Por outro lado, a baixa produtividade dos operários, a carência nos métodos eficazes de administração e a menor atenção às relações interindustriais (cf. Dr. João Cruzeiro, A Análise Interindustrial e a Política Económica) são obstáculos a vencer com afinco.

De qualquer modo, os índices dos últimos anos são, ainda assim, os mais animadores na panorâmica do crescimento económico português.

Penso que haveria toda a vantagem em recorrer à colaboração e aos capitais estrangeiros na industrialização, ao mesmo tempo que se deveria atender a uma conveniente repartição geográfica das indústrias.

O Sr. Veiga de Macedo: - Muito bem!

O Orador: - Assinalou o parecer da Câmara Corporativa que os países industrializados da Europa se aproximam de um «limite crítico» do processo de desenvolvimento, fundado na escassez de mão-de-obra. Ora não nos poderemos nós aproveitar de tal situação, constituindo o País atractivo para instalação de indústrias apoiadas em capitais estrangeiros?

O Sr. Gonçalves Rapazote: - Mas o que está precisamente a acontecer é a mão-de-obra sair para o estrangeiro. Na minha região verifica-se uma forte emigração para França, e as autoridades têm grande dificuldade em obstar a que essa saída se processe por todos os meios.

Quer dizer: estou a concordar com V. Ex.ª quanto à necessidade urgente da industrialização e à sua conveniente distribuição geográfica.

O Orador: - E o pior é que há organismos, em Lisboa, por exemplo, que combatem outros organismos da mesma cidade.

O Sr. Gonçalves Rapazote: - O que é preciso é não perder tempo e criar, e o mais rapidamente possível, as condições necessárias para evitar a fuga da mão-de-obra. E a demora na adopção de tais medidas que eu lamento.

O Orador: - É evidente. E embora isto não seja um muro de lamentações...

O Sr. Gonçalves Rapazote: - Por vezes tem de ser muro de lamentações.

O Orador: -... vou precisamente tratar do.desenvolvimento regional.

Quanto à repartição geográfica das indústrias, penso que a mesma se harmoniza com os projectos de desenvolvimento regional. Enumero, como possíveis esquemas de base, o Douro, o Mondego, o Tejo e o plano do Alentejo.

As possibilidades do Douro residem fundamentalmente na sua aptidão para produzir energia hidroeléctrica.

Eis um quadro dos principais elementos energéticos relativos aos aproveitamentos previstos na bacia hidrográfica do Douro, mesmo sem considerar o Távora (cf. a publicação Rio Douro e Afluentes, da Hidroeléctrica do Douro):

Mas o aproveitamento do Douro traduzir-se-á noutras realidades, como a rega (cerca de 11 000 ha), a navegação (o que apoiará, além do mais, a exploração do jazigo de ferro de Moncorvo, num ritmo adequado às suas reservas, e beneficiará as minas de carvão do Pejão, as minas e instalação siderúrgica de Vila Cova e o tráfego do vinho do Porto) e a pesca.

Quanto ao Mondego, como espero demonstrar noutra oportunidade, são largas as possibilidades de um esquema de aproveitamento conjunto. Segundo estudos realizados, o Mondego poderá produzir 650 000 000 kWh, garantidos em 100 por cento dos anos sem necessidade de apoio exterior. O sistema explorado com a central de Asse Dasse, dando apoio interanual à R. E. N., pode garantir um acréscimo de energia marginal da ordem dos 1100 000 000 kWh. O aproveitamento do Mondego possibilitará ainda um domínio dos caudais sólidos, a regularização das cheias, a possibilidade de rega dos campos da Cova da Beira (5000 ha a 6000 ha), de Celorico (1000 ha), de Coimbra (15 000 ha) e de Cantanhede ao Vouga (35 000 ha), o abastecimento de água a dezenas de concelhos, a industrialização, a valorização do porto da Figueira da Foz e a navegação fluvial.

O nosso ilustre colega engenheiro Araújo Correia, em apêndice aos pareceres sobre as Contas Públicas, também tem defendido o aproveitamento das potencialidades do rio Tejo.

O Tejo poderá produzir energia, possibilitar a rega do Ribatejo (e do Alentejo) e permitir a navegação até ao interior da Espanha. De uma recente publicação da Hidroeléctrica Alto Alentejo extraí os seguintes números sobre as possibilidades do chamado sistema Tejo-Ocresa: