o bem daqueles 2 milhões de moçambicanos que se dedicam à cultura do algodoeiro.

Moçambique não pode aspirar a ser um território rico e próspero se a sua população não possuir condições de vida económica que a libertem da pobreza. Se o plantador de algodão puder, com o mesmo trabalho e a mesma área de cultura, ver aumentada para o dobro a sua produção, grande será a transformação que se dará na sua vida económica e o reflexo que isso terá na própria vida da província.

Resultados obtidos noutros países apoiam a hipótese de poder esperar-se um aumento de produção em Moçambique. Anoto em defesa desta ideia, como um exemplo entre outros que poderia apresentar, um aspecto da evolução na produção algodoeira dos Estados Unidos da América. A produção de fibra de algodão obtida naquele país em 1866 foi apenas de 136 kg por hectare, segundo Agricultural Statistics, 1957, United States Department of Agriculture, mas em 1960, último ano de que possuo elementos estatístico s, essa produção tinha atingido a cifra interessante de 520 kg, conforme menciona o Anuário de Produção da F. A. O., 1960. A produção de Moçambique, no mesmo ano de 1960, foi apenas de no kg, também conforme menciona o Anuário de Produção da F. A. O., 1960. Por aqui se vêem as grandes perspectivas de desenvolvimento que a província tem ao seu dispor na cultura desta valiosa planta.

O Sr. Costa Guimarães: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Costa Guimarães: - A Espanha aqui há oito anos partiu do zero e hoje tem uma produção de 200 000 t.

Ainda posso citar o caso de Israel, que partiu do zero em 1961, se a memória me não falha, e atingiu 55 000 t

O Sr. Burity da Silva: -Pode dizer-me o motivo do não aumento de produção do algodão em Moçambique?

O Orador: - Creio que já disse.

O Sr. Burity da Silva: - Eu acrescento. Suponho que o caso é o mesmo que se verificava em Angola: essencialmente o exclusivismo dado a certas empresas e que deu origem à diminuição do interesse do produtor indígena.

Esse ponto é essencial e é preciso tê-lo em mente, porque foi essa a causa primacial, enorme, de reflexos tremendos, que determinou a fraca produção do algodão.

O Sr. Gosta Guimarães: - Muito bem!

O Orador: - Poderá, portanto, parecer estranha a minha sugestão do que qualquer aumento que se consiga agora nesse sentido reverta a favor de fundos para melhoramento das condições de produção.

Assim, cumpre-me elucidar que julgo dever ser esta a doutrina a seguir na arrancada a que agora se meteu ombros, fase inicial em que se torna necessário criar infra-estruturas que permitam o amplo desenvolvimento da economia algodoeira. Depois, à medida que for possível aliviar o dispêndio com a implantação dessas infra-estruturas, todo o produto do rendimento deverá ser pago directamente ao plantador.

Falei na produção do algodão. Seja-me permitido agora referir-me à sua industrialização.

No quadro das importações de Moçambique são precisamente os tecidos de algodão que figuram em primeiro lugar, com 5540 t no valor de 361 026 contos, em 1960.

A média das importações à volta de 1938 andava na casa das 3000 t, o que quer dizer que em 25 anos houve um aumento nas importações deste artigo que quase duplicou. Em 1938 a importação não foi além de 2564 t, como já se viu noutra parte desta intervenção.

As importações de tecidos de algodão nos anos de 1956 a 1960 foram as seguintes:

Não utilizei, neste quadro, os números estatísticos respeitantes a 1961 por não haver comparabilidade entre os deste ano e os dos restantes; a estatística de 1961 foi elaborada segundo a nomenclatura aduaneira de Bruxelas.

Como se vê, o valor das importações caminha apressadamente para a cifra dos 400 000 contos anuais, número que, estou certo, será atingido dentro de breves anos.

O consumo dos tecidos de algodão, como de todos os artigos, depende do nível económico e social dos respectivos consumidores.

O consumo de Moçambique, per capita, é da ordem dos 0,9 kg, enquanto que em Angola é de 1,4 kg, em S. Tomé de 2,7 kg e na Guiné Portuguesa de 1,6 kg.

Das nossas províncias ultramarinas, Moçambique encontra-se, portanto, numa posição de baixo consumo, que precisa de ser aumentado. É mesmo, excluindo Timor, a província de mais baixa capitação, o que chega a ser uma ironia, por Moçambique ser, de longe, o território português de maior produção algodoeira.

Mas há outros territórios, também produtores de algodão, cujo consumo é ainda inferior ao de Moçambique, como sejam os da África Oriental Britânica, que andam à roda dos 0,8 kg per capita.

Para mencionar um dos novos países africanos recentemente tornados independentes cujo consumo não é também muito representativo direi, a título de curiosidade, que Ghana consome 1,8 kg, o que não é muito superior ao consumo de Angola, mas que fica bastante distanciado do consumo da nossa província de S. Tomé.