fidelidade ao culto da Pátria. Forque é directamente contra a nossa essência de povo livre que ò comunismo se levanta nesta hora decisiva. Disse-o bem claramente o Sr. Presidente do Conselho ua sua última entrevista. Ele é hoje o nosso maior inimigo, porque fez seus aliados os estrangeiros de dentro. Temos de o combater sem descanso, pois ele é a negação formal de tudo o que constitui a nossa razão de ser: Pátria livre, família, dignidade da pessoa humana, Deus.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por isso se me afigura hoje extremamente ingrata a tarefa pesada que cabe nesta Câmara a um Deputado ultramarino. E no ultramar que se jogam hoje os destinos do Portugal civilizador de povos, é no ultramar que se há-de construir o futuro da Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas um Deputado ultramarino terá de enfrentar, por isso mesmo, de ânimo resoluto, e até com raro estoicismo, toda a casta de incompreensões, de críticas acerbas e quantas vezes de doestos .que deixam chagas fundas na alma, se quiser ser sincero e dizer a verdade toda, sem a envolver em roupagens de linguagem colorida, que a desfiguram e a desvirtuam.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

de um território imenso, foram eles quem lançou os fundamentos indestrutíveis daquela realidade maravilhosa, produto do génio civilizador português, que é a província de Moçambique.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Citar aqui os seus nomes? Para quê, se homens desta têmpera de aço se sentiriam amesquinhados na sua dignidade e no seu justo orgulho de pioneiros da soberania lusíada em terras das margens distantes do Indico se medíssemos a sua alma gigante pelos padrões correntes do elogio fácil. Deixemos, pois, Srs. Deputados, que o tempo lhes renda o tributo merecido.

Mas Moçambique não pode viver hoje simplesmente do cultivo da terra. Precisa de crescer também industrialmente. Os territórios ultramarinos não podem ser hoje encarados apenas a maneira do século passado, como simples fontes de abastecimento de matérias-primas destinadas a alimentar as pujantes indústrias metropolitanas, servindo-lhes depois como centros de colocação assegurada puni os seus produtos industrializados. Temos de abrir os olhos à realidade enquanto é tempo.

E urgente, pois, que as principais matérias-primas de extracção local, como o algodão, o sisal e tantas outras, sejam, pelo menos em parte, industrializadas em Moçambique. Estuo as forças vivos daquela província ultramarina, através das suas Associações Comercial e Industrial, altamente empenhadas na tarefa, quase homérica, de vencer resistências incompreensíveis, movidas por entidades que trabalham na sombra, um trabalho de sapa persistente e aturado, extremamente difícil de destruir, para que a industrialização de Moçambique, em nível dignificante e compensador, possa ser em breve uma realidade insofismável.

Por mim considerei sempre estes impertinentes «Velhos do Restelo» que teimam em ver no progresso económico das nossas províncias ultramarinas um possível caminho, de trilho mais ou menos fácil, para a completa autodeterminação, figuras altamente prejudiciais u soberania nacional.

Sei bem que campeia à solta, ainda, infelizmente, este preconceito anacrónico e cediço em certos sectores da industrialização metropolitana. Mas temos de o combater sem descanso, numa luta árdua, certamente, mas sem tréguas nem quartel, por ser altamente desnacionalizou te. O grande, o maior problema de Moçambique, nesta hora tão dramática que vive o nosso ultramar, consiste no aproveitamento rápido, imediato, das suas imensas riquezas latentes - mineiras, agro-pecuários, hidroeléctricas, piscícolas, e tantas outras -, dando-lhes como pano de fundo a imperiosa fixação de populações laboriosas, em condições de franca produtividade, especialmente nos imensos distritos do Niassa e do Cabo Delgado.

Quando a Europa e a Ásia se debatem com a solução do problema angustiante da procura de espaço vital para a colocação dos seus excessos demográficos não faz sentido que nós tenhamos ainda aqueles vastos e férteis territórios nortenhos abertos, assim, a cobiça estranha. E não esqueçamos que o Japão tem territórios com densidade demográfica de 2500 habitantes por quilómetro quadrado e uma turbulenta Indonésia possui ilhas com a densidade média de 1800 habitantes. Além de que vivem do outro lod o da fronteira inimigos irredutíveis que nos espreitam constantemente os passos. Para mais, os primeiros embates e, porventura, os mais furibundos do terrorismo internacional no Norte de Angola foram aguentados pela valentia heróica do colono rijo, de têmpera de aço, agarrado à terra fecundada com as bagas de suor do seu rosto generoso, ao longo de anos sucessivos de canseiras e de contrariedades sem conta.

Mas, Srs. Deputados, para erguermos em bases sólidas de projecção futura esta obra tão premente e tão inadiável da valorização económica dos vastos recursos latentes da província de Moçambique são precisos muitos técnicos e são precisos também muitos capitais. É toda uma tarefa ingente de conjunto, complexa na sua estrutura e cara na sua execução, que está em perspectiva, E a fixação do colono em condições de sobrevivência franca para que a dureza do clima inclemente e a nostalgia do torrão natal distante lhe não esmoreçam a vontade decidida de vencer; é a sistemática prospecção e consequente aproveitamento da fabulosa riqueza do seu subsolo; é o aproveitamento da abundante riqueza piscícola da sua extensa costa e dos lagos Niassa e Amaramba; é o rasgar de amplas vias de comunicação que permitam o escoamento fácil e em condições económicas compensadoras de toda esta riqueza que está ainda perdida para a economia nacional. E, em suma, a urgência de uma planificação séria,