à Guarda 162,4 km de linha e 185,9 km de vias e a Viseu 223,9 km de linhas e 257,5 km de vias.
Deste modo, a percentagem de linhas e vias em relação ao total do continente era, respectivamente, de 5,1 e 5,9 para Coimbra, 4,5 e 4 para a Guarda e 6,3 e 5,6 para Viseu.
Reveste-se de algum interesse o agrupamento das freguesias dos três distritos e respectiva população (1950), segundo as distâncias ao caminho de ferro. O quadro que se segue é ilustrativo, a tal propósito, indicando as respectivas percentagens:
E das estradas e caminhos de ferro passamos à via fluvial que é o Mondego. Já se calculou uma extensão navegável potencial de 85 km. As realidades, porém, suo outras: em regra, durante dois meses no ano, poderá ser navegável por barcos até 10 t de carga numa extensão de 80 km.
O relato de Edrisi ou até a recordação dos portos fluvio-marítimos de Soure, Montemor e Coimbra, no tempo dos árabes e dos normandos, constituem hoje mera divagação sentimental.
Em conclusão: o ligeiro balanço realizado demonstra o atraso da região, ao mesmo tempo que nos permitiu salientar a sua posição modesta em confronto com os dois grandes centros de Lisboa e do Porto.
Sr. Presidente: já aqui salientei que o problema do Mondego nasceu com a sorte dos campos a jusante de Coimbra. As insuficiências do sistema determinam hoje que 15 000 ha desses campos marginais se cultivem apenas dentro do período estival e em restrito condicionalismo (cf., por exemplo, o Boletim Trimestral de Informaçãoo de Julho de 1961, da Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos).
As inundações registadas nos meses de Março a Junho são frequentes.
Os viveiros de arroz -e o arroz é já uma cultura de recurso- devem ser semeados em Abril e transplantados em Maio. Logo as cheias inutilizam os viveiros e obrigam portanto a sementeira em vez de plantação. Daqui uma diminuição no rendimento da cultura.
O milho deve ser semeado em Maio, realizando-se a colheita em Setembro. As cheias de Abril atrasam a lavoura e as sementeiras. Com o mês de Maio outras inundações trazem prejuízo às terras de milho. E quando se aproxima o Outono a ameaça de novas cheias impõe que as colheitas se façam muito cedo.
Mais grave ainda é o assoreamento.
Já na exposição que os lavradores do Mondego dirigiram em 1938 ao Sr. Presidente do Conselho se afirmava:
Ora o rio Mondego, que deveria constituir o mais importante elemento de valorização dos terrenos que o marginam, vem-os destruindo, inutilizando-os com formidáveis montões de areia que todos os anos sobre eles lança. Na verdade, já se contam por milhares de contos o valor dos terrenos que para sempre se perderam para a cultura.
Este drama encontrava-se já reflectido nas palavras do P.º Estêvão Cabral quando, em 1790, escrevia:.
Depois que o Mondego lava a cidade de Coimbra não há quem não saiba que ele entra de repente nos seus campos planos e nos mesmos corre sete léguas até ao março, mas a história destas sete léguas, se alguém com miudeza1 a escrevesse, não poderia ser senão dolorosíssima.
Já noutra oportunidade recordei nesta tribuna as seculares providências com o objectivo de evitarem os assoreamentos.
Data de 1461 a carta régia de D. Afonso V que proibia as queimadas, com a pretensão de sustar a erosão e consequente aumento do volume dos carrejos anuídos no rio
Uma determinação de 1538, no reinado de D. João III, diz respeito .à construção de um emparedamento ao longo de Coimbra. No ano de 1540 proibia-se a pesca de lampreias, para evitar que o rio fosse alombado.
Em 1565 o cardeal D. Henrique mandou estudar o encanamento do rio e em 1568 a construção de oito marachões.
Em 1791 chegou o baixo Mondego "ao último estado de perdição e abandono", e porque já em 1783 o álveo velho tinha secado e o rio corria disperso pelos campos, as areias vinham ocupar em 1790 uma área de duas léguas e seis mil palmos de largura. As terras apenas, se encontravam a quatro palmos acima das águas claras do rio. Havia muitos pauis que apenas se cultivavam em pequena parte nos meses de Julho e Agosto. [Cf. "Memória sobre os Danos do Mondego nos Campos de Coimbra", no tomo 3.º (1791) das Memórias Económicas da Academia Real de Ciências de Lisboa].
Foi esta situação que levou a encarar as soluções do P.º Estêvão Cabral.
Nasceu assim o rio novo, traçado nas antigas vargens abertas pelas águas das cheias, nos terrenos, então baixos, dos campos de S. Martinho, Taveiro, Arzila, etc., desde a quebrada grande até Montemor.
Mas a solução do P.º Estêvão Cabral, que, além do mais, ficou incompleta, não resolveu o problema.
Adolfo Loureiro (Memórias sobre o Mondego e a Barra da Figueira, 1874) refere que as maiores cheias de que houve memória no século passado foram as de 1821, 1842, 1852, 1860 e 1872.
A cheia de 1860 foi notável, tendo a água atingido o altar-mor da igreja de Santa Cruz.