Como V. Ex.ª sabe, em vez das 30 000 t de Moçambique hoje proporcionadas à indústria da metrópole poder-se-iam atingir as 60 000 t ou 70 000 t e, por conseguinte, ainda exportar. Se referirmos que cada quilograma de algodão tem um valor médio de cotação internacional da ordem dos 20$ ou 21$, 50 000 t representariam 1 milhão de contos. Era uma valorização extraordinária da exploração das fontes de riqueza nacionais.

O Orador: - Na devida altura tratarei da produtividade.

Diz-se, por um lado, que «as indústrias que se estabeleçam nas colónias devem laborar matéria-prima que exista na própria colónia» (preâmbulo do referido Decreto-Lei n.º 83 924), mas a verdade é que este mesmo decreto-lei veio impedir, no caso do algodão, a possibilidade de desenvolvimento em Moçambique de uma indústria que laboraria exclusivamente matéria-prima produzida na própria província.

É preciso acabar com a repetição de erros antigos. Sem comentários, transcrevo, com a devida vénia, o seguinte, extraído de um artigo intitulado «Industrialização do Brasil», publicado por Pimentel Costa na revista Brasil n.º 19. de Dezembro de 1961 e Janeiro de 1962:

É desconhecida a data em que surgiu a primeira fábrica brasileira. A história não guardou nem a data nem o local.

O Sr. Pinheiro da Silva: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Mas eu estou a ler!

O Sr. Pinheiro da Silva: - Pois muito bem, mas desde já devo dizer que não concordo com essa expressão do autor do artigo.

O Orador: - V. Ex.ª deixe-me acabar de ler. Está constantemente a interromper. Tenha um pouco de serenidade. É que V. Ex.ª assim não consegue esclarecer o seu espírito.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Já referi o que me propus.

O Orador:

Sabe-se, porém, que alguns cristãos-novos, que se tinham instalado na Baía e em S. Paulo, compreenderam a possibilidade de montar fábricas de tecidos. Os preços dos que chegavam do reino eram exorbitantes. Apareceram, assim, fábricas de tecidos em muitas cidades brasileiras. Surgiram e prosperaram, pois os preços dos tecidos lusitanos eram simplesmente escorchantes. Matérias-primas nós as tínhamos nas devidas quantidades. E faltavam em Portugal.

Os industriais portugueses compreenderam que iam perder o mercado brasileiro, já então maior do que o lusitano. Entenderam-se com Pina Manique. E então, por seu intermédio, obtiveram o célebre alvará de 5 de Janeiro de 1785. Fechava as fábricas brasileiras. Dizia o seguinte: «O Brasil é o país mais fértil e abundante do Mundo, em frutos e produções da terra. Os seus habitantes têm, por meio de cultura, não só tudo quanto lhes é necessário para o sustento da vida, mas ainda muitos artigos importantíssimos para fazerem, como fazem, um extenso comércio e navegação. Ora, se a essas incontestáveis vantagens reunirem as da indústria e das artes para o vestuário, luxo e outras comodidades, ficarão os mesmos habitantes totalmente independentes da metrópole. É, por conseguinte, de absoluta necessidade acabar com todas as fábricas e manufacturas do Brasil». O alvará foi rigorosamente cumprido. Desarmaram as fábricas. Embarcaram-nas para Portugal, pela nau de guerra Nossa Senhora de Belém.

Falemos agora da produção desta rica fibra, que tem sido muitas vezes chamada o «ouro branco» de Moçambique.

A província exportou nos últimos cinco anos as seguintes quantidades de algodão em rama:

Em cinco anos apenas a província exportou 187 778 t, no valor de 2 938 593 contos, de algodão em rama, produzido por cerca de 560 000 famílias, ou seja por 2 milhões de pessoas aproximadamente.

Estes números mostram que quase um terço da população de Moçambique vive da cultura do algodão.

É preciso, portanto, que Moçambique não perca a tradição da cultura algodoeira e antes a impulsione e a desenvolva como um dos melhores meios de prosperidade da sua população.

O Sr. Gosta Guimarães: - V. Ex.ª dá-me licença? É só para uma pequena interrupção.

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Costa Guimarães: - Era só para dizer que esse será um meio notável de prosperidade, porque, se nós atentarmos no exemplo dos Estados Unidos da América, onde o algodão atinge hoje um volume da ordem dos 3 500 000 t, não podemos conceber que a indústria do algodão seja uma indústria pobre.

O Orador: - Eu não disse isso.

O Sr. Costa Guimarães: -Exactamente; estou apenas a dar uma achega. A América do Norte não é um país de baixo nível de vida e, no entanto, a produção do algodão atinge ali 3 500 000 t.

O Orador: - Disse o engenheiro Mário de Carvalho, director do Instituto do Algodão de Moçambique, no discurso que proferiu no acto de posse daquele cargo:

... o algodão é e será no previsível futuro, uma das culturas mais indicadas para Moçambique. E é-o porque encontra nesta província boas condições ecológicas de desenvolvimento desde o Rovuma até, praticamente, à fronteira do Natal: desde a costa até cerca de 700 m de altitude.

É caso, portanto, para pensar-se no aumento da produção algodoeira de Moçambique, tanto mais que não lhe faltarão mercados de consumo, tanto na forma de matéria-prima, isto é, de algodão em rama, como depois de industrializado, quer como fio, quer como tecido.

Além do elevado número de agricultores nativos que em Moçambique já se dedicam à cultura desta fibra industrial