenda pacifista da União Indiana como receavam vir a verificar-se quão frágil e inoperante é o edifício tão amorosamente por elas construído o sustentado para preservar a paz (risos e aplausos). Mas então, temos de ver o seguinte: Já hoje na índia um pequeno país despojado pela forca dos seus territórios e às portas de Goa duas grandes potências também vencidas - a Inglaterra e os Estados Unidos - , e isto prenuncia para o Afundo uma temerosa catástrofe.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

É triste e desoladora a derrota dos pequenos; mas ó incomparavelmente mais grave a impotência dos grandes para defender o direito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Voltemo-nos agora para o nosso Brasil.

O Tratado de Amizade e Consulta que lançou as bases da Comunidade Luso - Brasileira limitou-se a verter para o campo jurídico uma realidade existente; mas só depois de formulado podia eficientemente orientar a política tanto dos dois países entre si como sobretudo da Comunidade em relação ao Mundo. As suas grandes linhas, ao mesmo tempo amplas e vagas, podem ser o alicerce de uma construção internacional do mais vasto alcance ou limitar-se a inspirar timidamente apenas mensagens sentimentais. Partindo daí, aos estadistas das duas margens do Atlântico incumbe construir de jacto a Comunidade para benefício das duas pátrias, tal como a História as forjou e portugueses e 'brasileiros as pretendem perpetuar, e neste sentido envidaremos os nossos melhores esforços.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O anticolonialismo é uma constante da política brasileira; mas outra constante é também o não reconhecimento das anexações territoriais obtidas pela forço. A primeira não havia de preocupar-nos, senão na medida em que o desconhecimento da realidade do ultramar português pudesse porventura turvar a compreensão do fenómeno que ali se verifica; a segunda jogaria sempre a nosso favor na pretendida sujeição de Goa à União Indiana. Apesar de certas flutuações, este ano verificadas no alinhamento do Brasil com os países afro-asiáticos, ao menos quanto d índia a atitude dos responsáveis pela política brasileira não tinha que sofrer qualquer mudança e situou-se sempre na condenação de qualquer agressão e consequentemente em não reconhecer o Brasil a anexação que dai resultasse. Goa foi sempre um caso â parte no pensamento brasileiro.

Nenhuma dificuldade ou resistência houve, portanto, que vencer para que o Brasil declarasse publicamente e por mais de uma vez o pensamento oficial a respeito dos ataques iminentes ou em curso contra o Estado Português da índia. E estornas convencidos de que a atitude tomada só traduziu o sentir geral da Nação Brasileira. Ter estado o Brasil encarregado da defesa dos interesses portugueses na União Indiana dava-lhe ainda especial posição para defender o povo de Goa contra a absorção que se preparava.

A intervenção do Brasil, como as outras já referidas, foi também inoperante, e da mesma forma as diligências em Nova Deli realizadas pela Espanha, Canadá, Austrália, Alemanha, Argentina, Bélgica, Holanda - estas as de que temos conhecimento directo.

Além dos três países referidos, cuja actuação política era particularmente fundamentada, a Chancelaria portuguesa procurou alertar as nações amigas em todos os continentes, mais como mobilização moral em defesa do direito do que acção de que se esperassem efeitos decisivos. A algumas- portas não foi mesmo necessário bater, porque a comunhão de princípios e a identidade de interesses apontaram sem hesitação o caminho. É de justiça pôr a Espanha em primeiro lugar ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

... muito em primeiro lugar, por si e junto dos países sul-americanos seus amigos, como merecedora da nossa gratidão.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Ela tem vivido como nós o drama de Goa, e com razão, porque, se há território português que se haja estruturado sob a influência conjunta dos dois Estados da Península, esse é o de Goa, que deve tanto ao génio de Afonso de Albuquerque como à doutrinação de S. Francisco Xavier.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Além disso, numa Europa que ameaça desmoronar-se, por ter perdido a confiança em si própria, a Espanha pôde revigorar ao fogo de uma experiência dolorosa a sua fé nos princípios da civilização que di-