já os fogosos discursos contra Portugal de muitos dos seus oradores. A literatura perde o que a paz do Mundo acabará por ganhar».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Vejamos, para terminar, em relação às principais linhas de força que oportunamente delineei como dirigidas contra a civilização ocidental, a forma como se tem desenvolvido a sua acção ofensiva.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E para melhor compreensão do que passo a dizer consideremos como ponto de partida o que foi dito, nesta mesma Casa, na passada sessão legislativa. Afirmei então que, caminhando de leste para oeste, fàcilmente se denunciava uma primeira linha de força dirigida no sentido da Austrália e da Nova Zelândia, passando através da Indonésia.

O auxílio comunista ao Governo de Soekarno, dia a dia mais avultado em material de guerra e em especialistas da arte militar e de subversão, não tinha, segundo afirmei, outro objectivo que não fosse o domínio do Extremo Oriente australiano, fonte importantíssima de matérias-primas e de produtos agrícolas de largo consumo no continente europeu. A Indonésia seria assim apenas simples ponto de passagem para a conquista deste derradeiro domínio da coroa britânica. Que ingenuidade, pois, a desse representante da Austrália na O. N. U. ao atacar, numa das sessões desse organismo comunizado, a defesa que Portugal estava fazendo em Angola do mundo ocidental contra as investidas do inimigo. O mesmo inimigo que dentro em breve atacará impediosamente o seu próprio país. Virão então, possivelmente, à luz do dia os primorosos métodos, tão auto-elogiados, da colonização britânica.

A estas palavras então ditas apenas acrescentarei hoje que o sentido previsto estava, como rumo, absolutamente certo e que as fronteiras comunistas se aproximaram, no ano corrente, perigosamente da meta, o continente australiano. A estrada indonesiana já está aberta e o recente pronuncio na ilha do Bornéu é um aviso eminente.

A segunda linha de força da estratégia geral comunista estava directamente dirigida contra o Japão. Eram sintomáticas as reacções populares japonesas, conduzidas, habilmente, pelos partidos comunista e socialista, impedindo a visita do presidente da República dos Estados Unidos da América, dizia então. E, acrescentei, não nos devemos admirar, pois, que se verifique, em dado momento, conjunção de interesses, inicialmente económicos e mais tarde políticos, com os da China Popular.

Circunstâncias raciais, a ignorância americana com referência aos problemas essenciais da vida de outros povos, interesses económicos opostos, tudo nos levava então a crer na impossibilidade de colaboração efectiva nipo-americana. E assim, continuava, mais uma vez, no Extremo Oriente, veremos os Estados Unidos semear dólares que germinando darão apenas ienes G rublos. Ao que foi dito então acrescentarei que a recente resposta negativa do Governo Japonês à sugestão de se erguer um eixo anti-comunista Washington-Tóquio teve o resultado previsto.

Outra flecha, dizia então, está dirigida pela Rússia Soviética através do Indostão como ponto de partida para uma acção mais vasta sobre a África Meridional. E após várias considerações punha a dúvida se desta vez o jogo da Bússia coincidiria com o da China Popular. Direi agora que o jogo chinês não se fez esperar com todas as subtilezas orientais...

Outra linha de força da estratégia comunista, atravessando o Médio Oriente, território de importância fundamental para a Europa, quer debaixo do ponto de vista económico, quer como ponto de passagem obrigatória para o Extremo Oriente, hoje já provido de quadros comunistas numerosos e mesmo, em certos sectores, de elementos russos especializados, estava dirigida no sentido de atingir a costa atlântica no noroeste do continente negro, englobando o conjunto do Magrebe. Direi agora que a perda total da posição europeia do Norte de África, depois do triste epílogo argelino, deu, como foi previsto, o fácil domínio ao inimigo de um dos flancos europeus. Não será difícil prever agora a sorte de todo o Médio Oriente petrolífero e das prometedoras actividades francesas no Sara, e o mexido Ben-Bela já não esconde mesmo o seu desejo de se imiscuir na vida de territórios mais longínquos.

Aqui, de novo, a Europa e o Ocidente perderam, ingloriamente, posição estratégica de valor se vê ainda e o que se antevê.

Tem a Europa caminhado resolutamente para a unidade da sua economia, e estão à vista os resultados dessa saudável atitude construtiva. Têm descurado, porém, os dirigentes deste movimento em conservar as suas fontes de matérias-primas e em desenvolver o poder de compra de densas populações subevoluídas do Sul e Leste europeus.

A primeira falta poderá ser fatal ao seu crescimento económico; a segunda dificultará, por forma significante, a constituição do bloco unido que todos os europeus der sejam. Para tal, porém, não se poderá manter o egoísmo que torna mais ricos, é certo, os já muito ricos, mas em detrimento daqueles que são extremamente pobres. De resto, o exemplo norte e sul-americano, em perfeito contraste quanto a valores económicos e sociais, é significativo como prova do que não deverá seguir-se no caminho a traçar na Europa do futuro, e o perigo avolumar-se-á quando coincidirem, por erros cometidos, inflações e deflações nas duas margens do Atlântico. E não se estará já bem próximo de uma situação dessa natureza e gravidade?

Vou terminar. Ao fazê-lo, não quero deixar de exprimir a minha fé nessa juventude nacional que, bem informada pelos princípios que norteiam a Idade Nova, tão bem tem sabido dar todo o seu esforço na defesa da Pátria em perigo.

E não só esses admiráveis soldados de Portugal, mas também essa mesma juventude que, na obra pública, comandada por admirável construtor, e nos domínios da economia e da vida social, continua a preparar a sólida infra-estrutura do Portugal do futuro.