fundiu pelo Mundo e é um povo onde o grande e heróico têm ainda lugar na vida e um sentido moral.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

A Espanha compreende bem e em toda a sua extensão o estado de alma português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Estavam esgotados os recursos das nações individualmente consideradas para parar a agressão indiana. Apenas a actuação da organização mundial, chamada Nações Unidas, podia tentar-se, através do pedido de reunião urgente do Conselho de Segurança. O estudo do problema e a experiência que vamos tendo do funcionamento do sistema não deixavam no nosso espírito dúvidas acerca da inutilidade do apelo. Mas, por um lado, a nossa presença na organização mal se compreenderia se a ela não estivéssemos dispostos a recorrer; por outro lado, a maneira como havia de comportar-se seria mau uma prova gritante de que, nos termos em que funciona, já está a ser mais do que inútil, porque está a ser prejudicial.

O caso foi levado ao Conselho no primeiro dia da invasão de Goa e pouco depois desta começada; tratava-se de agressão não provocada e de território ainda não ocupado pelo inimigo - caso extraordinariamente simples para aplicação dos princípios da Carta. A moção aprovada pela maioria de sete votos, que mandava suspender as hostilidades, recuar as forças invasoras para os pontos de partida e fazer negociações para a solução do conflito, foi, porém, vetada péla Rússia e ficou, por isso, sem efeito. As atitudes naturalmente convergentes do Presidente da República Soviética, que, em Nova Deli, incitara à invasão de Goa, e do representante russo no Conselho de Segurança, que vetava a moção aprovada, se mais uma vez lançavam a União Indiana nos braços dos sovietes, punham a claro a paralisia da chamada defesa colectiva contra a Rússia ou contra uma potência que a Rússia proteja.

O caso, embora previsto, produziu alarme no Mundo. A declaração do delegado da União Indiana de que com Carta ou sem Carta, com Conselho ou sem Conselho de Segurança, com direito ou sem ele, o seu país prosseguiria o seu caminho, representou tal desafio aos fins e à estrutura jurídica da instituição que melhor seria dá-la logo ali por morta. Os Estados Unidos acharam que de facto o que se passava prenunciava o fim próximo da organização, mas, numa tentativa de consolidá-la, ainda se uniram, no dia seguinte com todos os mais numa votação contra Portugal e dois dias depois apressavam-se a confirmar à União Indiana o seu apoio financeiro.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

Isto deve estar certo, mas é muito difícil para nós compreendermos, e sobretudo não quadra à nossa sensibilidade moral.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Ê lícito perguntar o que estamos nós ali a fazer ou o que estão ali a fazer os que, não sendo grandes potências, não dispõem do favor russo ou, por causa da sua solidariedade com o Ocidente, atraem a aberta hostilidade do bloco antiocidental.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Também se perguntará como fomos ali parar (risos).

A política do Governo foi, na peugada da sensatíssima Suíça, não requerer a sua admissão nas Nações Unidas. Fizemo-lo mais tarde a pedido da Inglaterra e dos Estados Unidos com o argumento da necessidade de reforçar a posição ocidental em qualquer emergência (risos). Fomos durante anos vetados pela Rússia e entra-mos depois «em trocos miúdos» na Organização (risos). Verificando-se uma transferência de poderes do Conselho para a Assembleia Geral, dominado o primeiro pela Rússia e a segunda pelo bloco comunista e afro-asiático, as potências ocidentais, em que incluo a América do Sul, perderam toda a possibilidade de conduzir com a sua mais larga experiência os negócios da comunidade internacional, de moderar certos ímpetos irreflectidos, de evitar que o governo do Mundo caia sob uma ditadura intolerável de paixões racistas e de irresponsabilidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Assim, pensamos ter direito a uma palavra sobre ser já inútil a nossa presença e a nossa colaboração.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Mesmo que essa palavra não venha, não sei ainda se seremos o primeiro país a abandonar as Nações Unidas, mas estaremos certamente entre os primeiros.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos vibrantes.

E entretanto recusar-lhes-emos a colaboração no que não seja do nosso interesse directo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

III

A política militar do Governo no respeitante ao problema de Goa foi sempre encarada à luz dos seguintes elementos: dadas a distância e a superioridade esmagadora da União Indiana, nenhuma esperança de salvar Goa da eventual invasão inimiga, sem apoio aliado; necessidade de manter forças suficientes para evitar a acção dita policial e dissuadir, se possível, a União do ataque; defender, .em última instância, aquele torrão sagrado com sacrifício das vidas e haveres, como o reclamava a tradição portuguesa na índia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Mantivemos este esforço, ora com maiores, ora com menores efectivos, conforme os tempos e a gravidade das ameaças, mas sempre em nível suficiente para atin-