gir o objectivo de levar a União Indiana ou a desistir da absorção de Goa, ou a fazer uma operação espectacular de- guerra que causaria grande dano ao seu crédito moral e não daria nem honra nem glória ao seu exército.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Os nossos efectivos deviam ainda ganhar o tempo necessário para que Portugal pudesse apresentar gueixa às Nações Unidas contra a agressão indiana.

Um punhado de homens - 3500 oficiais, sargentos e praças da metrópole e 900 indo-portugueses - forçou a União Indiana a mobilizar um exército de 30 000 a 40 000 homens, apoiado por numerosas formações de artilharia pesada e de carros de combate, e com a cooperação, no ataque, de uma esquadra naval e de várias esquadrilhas de aviões de bombardeamento e de caça. Com uma superioridade em homens de, pelo menos, um para dez e em material muito mais-mesmo assim, a ocupação de cerca de 3500 km2, dispersos por quatro territórios e com uma profundidade de apenas 20 a 50 Tem no distrito de Goa, levou vários dias. Só por si este facto dá a nota da firme resistência que os portugueses devem ter oferecido. Para mim, a maior preocupação era que a desproporção das forcas e a violência e plano do ataque fossem tais que a nossa gente, dada a estreiteza do terreno, não pudesse mesmo bater-se bem e defender aquela portuguesa terra, à altura do seu valor e espírito de sacrifício.

Na última mensagem enviada ao governador-geral, e escrita, sabe Deus, com que amargura na alma, eu dizia termos plena consciência da 'modéstia das nossas forcas, mas desde que a União Indiana podia multiplicar por um factor arbitrário as forças de ataque, havia de revelar-se sempre no final grande desproporção.

Vozes: - Muito bem!

A política do Governo fora sempre, na impossibilidade de assegurar por si só uma defesa plenamente eficaz; manter em Goa forças que obrigassem a União Indiana a montar em grande, como se via naquele momento, uma operação militar que escandalizaria o Mundo, e a não fiar o êxito das suas pretensões de simples operações de polícia. Os factos mostraram que a primeira missão estava cumprida. A segunda missão consistia em não se dispersar contra agentes terroristas a fingir de libertadores, mas em organizar a defesa pela forma que melhor pudesse fazer realçar o valor dos nossos homens, segundo a velha tradição da índia. Era, para mim, horrível pensar que isso podia significar o sacrifício total, mas eu recomendava e esperava esse sacrifício como o maior serviço que podia ser prestado ao futuro da Nação.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O governador ainda pôde responder a agradecer em nome das forças sob o seu comando a confiança que nelas depositávamos e desejariam, honrar através de todos os sacrifícios.

Não temos elementos suficientes para fazer ideia de como decorreram as operações terrestres e navais, como se operou a resistência, como se fez a defesa. Oportunamente se apresentará ao País o relato destas operações e se fará a justiça devida a todos quantos tiveram a honra de ser chamados a bater-se ou a morrer por Goa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

Em face Aos preparativos bélicos da União Indiana e, a seguir, da sua agressão ao Estado Português da índia notou-se uma reacção violenta da opinião pública mundial. Temos de exceptuar os informadores oficiais e a imprensa de alguns países comunistas e afro-asiáticos que manifestaram, o seu aplauso e solidariedade com o invasor; nos países da Europa Ocidental e das duas Américas e 'mesmo nalguns de África e do Oriente exteriorizou-se uma, repulsa viva e sentiu-se grande inquietação. Os órgãos de informação de todos os matizes ideológicos, com representação ou sem representação nos governos dos respectivos países, têm tratado o assunto à margem destes, por vezes em oposição a estes, como livres expoentes de uma opinião sobressaltada. Porquê? Pela razão de ser Goa um caso típico que se apresentava sem complicações ou dificuldades de interpretação. Tratava-se na verdade de um pequeno território incorporado politicamente durante quatro séculos e meio na soberania portugues a, soberania reconhecida pela comunidade internacional e até pelo agressor. Esse território todos o consideravam ao abrigo de uma decisão, favorável a Portugal, do Tribunal da Haia, cuja competência fora aceite pelos dois Estados interessados; possuía a garantia de alianças e de compromissos bem estabelecidos; devia julgar-se protegido pelas engrenagens da segurança colectiva através das Nações Unidas. E neste caso, política e juridicamente cristalino, que nunca foi nem seria um problema, o Mundo verificou que, tendo-se recorrido a tudo, tudo falhara para impedir a agressão e evitar a conquista. Ou esta situação é sanada ou Goa faz voltar uma página na vida das sociedades do nosso tempo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

E assim se pôs um problema de ordem geral.

Há no Mundo três ou quatro nações - meia dúzia o máximo - que não receiam ou não têm de recear ser agredidas por outras; mas todas as mais ou vivem do consenso unânime de que a sua independência e integridade são respeitadas ou estão à mercê dos mais ambiciosos e fortes. Não se foge à dificuldade e ao perigo senão pela forma clássica de alianças que constróem sistemas de forcas equilibradas, ou por organização tendente a abranger a universalidade das nações pacíficas. Simplesmente, no primeiro caso é essencial o cumprimento dos tratados e no segundo a fidelidade aos pactos, e a crise moral em que nos debatemos não assegura nem uma coifa nem outra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Como as Nações Unidas, na melhor hipótese, se encontram antecipadas de séculos em relação ao espírito dos homens e das sociedades, e além disso se deixaram invadir por multidão tumultuaria de Estados que não têm o espírito de paz, não só não tem sido fácil defen-