que o Sr. Dr. Pacheco de Amorim propõe. Estou em desacordo com a integração proposta pelo Sr. Dr. Pacheco de Amorim.

O Sr. Presidente: - Peco a VV. Ex.ªs que com autorização do orador, só discutam aquilo que ele está a dizer

O Sr. Bento Levy: - Mas para poder discutir precisamos de saber qual é a noção de integração que tem o Sr. Dr. Pacheco de Amorim.

O Sr. Vasques Tenreiro: - Creio que a interpretação do Sr. Dr. Pacheco de Amorim está suficientemente divulgada...

O Orador: Peço a VV. Ex.ªs que tenham um pouco de calma e me ouçam até ao fim.

Enquanto empenhados na tarefa de divulgação, a nova doutrina é confirmada no mais alto órgão internacional - a O. N. U. - pela voz duplamente autorizada de S. Ex.ª o Ministro dos Negócios Estrangeiros, naquele organismo acreditado como legítimo representante e, portanto, porta-voz do nosso país. Só os mal intencionados é que não se disporão a reconhecer que a posição revelada por tão alto representante, na O. N. U. traduz iniludivelmente o pensamento e determinação do nosso Governo. Não havia dúvidas de que estávamos em muito boa companhia. E prosseguimos.

Foram 28 as cidades e vilas onde alguns de nós realizámos conferências. Suscitámos o interesse geral, chegando, em alguns casos, a haver debates que atingiram nível de apreciar; concitámos francas adesões aos princípios expostos, e em todos quantos nos escutaram, fizemos nascer uma aura de esperança confiante.

Pelo carinhoso acolhime nto com que em toda a parte fomos distinguidos pelas individualidades que, em cada localidade, tomaram o encargo de tudo preparar para que as conferências se realizassem, ficámos muito desvanecidos e, por isso, daqui a todas endereço, nesta oportunidade, em nome dos comparticipantes, a expressão do nosso mais sincero reconhecimento. Também tivemos o prazer de sermos honrados com a presença confortante e animadora de alguns dos meus ilustres colegas nesta Assembleia, cuja deferência bastante nos sensibilizou. Para esses vão também, renovados, os meus cordiais agradecimentos.

Apesar de coincidentes - sem solicitações nem pressões de quem quer que fosse (e é bom que deixe isto bem vincado) - as nossas ideias com o pensamento do Governo, fomos alvejados com todos os meios de obstrução, em tentativa ostensiva de nos desacreditarem e desvirtuarem as nossas intenções. Não produziram nem produzirão qualquer mossa, pois bem sabemos que são da mesma estirpe daqueles que insultaram Napoleão quando souberam que se tinha evadido da ilha de Elba... e o aclamaram quando chegou a Paris.

Aqueles que puderam conhecer quanto a imprensa, tanto de cá como de Angola e Moçambique, e até, veladamente, a rádio e a televisão oficiais divulgaram em oposição à nossa doutrina deviam ter ficado surpreendidos com um facto que. ressaltou com a mais forte evidência: o ataque parece não ter sido contra os elementos activos da propaganda da doutrina da integração; era, sim, contra a posição favorável assumida nesta grave conjuntura pelos mais autorizados membros do Governo. Nós, os agentes da propaganda - perdoai-me, os plebeísmos de que vou servir-me, por mais expressivos -, fomos apenas o «pião das nicas», o mexilhão do picaresco dito popular.

E afinal o que foi que resultou de prático, aceitável e construtivo de tão descaroável contra-ofensiva? O Governo, pelo menos, obteve um alto benefício: conseguiu realizar, indirectamente, um teste que o deve ter deixado amplamente esclarecido a respeito da índole de algumas figuras do panorama político e social deste país.

Sobre a política de integração do ultramar vou transmitir a VV. Ex.ªs o que então disse. Deste modo ficarão melhor elucidados: «Em síntese, a integração consiste no desenvolvimento de uma acção em todos os quadrantes da vida humana dirigida no sentido da total interpenetração das raças que compõem a Nação Portuguesa, de modo que não mais possa haver qualquer prejuízo ou diferenciação baseado na cor da epiderme ou no lugar de origem. Politicamente, a integração é servida por uma libérrima descentralização, em que se reconhece a cada pessoa, segundo o seu mérito, o direito de intervir, do melhor modo possível, na administração e defesa dos interesses das localidades onde vivam e terem livre acesso a quaisquer posições económicas, sociais, técnicas, administrativas e políticas».

O Sr. Júlio Evangelista: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Júlio Evangelista: - É só para lembrar a V. Ex.ª que essa é a doutrina consagrada constitucionalmente.

O Sr. Vasques Tenreiro: - Desde o século XVI.

O Sr. Júlio Evangelista: - Exacto.

O Sr. Vasques Tenreiro: - Não é novidade nenhuma.

O Orador: - «A integração não concebe orgânicas administrativas especiais para cada território»; ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - «... não concebe a existência de quadros diferenciados de funcionalismo público para a metrópole e para cada província ultramarina»; ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - «... não concebe o reconhecimento de direitos e regalias que não sejam comuns a todos os servidores da Nação, e que estes não devam fazer o seu curriculum por todos os territórios, tanto europeus como ultramarinos»; ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - «... não concebe que não haja mais larga comparticipação de naturais do ultramar na vida pública metropolitana; não concebe um Ministério do Ultramar hipertrofiado, macrocéfalo, por entumecimento de atribuições que logicamente devem pertencer aos Ministérios da respectiva especialidade»; ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - «... não concebe a diferenciação de economias peculiares da metrópole e de cada província ultramarina, nem a diversidade monetária em cada uma daquelas partes»; ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!