O Orador: - «... não concebe outros órgãos de soberania além dos definidos no estatuto constitucional e, finalmente, não concebe a Nação unitária com diversos órgãos de governo nas províncias ultramarinas».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - «É premente que todas as práticas de administração pública decorram de igual modo e pelas mesmas vias em que todas as províncias e distritos, sejam eles da metrópole ou do ultramar, para que, de uma vez para sempre, deixem de apelidar-se de colonialistas e possamos ser um estado unitário de facto».

O Sr. Herculano de Carvalho: - Muito bem!

O Orador: - «A integração põe termo satisfatório a todas as situações paradoxais, ao mesmo tempo que escancara o ultramar ao conhecimento efectivo de todos os órgãos do Governo e dos servidores da Nação, tornando real e permanente a sua presença na vida nacional. A integração admite e defende a unidade na diversidade; condena a segregação e a diferenciação; respeita as crenças religiosas; protege a liberdade de trabalho, e enaltece a dignidade da pessoa humana. Só assim verificaremos os mesmos graus de identidade entre as províncias metropolitanas e ultramarinas. E mais: só assim conseguiremos uma paz que honre a Nação e reintegre os nativos do ultramar na plena dignidade de membros considerados e activos da comunidade portuguesa, sem os quais esta é falha de autenticidade».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Isto disse eu. E os outros conferencistas as mesmas ideias repetiram, em termos mais felizes e brilhantes.

O Sr. Pinto de Mesquita: - V. Ex.ª dá-me licença?

Em grande parte, era a doutrina já de Mouzinho de Albuquerque e Paiva Couceiro, entre outros.

O Sr. Júlio Evangelista: - É a doutrina da Constituição Política de 1933.

O Orador: - Devo observar a V. Ex.ª que a Constituição é um grande documento, o documento sagrado do País, mas aqueles que a servem é que estão muito mal constituídos.

O Sr. António Santos da Cunha: - V. Ex.ª disse ...

O Orador: - Aqueles que a servem é que estão muito mal constituídos.

No entanto, não dou à expressão um carácter de generalidade. Quero dizer: alguns dos que a servem.

O Sr. Gonçalves Rapazote: - Portanto, esses não a servem.

O Sr. Soares da Fonseca: - O Sr. Deputado Francisco Roseira quer dizer alguns, porque ele também a serve.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Alguns que a servem nessas condições são aqueles que a desservem.

O Sr. Burity da Silva: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Burity da Silva: - A tese explanada por V. Ex.ª até este momento, pelo menos para mim, não constitui novidade. E doutrina que insistentemente nós vemos preconizada e, quanto a mim, o problema do ultramar não está condicionado a doutrinas ou a teses; está condicionado à autenticidade a que V. Ex.ª aludiu. Quanto a mim, entendo que a batalha a travar Seca dar autenticidade à doutrina. E até agora ainda não ouvi a maneira como vamos dar essa autenticidade.

O Sr. Vasques Tenreiro: - Tem V. Ex.ª razão. Não me parece necessário que se formem grupos entre nós para andar a propagar essa doutrina. Portanto, não vale a pena estar-se a formar grupos para dizer o que é a integração. Isso está no espírito de todos.

O Orador: - Em comentário de Angola, transmitido pela Emissora Nacional, afirmou-se, com todo o ar sentencioso, que a solução política da integração já estava ultrapassada. Dado este tom, certa imprensa, lá e cá, tomou a tarefa de subi-lo, passando do grave ao agudo e do agudo à insinuação e ao insulto. Ao cerrado ataque se associaram espíritos brilhantes, alguns ocupando lugares de destacada responsabilidade, talvez por cega dedicação ou fraqueza. O concerto chegou a revelar notável afinação.

Procurou-se atemorizar ou pôr em sobressalto a consciência dos cidadãos, ao mesmo tempo que se fechavam à integração certos meios de divulgação. Envoltas com o ataque directo, disseram-se e publicaram-se coisas confrangedoras: afirmou-se que a- única solução para defender a integridade do ultramar era manter o statu quo, custasse o que custasse, porque havia dinheiro para isso; que só uma completa autonomia poderia satisfazer os colonos, como se no ultramar só existissem colonos; que era necessário ter muito cuidado com a onda de adesões à integração por indivíduos que fazem parte dos movimentos financiados pelo Leste; que o único caminho é o da «coexistência integrada», havendo também os que defendem a «coexistência lado a lado»; que é preciso salvar a guarda avançada da presença de Portugal em África, que os colonos representam, ignorando-se criminosamente que, pelo menos em Angola, tal presença, em várias conjunturas, foi salvaguardada decisivamente com a colaboração dedicada dos nativos; ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... que constituímos um grupo de pressão que só pretende apoiar-se no Governo, quando o que nós patenteávamos era franco apoio ao Governo. Enfim, e apesar de tantos ataques, a integração saiu incólume da primeira prova e adquiriu mais fulgor, porque ninguém contra ela opôs um argumento sério que obrigasse a inteligente reflexão.

O Sr. Júlio Evangelista: - V. Ex.ª dá-me licença, pela última vez? Prometo que não voltarei depois a interromper mais V. Ex.ª

O Orador: - Faz favor.