No Ministério das Obras Públicas trabalhou-se intensivamente no Plano geral do Mondego, que esta já a ser apreciado pelo Conselho Superior de Obras Públicas. Os seus objectivos fundamentais foram anunciados em Coimbra em 18 de Março de 1961 pelo Sr. Ministro das Obras Públicas e visam:

A regularização das cheias e a defesa dos campos marginais do Mondego entre Coimbra e a Figueira da Foz;

A rega e o enxugo desses campos (14 930 ha); A rega dos campos que se estendem de Cantanhede ao Vouga (29 177 ha); O domínio do transporte sólido, quer na bacia do Mondego a montante de Coimbra, quer nos vales do curso inferior;

A produção de energia.

O estudo da bacia hidrográfica mostra que os escalões do alto e médio Mondego (Asse-Dasse, Vila Soeiro,. Girabolhos e Ervedal) são dominantemente hidroeléctricos. E que são as albufeiras de fins múltiplos a construir na parte inferior na Aguieira (Foz do Dão ou Caneiro-Dão) e no Alva, dominando no conjunto cerca de 76 por cento da área da bacia até Coimbra, aquelas obras primárias que permitem um ataque frontal e imediato ao problema nacional do Mondego.

De todas as albufeiras previstas, a de Girabolhos' é a que poderá vir a abastecer de água para consumos domésticos e utilizações complementares maior número de localidades.

A necessidade de escalonar as obras no tempo, embora se devam executar sem descontinuidade, levam a considerar numa primeira fase o escalão de Aguieira (Foz do Dão ou Caneiro-Dão), que, dominando o médio e alto Mondego e o Duo, garante a rega dos 50 000 ha de terras mesmo no ano mais seco e consegue luminar as cheias, o que, conjugado com a regularização de Jeitos do sistema hidráulico a jusante de Coimbra para um caudal mínimo de 4002/s., já defende os campos do Mondego contra as cheias no período de meados de Abril a 15 de Outubro, melhora as condições sanitárias de Coimbra (abastecimento de água e diluição de esgotos), reduz a subida das águas salgadas no troço fluvial-marítimo e contribui para a conservação do leito do rio e da sua foz, além de dar um apreciável contributo à redução das pontas das grandes cheias de Inverno.

Numa segunda fase atingir-se-ia a defesa das cheias em todo o ano construindo uma barragem no Alva dominando os 650 km2 da sua bacia e regularizando os leitos do baixo Mondego para uma vazão de 1200 m2/s., o que envolverá trabalhos, fluviais de maior vulto.

Com o domínio do Mondego, do Dão e do Alva pelas albufeiras de fins múltiplos a que me referi e a criação de leitos convenientemente dimensionados e marginados por diques insubmersíveis consegue-se que o hidrograma de cheias da bacia do Mondego, mesmo para a cheia centenária, não inunde Coimbra nem os campos do Mondego, por não atingir aí ponta superior a 1200 m3/s.

E esta a orientação dada aos serviços oficiais pelo Sr. Ministro das Obras Públicas, que em 18 de Março de 1961 declarou em Coimbra:

Ao cabo da 1.ª fase dos estudos concluiu-se que seria de primeira prioridade e integrar-se-ia em qualquer esquema geral de aproveitamento do Mondego a criação de uma albufeira dominando o Mondego e o Dão, com barragem na Foz do Dão (Aguieira).

Fazemos votos para que os dois primeiros escalões desta obra sejam incluídos no III Plano de Fomento e, dado o seu alto interesse social e económico, bom serão que a 1.ª fase fosse iniciada, se possível, dentro do actual Plano de Fomento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aos preços normais da electricidade é possível no sector da energia eléctrica suportar parte importante dos encargos dos escalões destinados a defesa contra cheias, o que representa grande vantagem para a economia do projecto e será de grande interesse regional.

Por isso, e para a defesa económica da região, só deve incidir sobre a parte agrícola parcela do custo das obras primárias na Aguieira (Foz do Dão ou Caneiro-Dão) e no Alva:

Todos os outros aproveitamentos do esquema geral devem ser pagos exclusivamente pelo sector eléctrico. E mesmo para as barragens da Aguieira (Foz do Dão ou Caneiro-Dão) e do Alva deverá adoptar-se a solução de sobrecarregar a parte eléctrica até no limite de investimento que ela possa razoavelmente suportar, deixando só a percentagem restante nos outros fins que o aproveitamento satisfaz.

O trabalho do plano geral considerou a valiosa contribuição dos estudos efectuados pela Companhia Eléctrica das Beiras e pela Hidroeléctrica do Zêzere e é fruto da actuação do Ministério das Obras Públicas.

Aos técnicos e funcionários que deram à elaboração do plano colaboração dedicada e entusiástica deixo aqui uma palavra de muito apreço, palavra devida em especial no director dos Serviços de Aproveitamentos Hidráulicos, engenheiro Rui Sanches, que lhe deu atenção e orientação directa e constante.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O custo total das obras incluídas no quadro I e consideradas nas primeiras fases do plano geral é estimado em l 639 000 contos, com a distribuição seguinte (em contos):

(início de tabela)

Rega e enxugo dos campos do Mondego 296 000

Rega dos campos de Cantanhede ao Vouga 503 000

Regularização de leitos do Mondego 155 000

Escalão da Aguieira 550 000

(fim de tabela)

Do custo das barragens que virão criar as albufeiras de fins múltiplos para regularização dos caudais a produção de electricidade virá a suportar a maior parte dos encargos. Segundo critérios bem fundamentados, a repartição desses encargos poderá vir a ser feita da seguinte forma:

(início de tabela)

Repartição dos encargos

(fim de tabela)