O Orador:- Na verdade, este organismo da Academia de Coimbra, já tão carregado de nobres tradições de requintada benemerência na sua pereníssima juventude de mais de oitenta anos de vida, não se deslocou ao continente americano apenas em representação da mesma Academia e da cidade do Mondego.

Evidentemente, muito mais alta e mais categorizada foi a representação que pertenceu à embaixada da nossa juventude universitária, e ela foi a de representar o próprio Portugal!

Vozes:- Muito bem!

O Orador:- Assim o entendeu o afirmou, com sobrante autoridade, o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sr. Doutor Franco Nogueira, perante o testemunho categorizado dos Srs. Embaixadores Teotónio Pereira e Vasco Garin, quando definiu as muitas responsabilidades dessa honrosíssima representação.

As suas palavras, porém, a despeito da sua alta expressão patriótica, apenas afervoraram sentimentos já dominadores das almas e dos corações de todos os componentes do organismo coimbrão.

E então, percorrendo quilómetros sem fim para actuar em cerca de 40 cidades, entre as quais as grandes urbes de Washington, Nova Iorque e Chicago e aquelas em que mais labutam e vivem os portugueses, New Bedford, Cambridge, Waterbury e Boston, o Orfeão Académico de Coimbra pode afirmar Portugal, no muito valor de um selecto programa de cantares clássicos e do nosso impressivo folclore, em longa série de magníficas actuações, arrancando intermináveis aplausos que, recebidos, logo eram dirigidos à Pátria distante, com a unção de quem reza a mais fervorosa das preces ...

Vozes:- Muito bem!

O Orador:- Ficaram os americanos a conhecer muito melhor Portugal e os portugueses e a saber que os fortes mandamentos da civilização exuberantemente demonstrada na galhardia e no aprumo daquele punhado de jovens de todo o Portugal não consentem antagonismos deletérios, mas concitam à compreensão e à estima de verdadeiros amigos.

Não pensam, certamente, de outra maneira os milhares de privilegiados espectadores que, no moderníssimo Lincoln Center de Nova Iorque, auditório selecto e rigoroso, cujo palco só tem sido pisado por quem se possa abonar na celebridade e no muito merecimento, de pé, longamente, demoradamente, aplaudiram os estudantes de Coimbra, que são estudantes de Portugal!

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - E não pensam diversamente também os americanos que tiveram a felicidade de se poderem contar entre os quatro milhares que na imponente Catedral de Nossa Senhora da Conceição de Washington ouviram, inebriados, todo um programa de música profana, da execução do qual se dizia, depois, que tinha feito sorrir de encantamento as belas imagens dos sumptuosos altares!

Pensamento semelhante não podem deixar de ter os muitos milhões de americanos que viram e ouviram, através do melhor programa da sua televisão, um expressivo programa com que o Orfeão Académico de Coimbra lhes desvendou Portugal e o arrebatador lirismo dos nossos cantares e do nosso fado ...

Mas o Orfeão Académico de Coimbra também cantou para as comunidades portuguesas e luso-americanas do estado de Massachusetts.

E foi um verdadeiro delírio ...

Os jornais que servem principalmente essas comunidades dão notícia das mais extraordinárias afirmações de portuguesismo que possam supor-se e de que de muitos olhos se desprenderam torrentes de lágrimas de comovida emoção quando, magistralmente, o Orfeão cantou A Portuguesa.

Naqueles inolvidáveis momentos nem o tempo nem o espaço tinham qualquer

dimensão ...

Ali estava a Pátria e só a Pátria, na plenitude das suas virtudes e glórias, na perenidade da sua história, na proba integridade da sua missão civilizadora, afirmada por forma tão veemente que não se cantou, mas rezou-se Portugal ...

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador:-Ora, Sr. Presidente e Srs. Deputados, perante tão valiosa e patriótica actuação, cujos frutos foram amplamente reconhecidos pelo Sr. Embaixador Doutor Pedro Teotónio Pereira no banquete de despedida que ofereceu aos componentes do Orfeão, quando afirmou que melhor propaganda do nosso país fizera este nos 40 dias da sua visita à América do que qualquer outro organismo português nos últimos 40 anos, não seria lícita a nossa indiferença.

Certamente que o Governo da Nação não deixará sem o merecido galardão este importante serviço prestado à, causa do prestígio de Portugal.

A Academia de Coimbra, através do seu glorioso Orfeão, demonstrou mais uma vez o grande escol das suas altas virtudes e o seu aprumo sem par, pela forma elevada como representou Portugal e a sua juventude no continente americano.

Assim o entenderam já a gloriosa Universidade do Coimbra, as autoridades e as forças vivas da cidade, que, em triunfal recepção na Câmara Municipal e no Paço das Escolas, renderam à embaixada académica as homenagens que ela tanto merece.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador:- Falta, porém, ao Governo perpetuar ainda este alevantado serviço, pela forma justa e apropriada.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador:- Estou certo de que não deixará de o fazer, pois na bandeira do Orfeão Académico de Coimbra, onde já luzem tantas e tão significativas provas da sua benemerência e do seu patriótico altruísmo, ficará bem mais uma venera a atestar o imperecível reconhecimento da Nação.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Martins da Cruz:- No regresso a esta Assembleia para o reinicio, na presente sessão legislativa, da sua alta função não esconderei o júbilo que trago comigo por poder contar com a generosidade do sábio e fecundo magistério de V. Ex.ª a corrigir as minhas deficiências e a dar segura directriz aos meus propósitos de bem servir os superiores